Alerta de gatilho: menção à feminicídio, emetofobia, sangue. Spoilers de Sons of Anarchy.
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Se tinha uma coisa que Ira Levin, mesmo sendo um homem, havia entendido perfeitamente quando escreveu ''O Bebê de Rosemary'', era que carregar um bebê demoníaco era passar pelo inferno na Terra.
Eu tinha lido, anos antes, o bendito livro. Mais por mera curiosidade, a fim de saber se havia algo de realista ali. Na época o achei fantasioso demais, muito dramático, mas depois de três meses de pura agonia e sofrimento, eu agora entendia exatamente as dores da ingênua Rosemary enquanto relia o livro deitada na cama.
E puta merda, eu queria não ter que entender porra nenhuma.
Eu tinha um milhão de coisas em mente quando fiz o pacto com Cain, e esperava ser capaz de fazer outras milhares de coisas.
Esperava que me tornar um demônio de alguma forma me ajudasse a recuperar as minhas memórias, que eu conseguisse juntar as peças do meu quebra-cabeça e descobrir quem realmente era e porque, quando acordei, estava na porta de Cain.
Em vez disso, havia engravidado do primeiro demônio criado, o Pai do Assassinato em carne e osso, e, como bônus por ter sido ingênua a ponto de confiar nele, também fui assassinada.
O primeiro golpe foi certeiro em meu baixo-ventre.
– É para o seu próprio bem – ele disse. – Será melhor assim.
O segundo golpe foi em meu peito, e Cain se certificou de que havia fincado aquele osso velho o mais fundo que podia para que eu morresse logo.
Anos de convivência destruídos em meros segundos.
Fui largada para morrer sozinha no chão de madeira fria da sala de estar de sua casa, com a lâmina ainda em meu peito.
E quando despertei para minha nova vida, ele não estava mais lá. Havia fugido como um covarde e me deixado com a única coisa que podia matá-lo porque sabia que eu procuraria vingança.
Ele não estava errado. Eu queria matá-lo.
Mas eu estava muito mais interessada em cuidar do meu bebê, e pra conseguir essa façanha, primeiro eu precisava descobrir como sobreviver à ela.
Nada que eu comia saciava a minha fome, não importando a montanha de comida da qual eu me fartasse. Depois de ganhar A Marca, eu passei semanas incapaz de dormir, e não sentia fome ou mesmo sede, mas quando meu sono voltou e a fome o acompanhando, tudo pareceu piorar.
Agora eu estava com manchas roxas em minha barriga, outras em meus braços e pernas, e algumas veias salientes estavam negras. Eu não sabia o que fazer, porque não poderia recorrer a um hospital sem chamar a atenção e eles também não conseguiriam ajudar. Da última vez que havia feito exames, fui perseguida por semanas, e a trilha de corpos que deixei não afastava outros demônios do meu encalço.
Massacrar dezenas de homens finalmente me fez perceber que o problema não estava na Marca. Todas as dores, fome insaciável e cansaço não eram consequências de carregar a maldita.
Eram consequências de carregar a minha pequena.
Mesmo deitar na cama e tentar descansar era cansativo. Um eterno ciclo de cansaço, fome e fúria. Eu revirei na cama durante o resto da madrugada, tentando encontrar uma posição confortável para dormir, mas a dor que se alastrava por todo o meu corpo não facilitava as coisas, então me sentei naquela cama ruim de motel barato, desistindo de dormir.
– O que eu faço com você? – perguntei enquanto olhava para a minha barriga, acariciando-a devagar. – Como vou nos manter vivas?
Ultimamente eu tomava vitaminas pré-natais na esperança de que ajudasse, mas nada nunca mudava. Nenhum banho quente, nenhuma cama, por mais macia que fosse, e nenhuma das comidas que eu gostava fazia eu me sentir um pouco menos pior, então matar coisas era o que me mantinha distraída.
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Bad Company
FanfictionDepois de fazer um pacto para ressuscitar seu irmão Sam, Dean Winchester sabe que terá muito trabalho para fazer em seu último ano de vida antes de ir para o Inferno. Em uma de suas caçadas, os irmãos Winchester acabam conhecendo a pequena e ensolar...