Protetor

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29 de outubro

Na tenda do líder, o mágico aguardava o novo membro com seriedade, sentado em sua poltrona e com a mão ao queixo em um gesto pensativo, enquanto suas memórias vagavam.

Entre todas as lembranças, as cenas daquela fatídica noite o assombravam cada vez mais. Seu pai e sua mãe queimando juntos, sem que ele pudesse salvá-los, obrigado a testemunhar impotente a morte deles. Pois quando uma maldição é lançada, nem Deus, nem o Diabo têm poder para desfazê-la.

— Vá embora daqui — ordenou o Grande Mágico ao filho, que o observava de longe com lágrimas nos olhos, lágrimas de raiva. O homem, acorrentado por seus traidores, abraçava o corpo de sua amada, já desmaiada, enquanto ambos ardiam em chamas. — Salve-se, meu filho. Vingue-nos.

Lentamente, o garoto assentiu. Levantou-se ao ouvir os gritos dos integrantes que incendiavam toda a extensão do circo se aproximando do salão principal e foi em direção a eles. Ele honraria o último pedido de seu pai.

Os pensamentos de Price foram interrompidos quando um dos Espadas adentrou sua tenda, anunciando com a cabeça a chegada do aguardado. O mágico assentiu e arrumou sua postura na poltrona.

Collins entrou na tenda com um sorriso no rosto e foi em direção à mesa de Price. Suas vestes ainda eram simples: moletom, calça jeans e a bota velha.

— Bom dia, líder. — cumprimentou com uma reverência trivial. Jason revirou os olhos.

— Sente-se. — ordenou, e o homem logo o obedeceu. — Irônico seu comentário no dia que chegou aqui, Collins. Afinal, você também continua o mesmo.

— Posso lhe garantir que não, Price. — assegurou. — Mas há coisas que não mudam, não é mesmo? Seu toque por organização é a prova disso. — apontou ao redor, rindo.

Jason seguiu o olhar e viu que, de fato, a organização era importante para ele. Desde criança, Price sempre fora o mais organizado e calculista em suas ações, enquanto Collins bagunçava tudo e não tinha controle sobre nada. Todavia, aquilo não importava naquele momento. Vinte anos mudam muitas coisas.

— Deixando suas brincadeiras de lado, vamos ao que interessa. — cortou-o Price, levantando-se de sua poltrona. — Você foi aceito em meu circo em uma votação pelos meus integrantes. Um julgamento justo, como você propôs. Entretanto, isso não muda o fato de que, se não seguir conforme minhas regras, não viverá entre nós.

— Só isso? Não será nada difícil. —afirmou Collins, convencido. — Afinal, desde criança você ditava regras pra mim, não é mesmo?

Desde sempre, Ryan fora alguém que o idolatrava abertamente, em todas as ocasiões e atitudes que ele tinha. Onde Price estava, o garoto ia atrás, pois a admiração de uma criança tende a ser extremamente exagerada. Ele via em Price algo que nunca teria, alguém que nunca seria. Tanto porque o mágico tinha dois pais, enquanto ele nunca conhecera a sua mãe, quanto pelas habilidades de Jason se manifestarem tão cedo com a ajuda de seu pai, enquanto Collins não tinha a mesma atenção do seu próprio pai. Mas Jason nunca dera tanta importância a Ryan, pois sempre tivera sua dedicação concentrada em seguir os passos do Grande Mágico.

— O que você tem a oferecer ao meu circo?— questionou o mágico seriamente, ignorando sua pergunta.

— Bom, isso depende. Quais cargos você tem a me oferecer? — Collins rebateu de imediato. Price ficou surpreso.

— Lhe oferecer? Como quer um lugar em meu circo se nem ao menos sabe o que fazer ou tem alguma habilidade para estar nele? — questionou agressivamente, ainda incrédulo.

— Nunca pensei nisso antes de vir. Nunca tive ajuda para quaisquer habilidades, Price, talvez não saiba disso porque sempre esteve ocupado treinando para ser quem é, enquanto eu não tinha ninguém para me orientar. Meu único objetivo era voltar a viver aqui, foi a única coisa que tinha em mente. E, como você bem sabe, não foi nada fácil conseguir finalmente encontrar o circo dos horrores.

O circo do horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora