Parte Um: Capítulo 1 - Dean

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Não tinha nada que eu odiasse mais que calmaria antes da tempestade.

Dias se passaram desde que os Portões do Inferno se abriram e até então, nenhum sinal de demônio em lugar nenhum. Para qualquer caçador, aquilo era mau sinal, mas sabíamos que poderia ser muito pior.

– Qual é o problema deles? O que tão esperando? – olhei para Sam por um momento enquanto entrava no quarto de hotel.

Uma espelunca, melhor dizendo, mas uma cama ruim e com marcas questionáveis nos lençóis ainda era mais confortável que dormir dentro da Baby.

– Eu sei lá – ele suspirou enquanto entrava logo atrás, fechando a porta e a trancando. – Mas essa demora não deve ser nada boa, eles devem estar planejando alguma coisa.

– Isso é bem óbvio – deixei minha mochila no chão e me joguei na cama, tentando descansar por uns segundos. – Odeio esperar. Por que eles não vêm logo pra cima?

– Cuidado com o que você deseja. A gente não sabe o que passou por aqueles portões, Dean. Se os outros caçadores não fossem tão antissociais, poderíamos nos juntar pra caçar todos eles mais rápido.

– Duvido muito que os outros caçadores queiram se juntar com a gente depois do que rolou.

Eu me obriguei a me sentar na cama para reunir coragem para tomar um banho antes de dormir um pouco, e logo vi que Sam se sentou à mesa perto da janela, ligando seu notebook.

– Minha nossa, Sammy, já vai procurar trabalho? – perguntei enquanto me livrava das minhas camisas.

– É – deu de ombros. – Quanto antes nós encontrarmos eles, melhor.

Eu estava cansado demais para continuar e acabar discutindo à toa. Me enfiei embaixo do chuveiro do hotel, deixando a água quente relaxar os meus músculos e, com alguma sorte, diminuir meu cansaço.

Me joguei na cama depois e simplesmente apaguei enquanto Sam ainda procurava por trabalho. Não queria sonhar com nada, queria um sono rápido e fácil. Imaginei que a minha cabeça colaboraria com isso, mas não.

Claro que não seria fácil assim.

Acordei no meio da madrugada depois de um pesadelo maldito, onde era perseguido por algo que não conseguia ver. Me sentei na cama, no escuro, percebendo, pela silhueta, que Sam estava dormindo na cama ao lado, muito para o meu alívio.

Tateei meu celular na mesinha de cabeceira e ele marcava exatamente 3h33 da madrugada, uma hora bem esquisita. Me deitei de novo na esperança de conseguir algum descanso, mas nada veio. Apenas me revirei de um lado para o outro até que Sam acordasse e eu enfim desistisse de dormir.

– Então... – Sam chamou minha atenção quando voltou para o quarto, trazendo o que parecia ser o café da manhã dos campeões: dois copos grandes de café e algumas rosquinhas, algo bem ''saudável'' que com certeza não era o tipo de coisa que ele compraria pra gente logo de manhã. – Achei um possível caso pra gente.

– É? – franzi o cenho, pegando um dos copos e tomando alguns goles para que a cafeína me acordasse.

– Três ataques de animal, em Charming.

– Charming? – o encarei.

– Califórnia – ele sorriu, se sentando na cama à minha frente.

– Jesus, vai ser uma viagem daquelas...

– É, mas são três ataques em sequência sendo atribuídos a um animal selvagem que ninguém identificou até agora.

– Vampiro?

– É uma possibilidade.

– Vampiro na Califórnia – eu ri. – Essa é boa.

– Vale a pena checar – deu de ombros.

– Considerando que dá umas oito horas de viagem, espero mesmo que valha. Não quero gastar gasolina por nada.

Havia algo positivo em uma viagem longa daquelas para uma cidade onde eu nunca pisei antes: sol. Finalmente iríamos para uma cidade ensolarada. Califórnia! A porcaria de um caso na Califórnia, uma benção!

Nunca na minha vida eu dirigi tão rápido por causa de um caso. Só de pensar no sol no rosto e na possibilidade de talvez, só talvez, escapar de problemas e casos por dois segundos e enfiar os pés em uma praia, qualquer uma, já era o suficiente para me animar.

Porque eu me recusava a morrer sem nunca ter ido à praia.

Quando enfim avistei a placa de boas-vindas da cidade, senti uma pontinha de otimismo. Mataria quantos vampiros estivessem lá só pra ir para a praia mais cedo e encher a cara de cerveja, nem me importaria com a ressaca.

Nos hospedamos no primeiro hotel que vi. Pegamos nossas mochilas e logo procuramos pelos ternos. Seria estranho nos passarmos por agentes do FBI em uma cidade que mais se parecia um ovo de tão pequena que era, mas era a saída mais rápida para a gente.

Depois de nos engomarmos e nos equiparmos devidamente com óculos de sol – e eu nunca estive tão feliz em usar óculos de sol na minha vida – nos encaminhamos ao departamento de polícia da cidade.

Sendo uma cidade pequena, não foi nenhuma surpresa ver que o departamento de polícia tinha pouca gente, e que o chefe de polícia já tinha idade, também.

– Wayne Unser – estendeu a mão para nos cumprimentar. – O que o FBI está fazendo aqui?

Direto ao ponto, melhor do que imaginei.

– Estamos investigando as mortes recentes relacionadas a ataques de animais – eu disse.

– Por que o FBI estaria interessado nisso? – nos entreolhou.

– Precisamos nos certificar de que realmente se tratam de ataques de animal e não seja algo feito por um assassino serial em potencial.

A resposta de Sam provocou algumas reações desconfiadas. Unser trocou olhares com outros policiais, mas acabou assentindo.

– Hale, se você não se importar...

Outro policial, bem mais novo e com cara de poucos amigos, se apresentou a nós e nos conduziu ao seu escritório, onde poderíamos ficar para estudar os relatórios sobre os casos.

O que mais nos interessava, claro, era o da perícia, mas o que constava naqueles relatórios não ajudava em nada a nossa investigação.

– A última vítima ainda está no necrotério? – perguntei à Hale.

Mais andança pela cidade ensolarada, direto para o hospital. Cada saída do carro pra mim era uma vitória.

– Você tá bem animado hoje – Sam chamou a minha atenção.

– E por que não estaria? Sol, maninho, sol. Tem coisa mais linda que um dia quente e ensolarado?

– Tenta não parecer tão animado assim no necrotério ou vão pensar que você é louco.

Chegando no hospital Saint Thomas, nos dirigimos à recepção para fazer o teatro de sempre.

– Agentes Page e Plant, FBI – nos apresentei, ambos mostrando os distintivos falsos, no que a jovem atendente logo arregalou os olhos. – Estamos investigando os casos de ataques de animais e gostaríamos de ver a última vítima.

Não foi difícil atrair alguns olhares ali. Obviamente não era por eu ser bonitão, mas não imaginava que teria tanta gente surpresa em ter o FBI na cidade. Era algo assim tão raro?

Fomos conduzidos para o necrotério alguns minutos depois, nós dois passando por uma médica que conversava com um loiro de colete, provavelmente um cara de motoclube. Nos emblemas de seu colete lia-se: V. Presidente, Men of Mayhem, Redwood Original.

Assim que me viu, ele me mediu da cabeça aos pés, fechando a cara de imediato, no que a médica morena, uma verdadeira gata digna de arrancar suspiros, pareceu estranhar seu comportamento.

Sujeitinho gente fina.

Seguimos a enfermeira até a nossa área de interesse, onde encontramos o médico legista. Era hora de pôr as mãos na massa.

Bad CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora