ᵖ ᵃ ʳ ᵗ ᵉ ³

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Matias abandona o quarto deixando Rosa sozinha, e desce para o primeiro andar onde ficava sua igreja. A escada dava para um local que ficava atrás do palco, onde normalmente ele deixava algumas tralhas e também onde treinava seus cultos para os próximos dias.

Com o dinheiro em falta, Matias sentia que precisava mudar a sua conduta durante os cultos. Suas atuações precisavam incentivar os fieis a dar tudo o que tinham para serem salvos pelo poder de Deus. Só que ele não tinha mais ideias, então recorreu a um velho conhecido que vivia lhe pedindo favores.

Cell/On

- Fernando?

- Matias? Quanto tempo, amigo! Como você está?

- Péssimo! Estou quebrado! Viver nesse país de merda está cada dia mais difícil! Esses impostos malditos! E agora eu arranjei uma família que só tem me dado gastos desnecessários!

- Nossa, cara! Uma merda mesmo, hein?!

- Preciso que esses putos me deem mais dinheiro. Tem alguma dica? Sei lá, um pacto para conseguir dinheiro?

- Eu saí do Satanismo, agora sou ateu. Tive até que sair da cidade, porque os meus velhos companheiros querem me matar agora, acredita?! Então eu estou por fora dos assuntos, sinto muito.

- Não fode! Você tem que ter alguma coisa pra mim! Por favor!

- Bom, deixa eu ver... As pessoas são hipócritas cara, você sabe bem disso. Pode acreditar, os desejos dos seguidores de Lúcifer e de Deus são exatamente os mesmos. A única diferença é que os satanistas não usam palavras bonitas para pedirem o que realmente querem.

- O que quer dizer?

- Tem uma oração que você pode fazer antes de começar o culto. Ainda tem aqueles incensos de Mirra que te dei de presente?

- Sim.

- Você vai fazer o seguinte, diga essa prece que vou te falar durante o culto, mas só vai funcionar se o incenso estiver ascenso enquanto estiver recitando.

- Tudo bem.

- Quer anotar?

- Sim! Claro! Me dê um segundo! - Matias corre até uma mesa e apanha uma caneta e um papel. - Pode falar.

- Mammona...

- Mammona. - Matias anotava enquanto Fernando fala.

- Da mihi aurum et dabo tibi incensum Myrrha...

- Da mihi aurum et dabo tibi incensum Myrrha.

- Sicut fecerunt magi...

- Sicut fecerunt magi.

- Cum visitarent Christum puerum in Bethleem!

- Cum visitarent Christum puerum in Bethleem!

- Certo, acenda o incenso quando as pessoas chegarem e diga a elas que fará um culto que trará muita prosperidade, vida eterna e fartura. Que é basicamente dinheiro, saúde e riquezas. Conseguiu compreender?

- Sim, eu entendi perfeitamente! Muito obrigado! Eu farei isso!

- Vou desativar esse número por causa daqueles desgraçados que não param de me ligar. Então não vai mais conseguir falar comigo por ele.

- Tudo bem, me manda uma mensagem com o número novo. Não quero perder o seu contato.

- Mando sim, até breve.

- Até.

Cell/Off

Matias rapidamente abriu a igreja e acendeu o incenso quando as pessoas começaram a chegar. Seus fieis vieram, mas não eram o suficiente. Então ele subiu no palco e pegou o microfone.

- Paz do Senhor, irmãs e irmãos! - Matias os cumprimenta.

- Paz do Senhor! - Todos respondem juntos.

- Hoje é um dia especial, meu queridos irmãos. A mulher que eu amo aceitou o meu pedido de casamento, então eu estou muito feliz. Em troca, o culto de hoje nós pediremos prosperidade, saúde e fartura para todas as famílias. As que estão presentes e as que estão ausentes. Por favor, chamem seus parentes, amigos, vizinhos, para que eles possam participar e serem abençoados pelas riquezas do nosso senhor, Deus!

E foi o que as pessoas fizeram, ligaram rapidamente para os seus amigos e parentes. Em questão de minutos a igreja de Matias já não cabia mais todas aquelas pessoas. Então ele não perdeu tempo em fazer o que fazia melhor: orar.

Em meio as orações ele recitou as palavras que Fernando havia lhe dito. Ninguém entendeu suas palavras e também pouco se importaram com elas, pois já estavam acostumados com o pastor falar a língua dos "Anjos" vez ou outra. Apenas gritaram "amém" quando ele parou de falar, o que reforçou ainda mais o pedido de Matias.

Por fim o culto terminou, e chegou o momento da oferenda. Matias jamais viu tanto dinheiro em sua vida. Se ele soubesse dessa oração antes, já teria a acrescentado em seu culto a muito tempo. Todos foram embora felizes, e Matias mais ainda. Voltou para casa animado, mostrando para Rosa todo o dinheiro que havia conseguido no culto de hoje. Sua atual esposa se alegrou tanto quanto o novo marido, e sentiu um alívio sabendo que as dividas daquele mês, e dos meses anteriores, seriam todas quitadas.

Eliel estava no quarto com Aurora, dando a bebê um sono tranquilo e sonhos alegres. Algo de estranho tira a concentração de Eliel, e o faz olhar em direção a porta do quarto. O Anjo sabia que Matias havia voltado para casa, mas não era a sua presença que estava o incomodando. Ele sente uma sensação desconfortante e ouve passos pesados pela casa.

O Anjo sabia que tinha algo de errado naquela casa, mas ele não tinha certeza do que era realmente. Suas asas se arrepiam e ele anda em direção a porta. Até que uma criatura negra passa por ela, fazendo Eliel paralisar no lugar surpreso.

A criatura andava na ponta dos pés. Em seus dedos podia se ver garras cumpridas e afiadas. As penas longas de suas asas se arrastavam pelo chão. Elas estavam queimadas e destruídas, realmente em um péssimo estado. Ainda podia se ver brasas queimando em algumas penas e fumaça saindo delas.

O que parecia ser um Anjo como Eliel, vira o rosto e olha nos olhos do Anjo da Guarda de Aurora. O rosto do Anjo tinha aparência de um velho magro e cansado. Suas bochechas eram tão fundas que podiam se ver as maçãs de seu rosto. Sua boca era pequena e seus lábios estavam secos e partidos. Das pequenas fendas em sua boca esbranquiçada, transbordava um pouco de sangue.

Os olhos do anjo eram vermelhos e em volta deles era extremamente fundo e escuro, como se tivesse passado carvão ao redor de todo o globo ocular. Seus cabelos negros penteados para trás, deixava um topete na altura de sua testa grande e enrugada.

O Anjo demoníaco contorce sua boca e a abre, desgrudando seus lábios secos uns dos outros e fazendo mais sangue sair das fendas. Eliel vê seus dentes serrilhados como os de um tubarão. Estavam vermelhos, banhados em sangue. O estranho Anjo fecha a boca novamente e volta a olhar para frente, continuando seus passos vagarosos e sumindo das vistas de Eliel.

O Anjo da Guarda corre até a porta e olha para fora pelo corredor em todas as direções. O estranho das asas queimadas havia desaparecido completamente sem deixar rastros, e com ele sua presença amedrontadora.

Eliel volta a olhar para dentro, em direção ao berço de Aurora. Em seu peito ele sente um alerta, como se pudesse pressentir que ainda haviam muitas coisas macabras nesse mundo que ele não tinha conhecimento. E o pior de tudo é que elas podiam colocar toda a sua tarefa em risco.

ᘛ ••• ᘚ

ɢᴏsᴛᴏᴜ ᴅᴏ ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ? ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ ɴᴀ̃ᴏ sᴇ ᴇsǫᴜᴇᴄ̧ᴀ ᴅᴇ ᴠᴏᴛᴀʀ, sᴇ ᴘᴏssɪ́ᴠᴇʟ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ!

Demônio Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora