A primeira pessoa que Rosa recorreu depois de ser expulsa da casa da família Pereira, foi a mesma que a havia levado para a cidade grande. Por sorte a amiga de sua mãe não morava tão longe dali. Depois de quarenta minutos de caminhada, ela finalmente chegou na casa de Fabíola.
Rosa bate na porta e após alguns minutos Fabíola quem abre o portão. Ela repara que a velha colega estava com um olho roxo, mas tentava esconde-lo com uma mexa de seu cabelo laranja desbotado. As duas se encaram surpresas, ambas estavam em péssimo estado. Tanto físico quanto emocional.
- O que você quer? - Fabíola pergunta para Rosa.
- Você está bem?
- Sim... - Fabíola acena com a cabeça rapidamente, tentando esconder seu olho roxo atrás do portão.
- Eu posso entrar?
- Agora não dá, Rosa, meu marido está em casa.
- Ah...
- O que é essa mala? Vai viajar?
- Não, os Pereira me dispensaram. Agora eu não tenho para onde ir.
- Aluga um quitinete com o dinheiro que eles te pagaram, ué! Tenho certeza que dá para fazer isso...
- Eles não me pagaram.
- Como assim?!
- FABÍOLA?! PORQUE ESTÁ DEMORANDO TANTO?! ONDE ESTÁ A MINHA JANTA SUA PREGUIÇOSA?!
Rosa olha para dentro da casa quando ouve a voz do marido de Fabíola, e ela faz o mesmo. Com medo do que seu marido podia fazer com ela se demorasse mais um pouco ali, Fabíola começa o fechar o protão instintivamente.
- Me deixe ficar na sua casa, por favor! - Rosa impede que ela feche o portão. - É só por alguns dias até eu conseguir outro emprego! Eu arrumo sua casa e faço comida! Não vou te dar trabalho algum! Eu juro!
- Desculpe, Rosa, mas eu não posso. Essa casa é do meu marido... - Fabíola tenta fechar o portão novamente.
- Eu estou grávida! - Rosa usa sua última carta para conseguir a compaixão da velha colega.
- O que?! - Fabíola sai na rua e fecha o portão. - De quem é essa criança, Rosa??
- Do Marcelo.
- O seu patrão?! Meu Deus, Rosa! Ele te estuprou?
- Não...
- Minha nossa senhora de Fátima... O que você vai fazer agora??
- Eu não sei... - Rosa se afoga no choro novamente.
- Eu sinto muito, queria mesmo poder te ajudar. - Fabíola esfrega suas mãos nas costas de Rosa. - E mesmo que meu marido deixasse você ficar aqui, você não iria querer morar nessa casa com ele.
As palavras de Fabíola não eram tão sinceras assim. A verdade é que ela morria de medo de perder o seu marido e acabar na rua como Rosa. Sabia que se a colocasse dentro de casa, seu marido sem dúvidas iria deseja-la, justamente por ser mais bonita e mais jovem que ela.
Fabíola era agredida constantemente por seu marido, mas ela tinha um teto e comida enquanto vivesse com ele, então não tinha motivos para reclamar. Sua criação foi de sempre dar valor a um homem que trabalha fora põe comida dentro de casa. Esses eram os homens que sua família considerava o casamento perfeito. Se o homem alimenta sua esposa, então não interessa se a mesma está feliz ou triste, estar de barriga cheia era o que importava de fato.
- Eu entendo. - Rosa fala angustiada. - Você poderia pelo menos me emprestar um dinheiro? Eu juro que devolvo tudo assim que eu voltar a trabalhar.
- E o que fará com esse dinheiro?
- Irei voltar para a casa da minha mãe.
- Aquele lugar é um fim de mundo, Rosa! Não vai conseguir emprego lá, foi por isso que viemos para Belo Horizonte. E também, você não pode voltar para casa assim. - Fabíola se refere a gravidez indesejada de Rosa. - O que seus pais diriam? Você arrumou, agora precisa dar um jeito de cuidar!
O que Fabíola diz não ajuda nem um pouco, e pesa ainda mais a consciência de Rosa. Que no momento ela estava pensando seriamente que seria melhor estar morta do que passando por isso.
Eliel presenciava tudo. Estava sempre ali como uma sombra. Segurando o cordão umbilical. Garantindo com suas próprias mãos que nenhum sentimento negativo de Rosa chegasse até a sua filha.
- E para onde eu vou?
- Você não tem nenhuma amiga, namorado, sei la?
- Não, eu não tinha muito tempo para sair de casa. Meus patrões não deixavam.
- Bom, você precisa achar um lugar então...
- Fabíola? - Uma voz masculina chama a atenção das duas mulheres, que olham em direção ao portão e veem um homem as observando. Era o marido de Fabíola.
- Eu já estava entrando, querido. - Ela responde com a voz trêmula.
- Quem é essa mulher?
- Uma amiga. Eu a trouxe comigo para a cidade quando ela era mais nova.
- Não vai convida-la para entrar? - O marido de Fabíola tinha um sorriso de malícia no canto de seus lábios, e olhava Rosa dos pés a cabeça com desejo.
Fabíola conhecia muito bem aquele olhar. Ela já havia se acostumado de ver seu marido olhando dessa forma para outras mulheres na rua. O que confirma ainda mais o que ela havia pensado sobre permitir que Rosa morasse com eles.
- Não, ela com pressa... - Fabíola olha para Rosa como se a expulsasse com o olhar. - Não está?
- Sim... - Rosa diz com um nó na garganta. - Obrigada, Fabíola, foi bom te rever.
Fabíola entra para a sua casa juntamente com seu marido e batem com o portão. Rosa sai andando sem rumo enquanto se sentia cada vez mais pequena e inútil. Pensou até em entrar na frente de algum carro, mas era medrosa demais para cometer tal ato tão covarde e hediondo quanto esse.
A noite já havia dominado a cidade, e as únicas coisas que permaneciam funcionando eram casas noturnas, bares e igrejas. Havia um cantinho de fuga para todos. Para os orgulhosos, para os revoltados e para os angustiados.
Em uma das igrejas que Rosa passa na porta, um homem falando ao microfone chama a sua atenção. Ela para na entrada e aperta a mala em suas mãos, enquanto ouvia atentamente as palavras daquele desconhecido.
ᘛ ••• ᘚ
ɢᴏsᴛᴏᴜ ᴅᴏ ᴄᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ? ᴇɴᴛᴀ̃ᴏ ɴᴀ̃ᴏ sᴇ ᴇsǫᴜᴇᴄ̧ᴀ ᴅᴇ ᴠᴏᴛᴀʀ, ᴇ sᴇ ᴘᴏssɪ́ᴠᴇʟ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴀʀ!
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Demônio Da Guarda
Fantastik{AUTORAL - PLÁGIO É CRIME!} Livro de total autoria! É especialmente proíbido copia e/ou adaptação da mesma! Qualquer coisa encontrada referente a este livro FORA do Perfil: @SkyllineBlack, será levado diretamente a JUSTIÇA! {ATENÇÃO} Este livro é de...