Luiz Henrique
A vida andava esquisita e eu tentava não me ater aos detalhes. Desde que Olívia viajou para Taubaté, eu fiquei sem a minha nova companhia noturna. Aproveitei as noites no 001, Maria Clara, finalmente, teve a sua primeira aula de tiro e junto com João Miguel, tivemos bons momentos no clube.
Havia me tornado motivo de comédia entre os meus amigos, Renan fez questão de explanar que eu estava dispensando mulher. Isso porque Pamela também esteve lá e deixei com ele ou Paulo a incumbência de levá-la em casa. Tínhamos uma boa amizade, não era só pegação. No entanto, a mulher demonstrava que me queria, jogava as iscas e, estranhamente, eu não sentia vontade de estar com outra, senão Olívia. Logo, me esquivei por achar ser o jeito menos constrangedor de dizer que não íamos para o meu apartamento. Ou para o dela.
Pamela e eu éramos solteiros e livres, porém, dentro da nossa turma de amigos e conhecidos, não ficávamos com outras pessoas. E todo mundo sabia disso, nosso envolvimento não era novidade.
O que causava estranheza era eu escolher passar algumas noites sozinho, ao invés de curtir com aquela mulher gata. Fazer o que?
Descobri que havia esquecido o celular na delegacia quando cheguei ao clube e minha irmã reclamou ter me ligado várias vezes, pois queria que a buscasse em casa. Naquela noite, não teria como trocar mensagens com Olívia. Fazer o quê? A notícia boa era que, dentro da sua programação, retornaria a São Paulo no dia seguinte.
— Você está diferente, Lui — passei toda a noite por conta da caçula, ensinado-lhe dentro das baias. Ela ainda demoraria a atirar no campo aberto. Maria Clara demonstrou estar cansada e fizemos uma pequena pausa, após tirar os abafadores e guardar em segurança as armas.
— É mesmo? — Perguntei, sem dar muita atenção.
— Não faz essa cara, está diferente, sei lá, mais calmo. — Ela me encarou e franziu o cenho. — E o mais intrigante, não está dando a mínima para toda a atenção feminina que recebe aqui no clube. — Ri alto com a sua observação. Evitava sair com alunas, tá, evitar não é a melhor palavra, mas Renan e João achavam que era inadequado. Já eu, só saía com elas e torcia para não ter problemas.
— Não vi ninguém diferente por aqui.
— Não chamou a Pamela de gatinha. Convenhamos que é o apelido mais tosco que já ouvi, mas ela deve gostar, em todas as vezes que a vi você a chamou assim — Dei de ombros, talvez, nos últimos dias tenha me afastado da Pamela além do que imaginei ter feito.
— Não tenho nada para contar. — Era a hora de mudar o assunto. — Um lanche?
— Ah, eu queria uma comida quentinha... — disse, tirando os acessórios de segurança.
— Podemos ir em outro lugar, se você quiser.
— Aceito o sanduíche. Mas está na hora de repensar o cardápio da lanchonete. — Abracei de lado seu corpo, tentando esquentá-la e caminhamos em direção ao anexo onde ficava a lanchonete.
— Vou olhar isso com o Renan, faz sentido.
Fizemos os pedidos e ela me mostrou no celular alguns itens que havia comprado para o meu apartamento. Não tinha saco para escolher móveis e decoração, mas, de repente, eu quis ficar por dentro.
— A cozinha está montada, amanhã vou comprar os eletrodomésticos que faltam. Todos na cor preto ou em inox. Para a sala, como você prefere os espaços mais cleans, escolhi essas mesinhas e podemos decorar com uma luminária e alguns livros. Olha, os detalhes em madeira, achei a sua cara. — Os móveis tinham uma pegada pesada e industrial, em cores escuras, metal, madeira e acabamento fosco.
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Meu vizinho federal
Romance"Luiz Henrique, vulgo Brandão, é agente da Polícia Federal, filho de advogados criminalistas e acostumado a investigar e prender clientes dos seus pais. Durante uma Operação policial, descobre que a mulher assustada, que chamou sua atenção, é a dona...