Capítulo 4 - Jax

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Aviso de gatilho: morte de uma criança e pensamentos suicidas.

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Era bom ter um problema a menos com o qual lidar. Sentados à mesa aos fundos de uma lanchonete, a gente comia cheeseburgers enquanto jogávamos conversa fora sobre aquela loucura toda com o lance de monstros.

Ainda não fazia o menor sentido na minha cabeça que a gente tivesse passado a vida sem nunca ter esbarrado com um monstro. A menos, claro, que a gente tivesse esbarrado e só não soubesse o que eram.

Aparentemente a maioria deles, segundo os Winchesters, passava despercebido pelos humanos porque a maioria tinha aparência humana. Vampiros só mostravam as presas ao atacar, lobisomens só se transformavam em noites de lua cheia, entre outras coisas.

Era muita loucura de uma vez só pra mim.

– Então vocês não param em casa? – encarei Dean. – Estão sempre na estrada? Parece um sonho.

Sam deu um risinho nervoso, mas não comentou nada, logo deixando de comer seu cheeseburger e se levantando da mesa, se afastando.

– Falei algo errado? – franzi o cenho.

– Não, não – Dean suspirou, se recostando no sofá. – É complicado.

– Por quê? Não é o negócio da família?

– O negócio da família só começou porque a nossa mãe morreu – me encarou, sem o sorrisinho metido à besta. Parecia prestes a revirar um túmulo com aquela conversa. – Um demônio matou a nossa mãe.

– Um demônio? – arqueei as sobrancelhas.

– É, um grande desgraçado – desviou o olhar, suspirando.

– Esse lance todo de monstros existirem é bizarro pra caramba.

– Não tem como não ser. Enfim, a gente conseguiu pegar aquele filho da mãe. A gente matou ele – deu um sorriso de canto. – Mas o nosso pai morreu antes de conseguir matar aquele maldito com a gente. Agora tem um monte de demônios à solta e eu só tenho um ano pra caçar quantos puder.

– Por que só um ano?

– Eu... Fiz uma coisa... – ele me encarou, ainda com um sorriso. Parecia esconder coisas sob ele. – Pelo meu irmão. Ele é a única família que eu tenho, sabe? Eu morreria pelo Sammy.

Logo pensei em Opie, que era a pessoa mais próxima de um irmão que eu tive a chance de ter. Thomas foi tomado de nós cedo demais para que eu tivesse a chance de ser um bom irmão mais velho.

– Sei como é – comentei.

– Pois é. Eu sempre fiz tudo o que podia pela minha família e eu não me arrependo de nada. Eu morreria pelo meu irmão, e... Dentro de um ano, talvez eu morra mesmo – um risinho nervoso pareceu involuntário da parte dele, que se ocupou em beber seu refrigerante.

– Do que tá falando?

Meu celular começou a tocar e eu pedi licença para atender.

Era do hospital, Tara me dizendo que Abel estava estável o suficiente depois da operação para fechar o rasgo em seu abdômen e que o cirurgião acreditava que estava na hora de fazerem a cirurgia em seu coração.

O defeito congênito dos Tellers, sempre o coração.

Abel, dez semanas prematuro graças à overdose de Wendy, tinha uma chance, muito baixa, por sinal, de sobreviver.

Eu não sabia como deveria me sentir sobre ele.

Tentei rejeitar qualquer afeto que pudesse ter pelo garoto, tentando me convencer de que ele não viveria muito, mas saber que ele poderia sobreviver depois de uma segunda cirurgia me dava esperanças.

Bad CompanyOnde histórias criam vida. Descubra agora