O circo do horror

Nasce uma parceria

10 de novembro

Enquanto Ryan Collins caminhava pelas ruas do vilarejo, sentia os olhares pesados das pessoas sobre si. Aquela pequena cidade era onde ele havia crescido, conhecendo cada canto e segredo escondido.

Nos tempos antigos, ele era apenas um garoto invisível, oculto dos olhares alheios. Ninguém sequer imaginava que ele era o filho de um dos líderes do Freakshow. Mas, na infância, isso não era um incômodo. Com o passar dos anos, a ambição começou a crescer dentro do seu pequeno e quase puro coração. No início, ele assistia a todas as magníficas apresentações, imerso numa felicidade sem fim ao presenciar cada número. E, principalmente, ele se maravilhava com a famosa atração do circo, o Grande Mágico.

No entanto, enquanto todos os outros se apresentavam no palco, ele estava entre os espectadores, no meio da plateia. Ele sabia que era injusto. Mas a quem recorrer? Se nem seu pai o apoiava para ser um deles, ninguém o faria.

Ele queria ser parte do circo, sempre quis. Ele era parte, só não se sentia como tal. Um desejo de criança que permaneceu em seu coração até os dias atuais. Ser reconhecido, visto, adorado pelas pessoas. Receber a atenção que todos, exceto ele, sempre receberam. Finalmente, ele tinha alcançado alguns de seus desejos, sendo visto e conhecido, mas não da maneira que tanto sonhara. Agora, ele recebia a atenção que buscara por toda a vida, não por ser um dos integrantes do circo de horrores, mas por ser filho do traidor.

Ignorando os olhares maldosos em sua direção, ele mantinha seu porte intacto. Nos braços, carregava as vestes que usaria naquele dia, juntamente com seus pertences pessoais. Ele tinha vivido no mundo real, afinal. Então, ele aprendera a viver como as pessoas normais, em um corpo que pertencia ao mundo dos horrores.

Ao se aproximar da entrada do circo, viu Melanie parada de costas, abraçando o próprio corpo. Ela deixava seu olhar viajar por toda a extensão da propriedade, observando as barracas e brinquedos, sozinha e em silêncio. Assim que ele se aproximou, ela se virou e percebeu sua chegada.

— Que privilégio ter olhos para enxergar uma beleza tão exorbitante como a sua logo cedo, LeBlanc. — ele sorriu alegremente, transformando seu humor de um segundo para o outro e esbanjando divertimento.

— Bom dia para você também, senhor Collins. — ela tentou sorrir de volta, intimidada com o elogio.

— Senhor? Wow, meu respeito está começando a mudar por aqui. — ele riu de suas próprias palavras. — Por que está aqui sozinha, LeBlanc? Esperando alguém?

— Estava esperando por você. Você prometeu.

— Como não imaginei? — ele finalmente entendeu, sussurrando para si mesmo. — Vejo que meu pedido por paciência não serviu de nada, hum? — ele revirou os olhos e desfez o semblante alegre. — Não podia esperar mais um pouco, minha querida? E pelo que me lembro, não prometi nada à senhorita.

— Já se passaram dias desde que me fez esse pedido. Nunca posso chamá-lo quando estamos lá dentro, pois com o olho mestre observando não há o que esconder. Essa é minha única chance. Eu preciso vê-la, ter certeza de que ela está bem. S'il vous plait, senhor Collins.

— Ok, ok, só pare de falar. Já estou convencido. Venha comigo, LeBlanc. E vamos rápido, pois não posso me atrasar.

Melanie respirou aliviada, no fundo não pensou que seria tão fácil. Queria provar com seus próprios olhos se o que Ryan falava era verdade, se de fato Anastasia estava tão próxima de si, e ao mesmo tempo, a salvo.

Depois da conversa que teve em meio ao antigo circo incendiado com Price, ela só tinha tido uma visão ruim de Ryan, e só conseguia esperar o pior vindo dele. Filhos são a cópia fiel de seus pais, como dizia o mágico. Mas seria esse o caso de Collins? Ela se perguntava. Pois se fosse, ele entregaria cedo ou tarde a amiga para o demônio.