O bailado do anjo e do demônio

24 1 1
                                    

31 de outubro

Lentamente, ela forçou os olhos a se abrirem, sentindo náuseas e uma dor intensa nos músculos. A luz invadiu suas íris quando seus olhos se abriram completamente, fazendo-a piscar várias vezes até conseguir enxergar nitidamente. Olhou primeiro para o seu corpo, coberto pelo grosso cobertor, e ergueu-o, fitando a camisola de seda rosada. Lembranças vagas do que aconteceu surgiram em sua mente, acelerando seu coração. A imagem da criatura tocando-a invadiu seus pensamentos, e num impulso, ela se sentou na cama, atordoada e com a respiração pesada.

— Calma, Melly, está tudo bem. Você está segura. — A voz doce e reconfortante de Roseline soou em seus ouvidos, tranquilizando-a momentaneamente. Ela virou-se para a espanhola, que estava sentada ao seu lado com um semblante preocupado, e recuperou o fôlego. — Como você está se sentindo?

— Não muito bem, eu acho. Minha cabeça ainda dói. Como eu vim parar aqui? — questionou, olhando ao redor, percebendo que estava em seus aposentos. No entanto, não conseguia se lembrar como tinha chegado lá.

— Jason te trouxe. — respondeu simplesmente.

Então, mais cenas surgiram em sua mente. Lembrou-se do mágico chegando, atacando a criatura e salvando-a. O sangue repugnante da criatura se espalhando pelo chão, as palavras do mágico que não chegaram a ser ouvidas claramente e seu corpo sendo segurado firmemente pelos braços de Price. E logo após, desmaiou.

Melanie olhou novamente para suas vestes brancas e se perguntou se o mágico a tinha vestido daquele modo. Ela sentiu seu corpo queimar naquele exato momento. Afinal, ela tinha sido despida pela aberração, tendo partes de seu corpo expostas. Em um movimento lento, pousou a mão em seu peito e fechou os olhos com força para segurar as lágrimas. Que pesadelo terrível tinha vivido, pensou. E finalmente percebeu a sorte que teve, de certo modo, por ter a proteção do mágico, pois, caso contrário, teria sofrido o mesmo que as outras garotas comuns naquele lugar.

— Ele me vestiu? — perguntou quase em sussurro, levemente preocupada com a resposta. Roseline riu ao achar graça de sua careta e assentiu. A francesa torceu o lábio ao imaginar que o homem a tinha visto nua e a vestido, mas também se surpreendeu por ele ter praticamente cuidado dela. — Por quanto tempo estive apagada? — olhou em direção a Rose, que ainda a fitava com atenção.

— Um dia e meio. — respondeu. A francesa arregalou os olhos. — A pancada foi bem forte, e você perdeu muito sangue, além da sua pressão que se agravou bastante por conta do choque. Justin decidiu deixá-la descansar por mais um tempo.

— Entendi. — abaixou o olhar e mordeu os lábios. Roseline segurou a mão de Melanie, fazendo-a fitar seus olhos e receber uma expressão reconfortante. — Por que ele me atacou?

— Não sabemos. — disse tristemente. — Mas meu irmão alertou a todos nós, aos Espadas e aos outros Sem face, sobre o ocorrido e as consequências se viesse a se repetir. Isso não deveria ter acontecido, Melly. Eles sempre tiveram conhecimento sobre as regras em respeito aos escolhidos e integrantes principais, então, consequentemente, não sabemos o motivo desse acontecimento. Eu sinto muito.

— E o olho mestre que tanto falam? Não sabe dizer o porquê?

— Jason não comentou nada sobre ele. Parece que ninguém, nem ele mesmo, tem alguma resposta. Desculpe, Melly. — Rose terminou com um olhar cabisbaixo e com decepção em sua voz. Ela, mais do que ninguém, sentia-se mal por aquilo ter acontecido com sua única amiga daquele lugar. — Não queria que isso tivesse acontecido com você.

— Não se preocupe, Rose. — forçou um sorriso, apertando mais a mão da espanhola na sua. — Estou bem agora. — mentiu ao engolir em seco. — Foi horrível ser tocada por aquela criatura, parece que ainda sinto ela agarrando o meu corpo neste exato momento, mas graças ao Senhor, nada pior aconteceu. Ele chegou a tempo de me salvar.

O circo do horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora