ᵖ ᵃ ʳ ᵗ ᵉ ²

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Eliel estava encostado na parede com os braços cruzados, observando aqueles dois humanos fazendo algo que ele jamais poderia compreender. Anjos não tem desejos como os humanos, não podem se multiplicar, não tem o dom de dar a vida. Não havia motivos nem razões para eles praticarem tal ato. Deixavam isso apenas para os seres preferidos de Deus.

Não era algo que ele gostava de presenciar, se dependesse dele não estaria ali. Mas foi lhe dada uma tarefa que custará o destino da sua vida, e aquilo dependia disso. Aquele era o momento em que a sua única salvação estava prestes a ser concebida neste mundo. E isso começava muito antes dela sair da barriga de sua mãe, Rosa.

Aurora antes de nascer não era apenas um misero espermatozoide que se aconchega no óvulo de sua mãe. Bem antes de ser isso, ela era uma junção de duas almas distintas. Então, mesmo que no mundo físico ela ainda era apenas uma célula invisível ao olho nu, no mundo espiritual ela já existia inteira e pronta para se tornar fisicamente completa.

 Então, mesmo que no mundo físico ela ainda era apenas uma célula invisível ao olho nu, no mundo espiritual ela já existia inteira e pronta para se tornar fisicamente completa

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Três meses se passaram desde que Aurora começou a existir de forma indireta no Universo. Eliel podia vê-la no mundo astral. Ela era como uma bolinha reluzente presa a um cordão umbilical na alma de sua mãe. Para onde Rosa ia, o cordão umbilical puxava a pequena bolinha atrás dela.

Mesmo naquele formato Aurora tinha consciência, mas não ciência. Ela podia sentir coisas, mas nunca distingui-las. Sendo assim, Eliel já conseguia fazer algumas coisas por ela. A preenchia de sentimentos agradáveis, que por estar diretamente ligada a sua mãe, causava os mesmo sentimentos a ela.

Certo dia Rosa sai do banheiro após um breve banho matinal para começar o seu dia. Ela passa nua em frente ao espelho do seu quarto, mas o ignora completamente. Algo diferente nela a chama a atenção, e ela volta correndo. Ao se virar de lado vê que sua barriga, um pouco abaixo do umbigo estava aumentada de tamanho.

O coração de Rosa dispara, causando um explosão de sentimentos angustiantes, tanto para ela quanto para Aurora. Eliel vê que o cordão umbilical começa a ficar vermelho em direção a Aurora e seus olhos se arregalam preocupado. Aqueles sentimentos não podiam chegar até a pequena aura indefesa, se isso acontecesse o cordão poderia ficar fraco e se partir. Sem a alma de sua mãe diretamente ligada a ela, Aurora iria desaparecer, como se nunca tivesse se quer existido.

Eliel rapidamente intervém, e põe sua mão no cordão, fazendo com que todos os sentimentos de Rosa fossem para ele e não para Aurora. Ele sente um pânico enorme em seu coração, como se estivesse prestes a morrer. O Anjo se assombra com aqueles sentimentos. Ele jamais sentira algo assim na vida. Como alguém consegue viver com isso? Ele se pergunta encarando Rosa, que chorava na frente do espelho.

Depois de alguns dias tentando digerir sua situação atual, Rosa finalmente decidiu comprar um teste de farmácia em um dia em que sua patroa a pediu para comprar seus remédios de depressão. Para o desespero de Rosa o teste deu positivo. Chorou novamente no banheiro até soluçar, e decidiu contar para Sandra sobre o ocorrido. Ela não podia esperar mais, ou seria pior.

- Senhora Sandra? - Rosa chama a mulher, interrompendo sua leitura. A patroa estava sentada na sala, em seu sofá. Ela apenas ergue seus olhos azuis para cima, olhando diretamente para o rosto amedrontado de Rosa.

- O que é?

- Podemos conversar?

- Já estamos conversando.

- Eu... E-eu...

- Desembucha menina!

- Eu estou grávida! - Rosa espreme os olhos.

Sandra continua encarando Rosa, ainda segurando seu livro na altura do rosto. Ela pensava em tudo o que já pensou um dia, mas que já foi deixado no passado a algum tempo. Que era: como é ter um bebê? Ele faz muito barulho? Ele vai correr pela casa? Vai destruir os moveis?

- Quando foi que você saiu sem o meu consentimento? - A patroa diz fechando o livro e o pousando em seu colo.

- Eu não sai.

- Oras! E da onde veio esse bebê?! Tenho certeza que não foi de um caroço de melancia que você engoliu! Você deixou um estranho entrar na minha casa?! É isso?!

- Não, senhora... - Rosa não conseguia mais olhar para a sua patroa, e já não impedia as lágrimas de caírem.

- Então como você engravidou?

- É do Marcelo, senhora... - Ela diz com a voz trêmula. - Eu e ele... Nós... Eu sinto muito... Eu não queria que isso acontecesse! - Rosa se joga nos pés de Sandra. - A senhora tem que me perdoar! Não culpe o Marcelo também! Ele havia bebido enquanto assistia ao jogo! Ele não queria ter feito isso! Foi um erro!

Sandra ignorava todas as súplicas de Rosa. Sua mente não estava mais ali, estava em outro lugar. Estava presa a uma frase. Uma dúvida. Que ecoava em sua mente como o som de um tapa ecoa em seu próprio rosto. Sua dúvida era: porque ela, e não eu?

Faziam anos que Sandra tentava ter um filho com seu marido. Já haviam tentado diversas vezes, mas jamais conseguiram. Isso os afastou de uma forma impossível de se reverter. Sua depressão que se estendia por anos se dava por conta da culpa que carregava em seu coração. Ela pensava que havia destruído seu casamento; que seu útero era podre; que ela não era uma mulher digna de ter uma criança pura e inocente em sua vida; que se não pudesse gerar uma vida não tinha valor nenhum.

Eliel sabia desses pensamentos, pois ela os escrevia em um pequeno bloco de papéis que fazia de diário e o escondia dentro de seu sutiã. De todos os pensamentos que ela tinha, apenas um deles o incomodava, que era o que ela dizia que: "se não pudesse gerar uma vida, não tinha valor". Se isso fosse verdade, qual a importância dos Anjos? Ele seriam mesmo necessários? Sua existência tem mesmo importância para Deus? E que tipo de importância tem para ele?

- Sai da minha casa. - Sandra fala com Rosa quando finalmente volta a realidade.

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ɢᴏsᴛᴏᴜ ᴅᴏ ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ? ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ ɴᴀ̃ᴏ sᴇ ᴇsǫᴜᴇᴄ̧ᴀ ᴅᴇ ᴠᴏᴛᴀʀ, ᴇ sᴇ ᴘᴏssɪ́ᴠᴇʟ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ!

Demônio Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora