Perdi as contas de quantas vezes tinha trocado de carro em dois meses. Daisy queria muito roubar carros nada baratos ou discretos, mesmo motos, mas eu não deixei que fizesse isso, o que me rendeu muita dor de cabeça com ela.
Ainda assim, consegui convencer a maldita a se contentar com um Toyota Corolla prata que ela amaldiçoou de todas as formas por ser ''muito feio''.
Em compensação, como retaliação, ela estava se acabando de comer cheeseburgers e cebolas fritas, sentada de mau jeito com os pés no painel.
– Não quer mesmo comer, Samuel? – ofereceu o cheeseburger mordido e eu revirei os olhos, negando. – Ai, como você é chato, passa fome à toa.
– Não tô passando fome, só não quero nada que tenha passado pela sua boca – engoli a seco.
– Hunf. Tá bom, então, durão, fica aí com fome – e deu uma bocada no cheeseburger, pegando um punhado de batatas fritas da caixinha em seu colo e comendo em seguida.
Parte de mim queria ceder à gordura potencialmente letal daquela porcaria, mas não daria o braço a torcer por ela pra que ela se sentisse vitoriosa. Ela gostava muito de fazer aquilo, pequenas torturas psicológicas para testar minha paciência e ver o quanto eu aguentaria.
Gostava de pensar que estava me saindo bem, deixando ela falar sozinha pelos cotovelos quando queria reclamar, mas a verdade é que era difícil controlar um Cavaleiro do Inferno ensandecido pelo calor da matança quando ela começava a caçar comigo.
Porque em alguns momentos, e não foram poucos, ela esteve muito perto de matar gente inocente, as pessoas que eu deveria salvar dos monstros.
E não foram poucas as vezes que quis vir pra cima de mim e pareceu se controlar ao máximo para não me matar, o que lhe causava grande desconforto, ou ao menos parecia causar.
O aspecto brincalhão dela começou a sumir de repente depois que terminou de comer, o que eu notei quando ela tirou os pés de cima do painel e sua cara ficou mais séria.
– Vai vomitar? – temi pelo pior. Ela não respondeu. – Daisy?
Ela segurou minha mão direita de repente, colocando minha mão em sua barriga. Por um momento fiquei com medo.
– Eu tô imaginando coisas ou ela tá me chutando?
Diminuí a velocidade do carro, parando no acostamento pra conseguir me concentrar na situação. Não senti nada no começo, tateando a área que ela indicou, e logo imaginei que fosse apenas impressão dela.
Mas daí senti algo se chocando contra a minha mão e a afastei por instinto. Daisy não se importou com o meu incômodo, parecia processar o que estava sentindo, ainda, mas eu não sabia o que deveria sentir. Era uma criança metade demônio, eu não deveria sentir compaixão por isso.
Mas ainda havia um lado humano naquela coisinha, e algo na minha cabeça me dizia que não deveria querer matar alguém que nem podia se defender, e que não tinha culpa de ser do jeito que era. Alguém que cresceria sabendo que o próprio pai tentou matá-la e matou sua mãe no processo.
Eu queria sentir compaixão, mas... Deveria mesmo? Se a mãe era má daquele jeito, nem conseguia imaginar como seria a filha, me dava arrepios.
Estava cansado de dirigir por tanto tempo, então quando avistei o primeiro motel em milhas, decidi que ficaríamos lá, o que ela não gostou muito, mas eu não me importava com o que ela gostava ou não. Eu tinha que dormir.
– Só uma cama, Samuel? – arqueou uma sobrancelha pra mim quando abri a porta do quarto.
– É mais barato – revirei os olhos.
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Bad Company
FanfictionDepois de fazer um pacto para ressuscitar seu irmão Sam, Dean Winchester sabe que terá muito trabalho para fazer em seu último ano de vida antes de ir para o Inferno. Em uma de suas caçadas, os irmãos Winchester acabam conhecendo a pequena e ensolar...