Capítulo 28

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Luiz Henrique

— Eu realmente não sei quem são aquelas pessoas. Agora, já faço uma ideia sobre quem pode tê-las enviado. Os mandantes, sabe? Mas nem isso tenho certeza.

Apertei Olívia em meus braços como, se ali, junto de mim, ela estivesse protegida. Porém, hoje, recebi a prova que é justamente o contrário. Se ela não estivesse saído comigo, não teria passado por uma perseguição daquelas e com direito à troca de tiros.

Ao chegar em casa, telefonei para Paulo e o cara já estava dormindo. Antes de me escutar contar sobre o acontecido, xingou-me, pelo menos, com meia dúzia de palavrões. Fizemos um apanhado das últimas operações em que trabalhei ativamente. A de maior vulto era a que envolvia Mauro Lins. Mas ele podia ser tudo, menos burro. E não encomendaria um atentado contra o filho dos seus advogados. Ele sabe que eu iria até o inferno para descobrir quem foi. E é o que irei fazer.

"O peixe é maior do que imaginamos, Lui. Sinto muito pela sua garota, essas merdas não deveriam atingir terceiros. Mas isso me deu um gás. Semana que vem botamos fogo nos puteiros."

Eu estava pronto para responder Paulo quando ouvi o barulho dela chegando à varanda do seu apartamento.

"Sugiro trocarmos o dia, quem sabe uma quarta-feira? Bom, nos falamos com calma amanhã. Boa noite."

Disfarcei o assunto e logo encerrei a chamada.

Uma coisa era certa: deram-me ainda mais sangue no olho para fuder com a vida dos cafetões e traficantes de mulheres.

Porque ficou claro para nós dois que, de algum modo, eles sabiam da nossa investigação e enviaram um aviso. Queriam nos parar. E isso não ia acontecer.

— Estou dentro de uma investigação pesada e, quando formos para a rua, gente influente pode ser presa. É um daqueles casos em que o delegado aparece no jornal do horário nobre, dando entrevista. — contei-lhe de forma superficial, podia sentir o sobe e o desce do seu peito e a respiração ofegante.

— Foi uma retaliação? — ela segurava minhas mãos, de alguma forma, somente nós dois éramos capazes de nos confortar.

— É só suposição, temos sido discretos na delegacia, mas tudo indica que é um recado, um aviso para pararmos.

— Eu senti tanto medo. — confessou, mais uma vez, depois de longos minutos em silêncio.

A voz saiu fina, quase falha. Nem precisava ter me contado, eu vi o medo explodindo em cada poro seu. E, dificilmente, irei me esquecer da sua expressão de completo pânico. A mulher sempre teve uma vida normal e não tinha que estar preparada para o que passamos.

— E eu quero me socar por você ter passado por isso. — Apertei ainda mais os braços ao seu redor, como se pudesse fundir os nossos corpos.

— Mas você não tem culpa, essa é a verdade. — Beijei seu pescoço, queria poder acreditar em suas palavras. Mas sim, eu tive culpa.

— Linda, eu sei que estou do lado certo. Posso ajudar colocar atrás das grades bandidos da pior espécie. Mas eu te coloquei em risco e isso está me matando. Sei me defender e, se estivesse sozinho, teria ido pra cima, chamado reforço e dado trabalho para eles.

— Não sei o que dizer. Mas também senti medo por você. Assustei-me por você estar armado. Tanta coisa, Lui. — O desespero estava de volta em sua voz e havia mais uma coisa que eu precisava explicá-la.

— Isso a gente também precisa conversar. Oli, eu sempre estarei armado em local público. Sempre. Sou um policial, não tenho como prever as situações de perigo e não posso contar com terceiros para me proteger ou quem está comigo. Sou discreto, já saímos outras vezes, até viajamos e você nem percebeu. Mas ontem eu precisei usar. E poderia ter sido pior se eu não estivesse armado.

Meu vizinho federalOnde histórias criam vida. Descubra agora