Olívia
— Lui é o melhor. Nem o Renan, que fica aqui todos os dias, tem a mesma habilidade dele. — A voz da minha cunhada soou ao meu lado, eu queria conversar com ela, conhecê-la melhor, mas como quando estava diante dos meus olhos meu namorado todo concentrado e malvadão atirando como se não houvesse amanhã?
Eu podia vir em todos os treinos, só para poder apreciar aquela imagem. O meu Lui, lindo e perigoso, todo de preto, jaqueta de couro e touca na cabeça. O uniforme que não tirava do corpo e que era tão ele.
— Como? — Perguntei, sem graça. E ela riu, aliviando-me e, com um gesto, ela apontou a pista. — Ah, sim. Atirando, né? Não entendo muito, mas ele parece estar indo bem.
— Está sim, sempre escolhe as armas e os alvos mais difíceis.
Passamos mais alguns minutos em silêncio, apenas observando. Todos ali demonstravam ser hábeis na artilharia, mas Lui parecia estar há anos-luz na frente. A forma como segurava a arma, que eu não fazia ideia qual modelo era, seu olhar firme, a postura que não se abalava a cada tiro. Ele continuava andando em linha e sem errar o alvo. Era uma cena de tirar o fôlego.
Desviei minha atenção para puxar assunto com Maria Clara e a peguei encarando a pista. As mãos estavam entrelaçadas diante do seu corpo e seu olhar fixo em uma pessoa.
Segui o olhar na mesma direção que ela, chegando, se não estivesse enganada, em Paulo, o delegado. Arregalei um pouco os olhos e depois a observei, que ainda o encarava de longe.
— Eu não deveria perder meu tempo com ele. É como enxugar gelo, sabe? —comentou sem me olhar.
— Você gosta dele. — Afirmei, o cara estava a metros de distância e, totalmente, alheio à adoração silenciosa de Maria Clara. Uma pena, talvez.
— Gostar é muita coisa, né? — levantou o olhar para mim e soltou um riso seco. Uma mulher linda, parecia-se demais com Lui. Aliás, os três irmãos eram bem parecidos, daqueles que você olha e tem certeza que fazem parte da mesma família. — Você é minha cunhada, sinto que vamos nos dar bem. E não é como se fosse um segredo. Gosto dele desde a minha adolescência. Eu pensei que passaria com o tempo, mas a verdade é que só aumenta.
— Você disse que não é bem um segredo.
— Ele sabe, Olívia. — tirou uma das mãos do bolso do sobretudo preto que usava e a enfiou entre os fios de cabelos, arrumando a bagunça que o vento estava fazendo.
— Vocês já... Você sabe.
— Nem sempre ele é indiferente. Mas é complicado. — enfiou a mão de volta no casaco e olhava para a pista, como se não quisesse perder nenhum detalhe dele. — É um dos melhores amigos do meu irmão...
— E? — Perguntei, pois pareceu-me que havia algo mais.
— Ali, eles namoraram — Ela apontou com o queixo para uma mulher que Lui apresentou como Dani e não tirava o olho dele. Ela caminhava para o fundo da pista, carregando sua arma.
— Uau. — Quase soltei que era a mesma que me colocou na mira durante a operação na Soraya Lins, mas segurei-me. Até porque, queria, primeiro, contar a Lui que eu sabia quem era a mulher.
Ficamos mais um tempo em silêncio. Eu, olhando meu namorado e, ela, a sua paixão platônica. Ou, não tão platônica assim. Peguei o olhar de Paulo para Maria Clara, intenso, forte, mas que durou bem pouco. E logo estava concentrado no treino.
— Eu vivo a minha vida, já tive outros relacionamentos, não estou à disposição dele e Paulo sabe disso. Mas, às vezes, eu só gostaria de ter a chance de tentarmos algo.
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Meu vizinho federal
Romance"Luiz Henrique, vulgo Brandão, é agente da Polícia Federal, filho de advogados criminalistas e acostumado a investigar e prender clientes dos seus pais. Durante uma Operação policial, descobre que a mulher assustada, que chamou sua atenção, é a dona...