Capítulo 16

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Luiz Henrique

Passei a tarde na ONG, meus pensamentos deveriam estar focados na reunião que eu fazia com dois empresários, bem como no acordo de patrocínio que me apresentavam, mas minha cabeça, durante quase toda a totalidade do dia, esteve em Olívia; em seu sorriso fácil, embora tímido; e naquele corpo delicioso que quase me fez perder a linha pela manhã na academia.

Após a reunião, senti uma vontade enorme de contá-la sobre a proposta que recebi.

O projeto estava crescendo e chamando a atenção, tínhamos bons números de aprovados nos concursos da segurança pública e até havíamos sido procurados por um programa de TV, que queria saber mais sobre o trabalho que desenvolvíamos.

Naquele dia não daria aula, na verdade, já havia me dado conta de que seria mais útil coordenar a ONG e, assim, vinha fazendo. Aproveitei que estava ali e chamei Mércia para falarmos sobre a contabilidade e fecharmos alguns relatórios.

Uma hora depois estava liberado e não via a hora de voltar para casa. Tinha planos para aquela noite.

Descia as escadas em direção à garagem quando ouvi o estalar do portão, sinal de que a recepcionista abriu-o lá de cima. Logo, surgiu no pátio a pessoa que menos imaginei encontrar ali. Mal estávamos nos vendo dentro da delegacia.

— Oi Lui, como vai? — Dani perguntou receosa ao se aproximar de mim, tirou os óculos de sol e o encaixou na gola da camiseta que usava. Também devia estar de folga, pois não usava a farda da PF.

— Surpreso, você nunca vem aqui. — Enfiei a chave no bolso da calça e cruzei os braços.

— Ah, pois é. — Disse, sem graça. — Eu vim porque quero conversar com você, imaginei que estivesse aqui.

— Sei, bom, eu estava indo embora. É coisa rápida? — questionei.

— Prometo não demorar.

Assenti e dei às costas a ela, dirigindo-me à escada. Ela me acompanhou, em silêncio, atravessamos a parte interna da casa e chegamos ao pátio externo, onde passei um tempo com Olívia, dias atrás.

Sentamos-nos em um dos bancos e depois de um longo minuto, ainda em silêncio, a mulher puxou a conversa.

— Eu vim te pedir desculpas. — Contou, enquanto eu observava o muro em nossa frente, coberto por trepadeiras. — Passei de todos os limites, estou arrependida e envergonhada. Você é meu amigo, sinto falta da nossa convivência, das conversas. Talvez eu tenha confundido as coisas entre nós dois, eu sei que somos só amigos e estou bem com isso. Mas te peço desculpas e gostaria muito que voltássemos a ser como antes. — Suspirei fundo, após ouvi-la. Eu não esperava por suas palavras.

— Bom... Acho que você já sabe que foi longe demais, vacilou enquanto estávamos em duas ações policiais — Olhei em sua direção, Dani encarou-me, encolheu os ombros de leve e assentiu.

— Sim, eu sei.

— Eu te desculpo, claro. Fico feliz, de verdade, que tenha vindo falar comigo. Mas tem algo mais que precisamos esclarecer — ela me lançou um olhar apreensivo e eu soltei outro suspiro — Além da questão do trabalho, que me incomodou muito, temos que considerar que você e o Paulo tiveram um relacionamento, gosto dos dois e essas atitudes suas me deixam em uma situação delicada. Você e eu não temos nada além da amizade. E eu preciso que você entenda isso.

— Eu também não tenho mais nada com Paulo. — retrucou e eu ergui a sobrancelha.

— É uma condição, não falaremos mais sobre esse assunto. Podemos continuar com a amizade, mas nada além disso. — Ela crispou os lábios, mas rapidamente disfarçou o descontentamento que achei ter visto.

Meu vizinho federalOnde histórias criam vida. Descubra agora