Olívia
A viagem de volta a São Paulo foi uma confusão de sentimentos. Para nós dois. Ora contávamos ao outro tudo o que fizemos nas horas que passamos longe. Ora ficávamos em total silêncio, perdidos em pensamentos.
— Viaja comigo? — perguntou de súbito, surpreendendo-me já na metade do trajeto, enquanto eu tamborilava dois dedos em minha perna, no ritmo da música que tocava baixinho no som do carro. Segurou minha mão, chamando minha atenção para ele.
— Como? — perguntei, desconcertada.
— No fim de semana... — deu-me uma rápida olhada, eu continuava meio atônita e voltou a atenção para a estrada — pedi folga ao delegado, na verdade, nem sei se vou conseguir. Mas se der certo, passa o fim de semana comigo? Pensei em te levar a um lugar que um amigo já comentou ter ido, fica em uma região serrana. A gente aluga um chalé, só nós dois.
Senti um arrepio atravessar todo o meu corpo, da cabeça a todos os dedinhos dos meus pés formigaram. Meu cérebro não conseguia seguir o ritmo daquele homem. Eu me sentia bugada.
Porque o queria, ah como eu o queria. Mas Lui ia além. Levou-me e buscou-me na casa dos meus pais, viajando mais de duas horas, cuidou de mim e agora me chamava para uma viagem romântica. Pois era isso o que ele me propunha, certo? Uma viagem a dois.
Tentei raciocinar e soltei um suspiro.
— É isso o que você quer, Lui? — questionei, com o pouco de lucidez que me restava.
— Eu quero você... — respondeu após soltar uma risada leve, como se fosse bem óbvia a sua resposta.
— Eu topo a viagem... — disse, finalmente, ainda atordoada. Lui mantinha uma expressão divertida, claramente, tentando não rir da minha cara.
— Certo. — deu um sorriso lindo, aquele torto e sexy que eu amava — Vou dar uma pressionada no Paulo.
— O delegado?
— Sim...
— Lui... — lá ia eu ser a chata que tentava ser racional. Mas eu não era baú para ficar guardando as minhas inseguranças. — Eu também quero muito.
— E vai me contar o motivo de estar aflita.
— Vou... É que... — soltei um suspiro, tímida por me abrir. — Pergunto-me se não estamos indo muito rápido. Mas, ao mesmo tempo, eu não quero esperar. Gosto de estar perto de você.
— Só estar perto? — ele ergueu a sobrancelha e meneou a cabeça. — Pois eu gosto de beijar sua boca, te agarrar — complementou com a naturalidade de quem falava sobre o tempo. Senti minhas bochechas queimarem.
— Lui...
— Também gosto de conversar, te ouvir. Estar com você, Olívia, tem sido muito bom! Para mim, isso basta.
— O que precisamos fazer para o seu chefe te dar a folga? — perguntei com um sorriso e relaxada. Para mim, também bastava.
— É assim que fala! — ele brincou com o meu joelho, apertando-o. — Bom, por ora, vamos torcer para que ele queira prender uns filhos da puta que traficam mulheres no próximo fim de semana. — minha mente parou de funcionar exatamente aí, um bolo foi formado em minha garganta e meus olhos arregalaram. — Aí, vou ter a minha folga e passar o fim de semana colado em você. Fazendo muitas coisas boas. Melhores que prender bandido. E olha que gosto bastante de prender bandido.
— Meu Deus. Você disse traficar mulheres? — minha voz saiu em um fio, eu nem tinha certeza se ele havia me escutado. Uma gargalhada escapou dele, que de soslaio, olhou-me incrédulo.
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Meu vizinho federal
Romance"Luiz Henrique, vulgo Brandão, é agente da Polícia Federal, filho de advogados criminalistas e acostumado a investigar e prender clientes dos seus pais. Durante uma Operação policial, descobre que a mulher assustada, que chamou sua atenção, é a dona...