Demônio Da Guarda

ᵖ ᵃ ʳ ᵗ ᵉ ²

- Um anjo?

- Sim, eu o vejo toda vez antes de perder a consciência.

- Talvez você sofra de algum surto psicótico.

- Como assim?

- Por exemplo, você passa por uma emoção muito forte, o surto psicótico é ativado, mas logo em seguida você desmaia.

- Nossa... Eu estou pior do que eu pensava... - Aurora limpa seus olhos.

- Saberia descrever esse anjo que você vê?

- Ah, eu não tenho certeza... Acho que ele me lembra o anjo que eu criei quando era criança... Todo mundo dizia que eu falava de um anjo, mas eu nem me lembro mais dele direito...

- O Eliel.

- Isso! Ele tem as asas platinadas, cabelo preto com uma mexa branca bem aqui, e seus olhos são verde-água.

- Porque você acha que criou esse anjo?

- Talvez porque eu me sentia solitária, não sei...

- Isso pode nos ajudar na sua recuperação. - Cecília se levanta. - Mas vai ficar para a próxima sessão. Posso voltar semana que vem?

- Pode sim.

- Tudo bem, então semana que vem vamos falar sobre isso e me diga o que está achando dos remédios.

- Sim senhora.

- Então boa noite, Aurora. Até semana que vem.

- Boa noite, Dra. Cecília, até!

•••

Já era madrugada e Aurora estava bem acordada ainda. Não havia conseguido dormir, apenas revirava de um lado na cama. A chuva que caía do lado de fora não era forte o suficiente para abafar o barulho dos seus pensamentos. A menina então apanha seu MP4 debaixo do travesseiro e coloca os fones de ouvido.

Aurora coloca uma de suas música preferidas para tocar. Ela a ouvia sempre que se sentia de determinada forma. Nome da música era "Lágrimas e Chuva" da banda "Kid Abelha".

- Eu perco o sono e choro... Sei que quase desespero... Mas não sei por quê... A noite é muito longa... Eu sou capaz de certas coisas... Que eu não quis fazer... Será que alguma coisa... Nisso tudo faz sentido? A vida é sempre um risco... Eu tenho medo... Lágrimas e chuva... Molham o vidro da janela... Mas ninguém me vê... O mundo é muito injusto... Eu dou plantão dos meus problemas... Que eu quero esquecer... Será que existe alguém... Ou algum motivo importante... Que justifique a vida... Ou pelo menos esse instante... Eu vou contando as horas... E fico ouvindo passos... Quem sabe o fim da história... De mil e uma noites... De suspense no meu quarto...

Aurora cantarolava baixinho para não acordar Matias enquanto dançava apenas com suas mãos o ritmo animado da música. Sem perceber ela finalmente acaba adormecendo.

Horas depois...

Aurora estava na sala de aula prestes a começar a fazer a atividade que o professor de química havia passado, quando uma carteira é empurrada até se juntar a dela. Aurora olha para o lado ela vê Ítalo.

- O que está fazendo? - Aurora pergunta tímida.

- A professora deixou fazer essa atividade em dupla, você não ouviu? - Ítalo fala apontando para a professora e Aurora nega com a cabeça. - Se você quiser eu posso ir fazer com outra pessoa, não tem problema...

- Não! Tudo bem... Pode ficar... Eu não tinha escutado mesmo... Estava distraída...

- Ufa! Ainda bem. Porque eu só queria fazer dupla com você mesmo.

- Entendi... - Aurora desvia o olhar tentando conter um sorriso.

- Você é bastante distraída, né?

- As vezes...

- É que eu fico reparando em você e te vejo o tempo todo olhando pela janela. O que você olha tanto lá fora?

- Ah sei la... Os pássaros...

- Entendi. - Ítalo sorri. - Sabe... Você me deixa uma pouco nervoso as vezes...

- Te deixo nervoso?

- Sim, acho que é porque você é muito bonita...

- Não precisa mentir... Eu sei que não sou... A Daniela e as amigas delas jogam isso na minha cara todos os dias...

- Elas estão com inveja de você, por isso fazem isso.

- Inveja de mim?! Mas eu não tenho nada de invejável... Eu sou ridícula...

- Claro que não! Você é a menina mais bonita dessa sala... Mentira, da sala não, da escola inteira!

- Ata! - Aurora ri envergonhada. - Vamos fazer a atividade, é melhor.

- Ta bom. - Ítalo sorri também. - Mas eu to falando sério, você é a menina mais bonita que eu já vi nessa escola.

- Se você diz...

- E relaxa, eu não vou mais deixar a Daniela nem as amigas dela te incomodarem.

- Por favor, não faça nada estúpido!

- Não vou, eu juro. Mas vai ter que me aturar todos os dias no intervalo.

- Você não joga bola no intervalo?

- Jogo, mas vale a pena ficar sem jogar bola por você.

- Então tá... - Aurora tenta conter um sorriso tímido.

Eliel estava de braços cruzados enquanto encarava Ítalo. A aura dele tinha uma cor muito preocupante. Era roxa. O Anjo pensava que a cor preta na aura era a pior de todas, até conhecer a cor roxa de Ítalo. Aquele roxo parecia um tom sem vida, mas para Eliel significava muitas coisas. No roxo de Ítalo havia a escuridão da apatia, o azul da tristeza e o vermelho da raiva.

Ele também podia ver pelo mundo astral o quanto a aura de Aurora atraía auras como as de Ítalo, e vice versa. Ele era um predador e ela era uma coelhinha frágil e submissa. Para Eliel era mais do que óbvio que alguém como o Ítalo só queria usar a Aurora para o que bem quisesse. E como Aurora estava em uma situação bastante delicada, qualquer coisa convincente o suficiente capaz de vibrar seu coração servia para ela.

Eliel não iria permitir isso. Alguém como o Ítalo seria o fim da linha para Aurora. Ele iria sugar as últimas energias boas que ela tinha para depois abandona-la. O Anjo tinha certeza absoluta que Aurora não iria suportar mais uma situação em que se sentisse abandonada, principalmente vindo de alguém como o Ítalo. Alguém que finge se importar apenas para te conquistar, a depois te despreza como se nunca tivesse te conhecido.

Ele teria que pensar em uma solução definitiva para tudo isso de uma vez por todas. Eliel estava tão cansado quanto Aurora, estava disposto a fazer qualquer coisa para dar um basta nessa história. E suplicar a Deus outra vez já não estava mais em seus planos.

ᘛ ••• ᘚ

ɢᴏsᴛᴏᴜ ᴅᴏ ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ? ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ ɴᴀ̃ᴏ sᴇ ᴇsǫᴜᴇᴄ̧ᴀ ᴅᴇ ᴠᴏᴛᴀʀ, ᴇ sᴇ ᴘᴏssɪ́ᴠᴇʟ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ!