Demônio Da Guarda

ᵖ ᵃ ʳ ᵗ ᵉ ²

Um mês depois...

Depois de saber de toda a verdade, as crises de ansiedade de Aurora ficaram pior. Ela desenvolvendo agorafobia, que era um medo irracional de sair de casa.

Ela não tinha mais no que se agarrar. Sua mãe havia morrido, sua melhor amiga se mudou, sua professora que tanto era apegada estava longe, seu padrasto havia cometido suicídio, dona Rita era idosa demais para sair de casa, a Dra. Cecília já fazia tudo o que podia para ajuda-la, e Deus havia criado os humanos apenas para se divertir com o sofrimento deles.

Nada mais importava ou se quer fazia sentido. Aurora se sentia completamente sozinha após saber que não fazia parte de todo o terror que havia na Terra, mesmo tendo Eliel ao seu lado dia e noite.

- Está acordada?

- Sim... - Aurora boceja e se vira para Eliel. - Eu não consegui dormir... De novo...

- Quer tentar sair hoje?

- Pra que?

- Você não pode ficar presa dentro de casa para sempre. Tem um mundo inteiro e bonito lá fora.

- Eu moro na cidade, não tem nada bonito em prédios e asfaltos...

- Então vá a algum lugar que possa ter contato com a natureza e com os animais. Acho que é a única coisa pura que sobrou nesse planeta.

- Você já está aqui a dezenove anos, sabe bem que os humanos precisam de dinheiro se quiserem sair pra qualquer lugar... - Aurora se levanta da cama e vai até a cozinha.

- Isso é algo que eu nunca vi sentido... Trocar um pedaço de papel colorido por um carro ou qualquer outra coisa?!

- Bem vindo ao mundo dos humanos... - Aurora morde um biscoito, mas logo leva sua mão a boca. - Eu odeio esse enjoou...

- É a sua ansiedade?

- Sim... - Aurora espreme seus olhos, contendo suas lágrimas de caírem e suspira. - Eu estou tão cansada...

- Cansada de que?

- Mentalmente, Eliel. Eu estou cansada mentalmente... - Aurora toma um copo de água, a única coisa que desceu pela sua garganta nessa manhã. - Você com certeza não tem esse tipo de cansaço já que sabe de tantas coisas e parece não se importar com elas.

- Você está errada. - Eliel encara Aurora. - Estou cansado de te ver assim e não poder fazer nada. Você diz que eu ajudo, mas eu não sinto que estou ajudando.

- Não começa com esse assunto de novo, por favor... - Aurora passa a mão no rosto.

- Você tem que sair, Aurora! Senão você nunca vai melhorar!

- Como eu posso melhorar depois de saber o que você me contou?!

- Mas foi você quem quis saber a verdade.

- Sim, só que você deveria ter pensado duas vezes antes de me dizer. Talvez se nós humanos já não nascemos sabendo disso, é porque nunca deveríamos saber!

- Vocês já não nascem sabendo nada, vão descobrindo o mundo com o tempo, porque isso seria diferente?

- Porque isso é demais, Eliel!

- Está me dizendo que você preferia continuar vivendo numa mentira?

- Talvez se eu estivesse vivendo nessa mentira, eu não estaria assim!

Eliel encara Aurora surpreso e ela o encara de volta.

- Como pode dizer isso, Aurora?! Eu te libertei desse mundo! Agora você pode viver livremente no seu próprio mundo!