Capítulo 31

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Luiz Henrique

Olívia era solar, alegria, riso sem precisar de justificativa e apaixonante. E não era apenas eu quem pensava isso dela.

De braços cruzados e encostado em uma das pilastras na enorme varanda da casa sede da vinícola, eu a observava gargalhando sobre algo que dona Antonieta falou. A senhora de meia idade e, proprietária do lugar, conversava com ela como se fossem velhas conhecidas. E só havíamos chegado há uma hora.

Foi inevitável manter o sorriso em meu rosto.

Soltei um suspiro, sem desviar meu olhar dela, que agora sorria em minha direção e tinha uma sobrancelha erguida. Havia me pegado admirando-a e rindo como um cachorrinho adestrado. E era, exatamente, assim que eu me sentia.

— Já sei quais garrafas quero levar! — Olívia se aproximou e enlaçou meu pescoço, ficando na ponta do pé conseguiu alcançar meus lábios e deu-me um beijo leve.

— Tenho certeza que sabe! — Mordi de leve seus lábios, segurando sua reclamação. Olívia talvez seja a pessoa mais apaixonada por vinhos que eu conheça. Para ela, toda ocasião merece um bom rótulo, embora insista saber pouco do assunto e seu único interesse seja tomar da bebida.

— Quero ir nas ruas, o que eu mais gosto nas vinícolas é poder andar entre as plantações e pegar uva direto do pé. — Os olhinhos brilhavam e ela tinha razão, eu já havia visitado muitas vinícolas em minhas andanças pelo mundo e, olha que nem era fissurado por vinho, mas a experiência de andar pela imensidão dos pés de uva era sempre interessante.

— Vamos lá. — Concordei depois de beijar sua testa.

— Fiquem à vontade, queridos! Quando retornarem, faremos a degustação. — Assentimos para dona Antonieta, que já havia nos mostrado o setor de produção e, de mãos dadas, descemos as escadarias da varanda.

O dia que iniciou gelado e nublado, mudou drasticamente perto do horário do almoço e, quando nos arrumávamos no chalé para sair, o sol havia aparecido, tornando-o quente.

E, naquela pequena viagem, estando o tempo todo grudado em Olívia, vi o quanto ela era capaz de transformar qualquer clima ruim em conforto; trazer paz; despertar coisas boas em mim. Eu me sentia um homem bom ao lado dela.

E tentava relaxar, mesmo após a mensagem que recebi do Paulo.

"Vamos explodir na quarta à noite, fica preparado".

Ele também havia sido seguido na noite de sexta-feira, não chegaram nem perto da abordagem que fizeram comigo, mas estavam dispostos a nos intimidar. O que, se dependesse de nós, não ia acontecer. Isso só serviu para nos deixar ainda com mais vontade de acabar com a raça deles.

— Prova essa, é a minha preferida! — Olívia surgiu com algumas uvas na palma da mão, oferecendo-me.

— Gosto assim, meio termo entre o doce e o ácido! — Segurei em sua cintura e, aos poucos, a expressão sorridente dela foi mudando e, de cenho franzido, ela tocou em minha barba, fazendo um carinho.

— Você está preocupado, o que aconteceu?

— Estou bem, linda! — Puxei-a para mais perto, mal sabia Olívia que somente ela poderia me fazer esquecer a loucura que seria minha vida na semana seguinte.

— Não está! Mas tudo bem, mais tarde eu lhe faço falar! — Ela mordeu o lábio e eu gargalhei com a sua certeza de que tinha poder sobre mim. De todo modo, errada não estava. Com um braço, enlacei sua cintura e colei nossos corpos, a outra mão segurou-a pela nuca, nossos rostos próximos, assim como as nossas respirações.

Meu vizinho federalOnde histórias criam vida. Descubra agora