ᵖ ᵃ ʳ ᵗ ᵉ ⁴

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- Se acalme Matias... - Tereza tenta reconforta-lo, mas estava tão abalada quanto ele. - Vá para o seu quarto, Aurora!

- Quem morreu? - Aurora pergunta.

- Ninguém! Agora vá logo para o seu quarto!

Aurora corre até o seu quarto assustada, derrubando lágrimas pelo caminho. A menina salta em cima da cama e se enfia debaixo da coberta chorando, enquanto ouvia toda a confusão de Matias e Tereza na sala.

- Porque todo mundo está estranho comigo... - Aurora pergunta para si mesma enquanto choramingava baixinho.

- Aurora?

- Eu não fiz nada...

- Aurora?

- Eu quero a minha mãe...

- Aurora?!

- O que?

- Você vai ficar bem, não se preocupe! Eu estou aqui com você!

- Promete? - Aurora sai de debaixo da coberta olhando para Eliel que estava abaixado ao lado de sua cama. - Promete que não vai ficar longe de mim como a mamãe?

- Eu prometo por tudo o que é mais sagrado nesse mundo. - Eliel acaricia os cabelos de Aurora e depois encosta sua testa na dela.

- E o que é mais sagrado nesse mundo?

- A sua confiança.

Dia seguinte...

Aurora estava ao lado do telefone com a cabeça apoiada nos braços enquanto o encarava sem parar. Em seu peito reinava uma ansiedade infernal enquanto esperar incansavelmente por um telefonema de sua mãe.

- Senhor Matias?

- O que? - Matias tira os olhos da TV e olha para Aurora.

- Eu posso ligar para a minha mãe?

- Não.

- Porque? - Os olhos de Aurora se enchem de lágrimas.

- Porque ela está ocupada demais para falar com você. Eu não disse que ela está trabalhando?

- Mas minha mãe não trabalha direto assim! Ela tem que voltar pra casa!

- Ela não vai mais voltar, ta bom?! - Matias diz perdendo o controle.

- Não diga nada a ela... - Eliel sussurra para Matias no mundo astral quando percebe o rumo da conversa.

- Porque ela não vai mais voltar? - Aurora pergunta temerosa com a resposta de Matias.

- Por favor, não... - O Anjo insiste olhando para os dois sem poder fazer nada.

- Porque ela morreu! - Matias grita.

Eliel olha assustado para Aurora na mesma hora, e vê a aura dela ficar azul escuro. A garotinha leva a mão ao peito e aperta sua blusa, sentindo uma dor terrível no peito.

- Mentira!

- Sua mãe morreu, Aurora... - Matias suspira frustrado. - E hoje será o enterro dela...

- É mentira! - Aurora passa por Matias chorando. - Seu mentiroso! Minha mãe não morreu...

Aurora corre para o seu quarto e se senta no canto chorando. Ela se encolhe juntando seus joelhos próximos ao seu peito. A menina sente um aperto doloroso em seu coração, e um pavor percorre suas entranhas.

- Minha mãe não morreu... É mentira... É mentira... Mamãe... Mamãe... Eu quero a minha mãe... Eu quero a minha mãe...

Eliel vê a aura de Aurora ser consumida por uma escuridão tão sombria que o fez perder a cabeça. Ele se aproxima dela rapidamente e segura no rosto dela para tentar acalma-la.

- Não, Aurora! Não deixe isso te consumir!

- Vai embora!!! - Aurora empurra Eliel. - Eu quero ficar sozinha!!!

- Não, por favor... - Eliel diz desesperado. - Eu prometi a você...

- Eu quero a minha mãe... - Aurora abaixa a cabeça soluçando de tanto chorar.

O que Eliel vê faz o coração dele se quebrar em pedaços. Era como se Aurora tivesse caído em um abismo profundo e sombrio. Ele tenta toca-la novamente, mas aquela sombra escura que cercava a aura de Aurora o afasta de perto dela.

Ele lutou tanto para evitar isso, mas o que ele mais temia aconteceu. Tira-la de uma angústia repentina era trabalhoso, mas era possível, só que isso era demais para ele. Agora ela estava presa nas mesmas trevas que sua mãe esteve um dia, e ele não fazia a mínima ideia de como iria tira-la dali.

Enquanto ela estivesse ali Aurora não podia vê-lo, nem senti-lo, muito menos toca-lo. Era como se ele simplesmente não existisse mais para ela. A mente de Aurora agora estava consumida por uma angústia indescritível. Agora ela seria indiferentes para a maioria das coisas, deixando-as cair no esquecimento, inclusive Eliel.

Eliel não podia permitir que isso acontecesse, ele precisava de Aurora tanto quanto ela dele. Aquilo não era mais uma tarefa, havia se tornado a razão da existência de Eliel. Como se a cada batida do coração de Aurora desse ao Anjo um motivo para existir.

Eliel bate suas asas em direção ao céu, completamente inconformado com tudo o que estava acontecendo. Ele havia perdido o controle de sua tarefa. Estava tudo desmoronando em cima de si, e ele não podia fazer nada para impedir.

Enquanto voava, Eliel se perguntava o que ele havia feito de errado. Será que seu pedido a Deus não foi tão convincente? Será que ele deveria ter implorado mais? Talvez ele devesse implorar mais nas próximas vezes. Talvez devesse ter mais fé em Deus. Talvez se ele não fosse tão confiante de si, isso não teria acontecido com Aurora.

Ele não tinha dúvidas de que era tudo culpa dele. Ele era um péssimo Anjo da Guarda. Aurora sem dúvidas estaria melhor sem ele em sua vida, ele pensava. Talvez se ele permanecesse distante de Aurora fosse o melhor para ela.

Eliel voa pelo céu sem rumo, completamente perdido em seus pensamentos. Ele queria fazer o mesmo que os humanos fazem quando se deparam com uma situação angustiante: fugir. Mas para onde ele fugiria? Para onde quer que olhasse naquele mundo havia sofrimento, não havia nenhum lugar ali que ele pudesse se esconder disso.

O Anjo chega até o mar e encontra uma ilha isolada no meio dele. Ele já esteve nessa ilha diversas vezes, pois ele gostava do precipício que tinha nela. Era uma parede de pedras tão alta que alcançava as nuvens, e logo a baixo dela estava o mar.

Eliel pousa na beirada do precipício, mas suas pernas falham e ele cai de joelhos. O Anjo encosta sua cabeça no chão, se sentindo completamente frustrado. Ele da socos no chão e deixa lágrimas escaparem de seus olhos.

- Porque... Porque.... Porque... - Eliel ergue sua cabeça para o céu. - PORQUE????!!!! Eu implorei para você salva-la! Porque você não fez o que eu te pedi?! Eu implorei!!! Isso não significa nada para você?!

Eliel olha para trás e vê o precipício. Ele corre até lá e se joga da ponta em direção ao mar. Seu corpo despenca velozmente e se choca contra a água, afundando lentamente enquanto ele encarava a escuridão do fundo do mar. Aquela profundeza sombria o engolia aos poucos, enquanto ele ia perdendo sua visão.

Só o que o Anjo queria era que alguém o disse o que deveria fazer para tirar Aurora daquela angústia profunda. Ele sabia que o único que tinha a resposta para isso era Deus, mas Deus não estava falando com ninguém. Eliel precisava fazer Deus falar de novo. Ele tinha que livrar Aurora das trevas a qualquer custo.

Eliel abre seus olhos e bate suas asas para fora da água. Suas asas tinham uma proteção que não permitia que elas ficassem encharcadas, como o óleo impermeabilizante de algumas aves aquáticas. Ele voa para fora do mar, as gotículas de água que se espalham pelo céu brilham quando os raios do Sol passa por elas. Eliel bate suas asas deixando um rastro de água para trás, e se livrando de toda a água em suas penas platinadas.

ᘛ ••• ᘚ

ɢᴏsᴛᴏᴜ ᴅᴏ ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ? ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ ɴᴀ̃ᴏ sᴇ ᴇsǫᴜᴇᴄ̧ᴀ ᴅᴇ ᴠᴏᴛᴀʀ, ᴇ sᴇ ᴘᴏssɪ́ᴠᴇʟ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ!

Demônio Da GuardaOnde histórias criam vida. Descubra agora