Capítulo 22 - Daisy

43 7 0
                                    

Mesmo caçando quase ininterruptamente, minha sede de sangue não era saciada, e nem as necessidades que A Marca trazia. Toda e qualquer melhora que o sangue de Sam pudesse proporcionar estava esvaindo rapidamente, então meu corpo ficou sem cor de novo, assim como meus cabelos e minha boca.

As semanas passaram voando, e meu tempo estava acabando sem que nenhum de nós conseguisse as informações que precisávamos. A maioria dos demônios comuns só sabiam das coisas erradas.

O oitavo mês chegava ao fim e não havia solução para os nossos problemas, e mesmo fazendo saquinhos de bruxa para proteção, não tínhamos como manter Cain longe, e de vez em quando Crowley deixava algum presentinho macabro, como refeições demoníacas ou algum artefato que ajudasse Sam a melhorar suas visões.

E nenhuma das visões que ele tinha pareciam promissoras ou a favor da gente, ou do Dean, e muito menos do Jax. Sam achava que ter visões do futuro o ajudaria a se preparar psicologicamente para o que viria, mas ele estava errado, e muito. Algumas ele guardava pra si, ou achava que guardava, porque eu conseguia ouvir alguns dos seus pensamentos.

Nenhuma das minhas ofertas de solução foi aceita por Sam ou Dean, e Bobby também não tinha encontrado uma forma de passar a perna da diaba da encruzilhada sem que isso custasse a vida de algum deles.

Eu estava cansada de falar e não ser ouvida, e controlar meus instintos tinha se tornado uma tarefa quase impossível, o que fazia com que Sam geralmente trabalhasse sozinho até o momento de caçarmos o que precisávamos matar.

Como se não bastasse tudo isso, ainda sentia os olhos de Cain às minhas costas, o que não ajudava em nada. Era como se nunca fosse realmente me livrar dele e sua sombra, mas eu me sentia exausta demais para entrar em combate com ele, porque não seria uma luta fácil ou rápida.

E o tempo estava correndo...

~

– Daisy Smith...

Uma voz profunda, ecoando de forma distante, chamou a minha atenção. Abri meus olhos para me deparar com uma figura pálida, de cabelos negros como a noite, e olhos estrelados que me encaravam como se analisassem a minha alma de cabo a rabo, me fazendo engolir a seco.

– ... Você não pertence a este mundo.

Meu primeiro instinto foi tentar me afastar, mas eu não estava realmente em um lugar físico, estava envolta apenas por uma escuridão desconfortável.

– Se continuar neste caminho, trará caos e ruína a outro mundo. Sua presença é uma perturbação na ordem das coisas. Seu lugar não é entre eles.

– Não sei do que tá falando – murmurei.

– Talvez não se lembre. Escondeu suas lembranças muito bem, fez promessas que não conseguirá cumprir. Os erros que cometeu não foram inocentes. Imploro que deixe este mundo. Liberte-o de suas mãos, deixe que siga seu curso natural.

– Eu realmente não sei do que tá falando – insisti.

A estranha figura pegou o que me pareceu ser um saquinho de pano, tirando dele um punhado de areia e soprando aquela porcaria nos meus olhos.

Uma enxurrada de imagens inundou a minha cabeça.

Vozes distantes, risos de uma vida distante, rostos familiares...

O cheiro de casa.

Da minha casa.

Corredores quentes e úmidos, cheiro de sangue carregado pelo vento que assobiava entre as curvas das paredes, gritos de desespero ecoando...

Uma coroa de ossos em minha cabeça, um corpo diferente do que eu tinha. Caminhava em direção à sala do trono.

Meu trono no Inferno.

Bad CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora