15 de outubro
O som distorcido ecoava alto, assim como a imagem borrada do programa transmitido pela televisão. Um homem de idade avançada, com um microfone em mãos, falava com a câmera, anunciando seu próximo número. Com sua cartola preta e seu pequeno bastão, ele proferia:
— Abracadabra.
Após a palavra mágica, pombos brancos voavam de dentro de sua cartola, levando a pequena plateia, e possivelmente os telespectadores de vários lugares do mundo, à loucura.
A garotinha batia palmas sozinha, com um sorriso meigo e inocente. Seus olhos transbordavam de emoção e felicidade; era tudo que ela podia sentir. Mas, diferente dela, outras emoções estavam presentes naquela estreita sala.
A imagem da televisão se apagou, surgindo logo à frente um homem com sinais de idade, pelos da barba por fazer e cabelos grisalhos. Ele levantou o cabo nas mãos, vendo os olhos da garota marejarem.
— Por que sempre faz isso, papai? — Ela encolheu seu pequeno corpo no sofá ao vê-lo se aproximar.
— Não quero lhe ver assistindo a esse programa! Já disse várias vezes! — Ele falou autoritariamente, com uma voz carregada de ódio.
— Mas eu gosto, papai. É legal. — Choramingou.
— Não vou mais repetir, não a quero vendo essas enganações! — Suspirou alto, percebendo sua grosseria e arrependendo-se do ato. Aproximou-se ainda mais da garotinha e ajoelhou-se em frente ao sofá, passando lentamente a mão em seus fios loiros e sorrindo fraco. — Quero que me entenda, ma petite. Estou fazendo isso para o seu bem. Quero que entenda a diferença entre a ilusão e a realidade. Você vai me entender um dia, minha filha.
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As imagens desapareceram, então os olhos da francesa se abriram rapidamente, assustada.
Os dias passavam rápido, e em seu trailer escuro, Melanie agarrava seus joelhos em silêncio, tentando secar as lágrimas que começavam a cair após acordar. Ela odiava sonhar com seu pai. Toda vez era a mesma sequência. Ele aparecia em seus sonhos e, após acordar, os traços de seu rosto eram apagados de sua mente. Ela queria conseguir lembrar dele.
Desde o dia do Aquário do terror, alguns shows seguiram, sempre com a mesma rotina. Aos poucos, a solidão tomava conta de Melanie. Ela acordava, ficava sozinha, ia para o palco se apresentar, e voltava para seu aposento.
Ela nunca se importou de estar sozinha, mas naqueles momentos, ela implorava mentalmente por uma presença, qualquer que fosse. Toda vez que estava no silêncio de seu compartimento, seus pensamentos intercalavam entre sua mãe, Stacy e o circo. Não conseguia pensar em nada além disso.
Os últimos dias tinham deixado ainda mais presente em seu coração a vontade de se lembrar do semblante de seu pai, pois há muito tempo ela não conseguia. Ela pensava muito em sua mãe também, algo que não era frequente. Depois que seu pai morreu, sua vida perdeu o sentido. Na primeira oportunidade que teve, decidiu ir embora de casa, deixando tudo para trás. Atravessou o oceano para se livrar dos vestígios dolorosos das memórias de seu pai. E após abandonar sua mãe, aos poucos suas ligações cessaram, dia após dia. Agora, vulnerável e arrependida de tê-la deixado, temia que o semblante dela também desaparecesse de suas lembranças. Mas, acima de tudo, tinha medo de não conseguir se despedir mais uma vez.
Melanie fechou seus olhos e o sorriso de Anastasia apareceu como imagens perdidas no tempo. Também temia esquecer o rosto da amiga. Imaginava se ela estaria longe, viva e segura, ou se já não estaria mais em vida naquele mundo.
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O circo do horror
HorrorAs cortinas se abrirão, revelando um espetáculo de terror que retornará para assombrar suas noites. Presos em uma prisão fantasma e sobrevivendo a um prazeroso pesadelo sem fim, um intrigante mágico, conhecido como Lord Price, comanda o assustador e...