Capítulo 21

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Olívia

Tentei alcançar a garrafinha de água que deixei, na noite anterior, sobre a mesinha de cabeceira, ao lado da cama. A cabeça latejou. Fechei os olhos e suspirei fundo, estiquei o braço e consegui pegá-la, meu corpo, no entanto, doeu como um todo. Tomei um pequeno gole da água, a garganta ardeu fortemente, engolir doía, ainda mais.

Eu não podia ficar doente. Não tinha nem tempo para isso.

Afastei um pouco o edredom e um calafrio varreu o meu corpo. Com dificuldade, sentei na cama. Soltei um espirro e, parece que uma janelinha foi aberta, pois mais uns cinco saíram na sequência, acompanhados de um tremor por todo o meu corpo. Receosa, subi as mãos para o pescoço, a pele estava quente, como se estivesse em chamas.

O que eu ia fazer?

Esgueirei-me até a beirada da cama, consegui abrir a primeira gaveta do móvel e achei uma cartela de antitérmico e um outro remédio para gripe. Tomei os comprimidos e voltei para debaixo do edredom. Antes, chequei a hora em meu celular, eram sete da manhã.

Era uma segunda-feira e, na sexta, as meninas embarcariam para Nova York. E justo naquele dia eu precisava voltar a Taubaté, pois havia ajustes a serem feitos nas peças e eu não tinha maquinário em São Paulo. Os últimos dias foram de intensa correria para deixar a coleção pronta, comi e dormi mal.

E não podia dar-me ao luxo de não pegar estrada e levar as peças para a confecção.

Meu telefone apitou a chegada de algumas mensagens e, logo, fui tomada por mais uma sequência de espirros. E o corpo doendo, trêmulo, cabeça latejando, garganta ardendo, até para engolir saliva. Um looping de pesadelo.

Tinha que tentar me recuperar, ao menos, até o horário do almoço, para conseguir viajar.

Não sei quantas horas havia passado, desde que adormeci após tomar os remédios, mas um feixe intenso de luz adentrava o cômodo e uma coisa gelada fez todo o meu corpo arrepiar. Abri os olhos e encontrei uma Chanel incomodada tentando me acordar, ela passava o focinho em meu braço. A bichinha, certamente, estava com fome.

Ainda me sentia péssima, tudo doía e bastou um minuto acordada para que os espirros reiniciassem. Mas precisava levantar. Peguei um robe quentinho e vesti sobre a camisola, tremia de frio, meu pescoço ainda estava quente. Fiz a minha higiene e cuidei da Chanel.

Na cozinha, sentei-me em uma das banquetas e, apática, pensei no que faria.

Um chá. Isso, mamãe sempre fazia chá quando estávamos gripados.

Peguei limão, mel e água. Logo, estava com uma caneca em mãos tomando a bebida fumegante, no entanto, ainda me sentia mal demais, não daria conta de dirigir por algumas horas e tinha que achar uma solução.

Embora o momento fosse péssimo para tal gasto, um motorista particular seria necessário.

Terminei o chá, havia aberto a porta da varanda para deixar o sol entrar e esquentar-me um pouco. Senti-me levemente disposta, o suficiente para consegui trocar de roupa. Iria até a portaria conversar com o funcionário que estivesse lá, porteiros costumam conhecer muita gente e, talvez, conhecesse um motorista de confiança para me indicar.

Prendi o cabelo em um coque malfeito e vesti um moletom quente. A imagem refletida diante do espelho era péssima, meu rosto estava pálido, com exceção do nariz, cuja ponta estava avermelhada.

Mais um espirro quando parei à porta e suspirei fundo e a abri. Chamei o elevador e, quando ele parou no meu andar, a surpresa.

— Oli? Está tudo bem? — Lui saiu lá de dentro e, alarmado, pegou minha mão. Minha aparência estava mesmo péssima, pois ele mostrou-se assustado. Senti um alívio enorme ao vê-lo, de imediato, quis ir para os seus braços. Não havia percebido o quanto tremia, teria que medir a temperatura, talvez ainda estivesse com febre.

Meu vizinho federalOnde histórias criam vida. Descubra agora