Capítulo 8 - Jax

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Era a segunda vez em menos de vinte e quatro horas que eu era obrigado a dar um depoimento.

E a segunda vez que eu me deparava com a morte.

Três, se contasse Abel, mas eu não o tinha visto ainda, talvez não conseguisse ver. Eu não sabia como encararia a única pessoa com quem eu não deveria ter falhado e havia falhado miseravelmente.

Um monte de problemas se empilhando nas minhas costas e eu não fazia a menor ideia de como os resolveria. Eu não enxergava uma saída.

Precisávamos entregar aos Niners as armas que os Mayans haviam roubado, e agora só restava eu e Opie vivos. Não existia clube de dois homens e dois homens não eram o suficiente pra resolver problemas daquele tamanho.

Uma série de funerais a serem feitos e eu nem sabia como faríamos.

Opie estava arrasado. Piney deveria estar em casa naquela noite, mas em vez disso esteve no clube, e nós nunca saberíamos o motivo.

Sam conseguiu recuperar as imagens das gravações da clubhouse, e nós assistimos a um verdadeiro massacre.

Peguei todos os celulares pré-pagos do clube e quaisquer outras coisas potencialmente perigosas para a polícia pôr as mãos.

Estranhamente, nosso cofre não foi mexido, mas a minha moto havia sumido. Na noite em que saí com Dean, pedi ao Meio-Saco que a levasse para o clube no carro-guincho da oficina, mas a minha moto, assim como a dos outros, tinha sumido da garagem e eu achava que as chances de encontrar a Dyna de novo eram pequenas.

Eu tinha quase certeza de que os malditos vampiros tinham nos roubado. Eu reconhecia retaliação quando via uma, e não tinha outro nome pra aquilo.

Dean e Sam ficaram mais ocupados do que nunca, trabalhando com a polícia local. Tentavam encontrar o tal ninho de vampiros dentro da área da cidade, mas considerando que havia muita terra inexplorada por ali, seria procurar uma agulha no palheiro, mesmo com a polícia na caçada.

Enquanto esperávamos o sinal verde para enterrar Clay e os demais, só restava enterrar Abel e Wendy.

Eu não sabia como dizer à Gemma tudo o que tinha acontecido. Parecia ser um filme rodando na minha cabeça, nada mais parecia real além da dor.

De todos os baques que ela havia levado da vida, eu sentia que aquele tinha sido um dos piores. Por mais que eu não gostasse dele, gostava menos ainda de ver minha mãe sofrer, e perder Clay a deixou acamada por mais tempo.

Estávamos quebrados demais, sem saber como nos reerguer. Só tínhamos um ao outro naquele momento.

Justo quando eu pensei que conseguiria mudar de vida...

Apesar dos pesares, ela estava comigo quando enterramos Wendy e Abel. Achei que deveria mantê-los juntos.

Observei em silêncio o pequeno caixão ser descido para sua cova, e uma ponta de desespero ameaçou tomar conta de mim.

Ele estava ali e eu nunca nem tinha visto o seu rosto.

Não tive coragem.

Não queria olhar para o rosto do inocente que eu havia decepcionado. Falhei com eles e nada que eu fizesse dali em diante mudaria aquilo. Não haviam segundas chances pra alguém como eu.

Não havia abraço ou palavras de conforto que funcionassem ali.

Meu primogênito tava a sete palmos e era minha culpa.

Pouco a pouco nossos amigos e conhecidos foram deixando o cemitério e Gemma foi a única que continuou comigo enquanto eu encarava aqueles túmulos, refletindo sobre minha vida até ali.

Bad CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora