Capítulo 9 - A PRIMEIRA MULHER

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~ OROCHIMARU ~




Eu estava caminhando lentamente pelos corredores do meu laboratório em direção ao berçário, como sempre era tudo muito silencioso por ali, exceto por uma briga ou outra entre Karin e Suigetso.

- Orochimaru-san! – Mit me chamou um pouco mais à frente.

- Sim? – Respondi.

- Está quase na hora. – Ele disse com a calma de sempre.

Mitsuki era sempre calmo e extremamente lógico.

- Orochimaru-san! – Karin gritou saindo do "berçário". – Ela está acordando, ela está acordando.

Mitsuki olhou pra mim por um instante, meu filho, ele demonstrava que não se importava, mas estava animado com a possibilidade de ter uma irmã para cuidar. Ele tinha apenas 1 ano, e seu cérebro respondia bem aos estímulos exteriores, mesmo não sendo uma criação perfeita.

O meu menino, naquele momento promovido à irmão mais velho, foi criado para me ajudar com as pesquisas, enquanto Suigetso e Karin resolviam algumas "situações" em meus laboratórios espalhados pelo mundo.

Mitsuki aparentava ter 12 anos, mas desde que ele saiu da cápsula incubadora havia se passado apenas um. Alguns meses depois Karin e Suigetso voltaram, assim como Juugo e me ajudaram a educá-lo.

As circunstâncias que levaram ao nascimento de Mitsuki não eram as ideais, o oposto do nascimento da minha menininha. Ela seria perfeita, como eu sempre quis que fosse.

Dizem que os pais amam os filhos da mesma forma, pode até ser verdade, mas eu estava muito empolgado com o fato de conseguir criar uma mulher. A estrutura corporal é completamente diferente, a formação do cérebro é diferente.

Mitsuki estava ajoelhado em frente a cápsula incubadora observando a irmã dentro do tanque, seus olhinhos brilhavam enquanto ele observava o bebê se mexendo no tanque.

- Tem certeza que devemos retirar ela do tanque agora? – Karin perguntou.

- Você disse que queria um bebê em casa, não disse? – Falei.

- Eu sei, mas ela parece ser tão frágil. – Karin respondeu olhando para criança.

Eu não tinha certeza do que estava acontecendo, mas havia algo errado. Karin sentia isso também, talvez porque eu criei a bebezinha com parte das células dela.

O monitor apresentava que os batimentos dela não estavam conforme o esperado, estavam mais fracos.

- Karin leva o Mitsuki lá pra fora, por favor. – Falei tentando manter meu tom calmo.

- O que? – Ela perguntou confusa enquanto desviava o olhar entre mim, Mitsuki e a incubadora.

- Agora! – Quase gritei.

Mitsuki não estava pronto para ver o que iria acontecer.

Karin deu um breve pulo com o susto, mas obedeceu a minha ordem.

- Vem, Mitsuki. – Ela disse oferecendo a mão para o garoto.

Não demorou muito tempo até o alarme visual indicar o que estava acontecendo. E eu confirmar o que já suspeitava ao ver o corpo da minha bebezinha explodir em minha frente, deixando a incubadora com um líquido avermelhado.

- Não foi dessa vez. – Falei pra mim mesmo.

- Orochimaru-sama. – Karin disse parada encostada a porta do laboratório.

- Sim? – Respondi, tentando disfarçar o choro em minha voz.

Ouvi os passos de Karin vindo em minha direção, mas não me movi. Ela colocou os braços ao meu redor em um abraço e encostou as bochechas nas minhas costas.

- Eu sinto muito. – Ela disse, era notável em sua voz o quão triste ela estava. – Eu sei o quanto você a queria.

- Essas coisas acontecem. – Falei realmente frio. – Sempre perdemos algumas cobaias.

Soltei-me de seu abraço, caminhei até a porta, mas não a abri.

- Limpe tudo! – Ordenei e deixei a ruiva para trás.

Caminhei tranquilamente até meu quarto e tranquei a porta deixando-me desabar logo que a fechei.

Eu já tinha passado por tanta coisa na minha vida, mas ver a minha bebezinha morrendo em minha frente foi doloroso, eu dediquei muito tempo na criação dela, assim como de outras coisas que eu havia criado. Mas nada, absolutamente nada tinha sido tão doloroso quanto ver aquela cena.

- Orochimaru-sama... - Ouvi a voz de Suigetso do outro lado da porta.

- O que foi, Suigetso? – Perguntei, enxugando minhas próprias lágrimas.

- Karin nos contou o que aconteceu... - Ele respondeu e eu pude ouvir que ele tinha se encostado na porta e sentado no chão assim como eu.

Me recusei a falar qualquer coisa.

- Eu sinto muito. – Ele disse. – Sinto muito que não tenha conseguido sua menininha dessa vez. Mas, eu tenho certeza que um dia conseguirá.

Escutei ele levantando-se do chão, mas não me movi.

- Orochimaru-sama... - Suigetso fez uma breve pausa antes de cozinhar. – Deixarei seu jantar em frente a porta, caso queira comer algo.

Ouvi os passos do rapaz se afastando ao longo do corredor e eu voltei a chorar, tantos anos haviam se passado e eu continuava o mesmo. Não... eu tinha mudado.

Eu vi as pessoas ao redor criando uma família, meus objetivos haviam mudado quando eu vi o quanto Sasuke tinha crescido ao longo dos anos que passara comigo.

Eu o guiei pelo caminho errado e queria me redimir, Mitsuki era um bom começo com isso, mas eu queria uma menina.

Lembrei-me que quando eu era um adolescente perdido, Tsunade e eu conversávamos sobre essas coisas, ela me disse que não pretendia ter filhos a não ser que fosse com o amor da vida dela, mas infelizmente Dan faleceu enquanto eles eram muito jovens e Tsunade nunca realizou o seu sonho de ser mãe.

Lembrei-me de Jiraya e o quanto ele era um pervertido irritante, mas era meu amigo, meu melhor amigo e eu sentia falta dele, por mais que eu odiasse admitir, lembrei-me de que quando eu soube da morte dele eu destruí diversos hectares de florestas, quando ele morreu uma parte minha morreu com ele.

Ao longo da minha vida afastei todos aqueles que eram próximos a mim e tudo que me restava eram subordinados a mim, Karin, Suigetso e Juugo, naquele momento eu tinha Mitsuki, mas ainda faltava algo. Não éramos... bem... uma família.

Talvez eu simplesmente não merecesse ser amado, talvez eu estivesse sendo punido por todo o mal que eu já tinha feito a aquele mundo. Eu magoei e a minha melhor amiga e meu melhor amigo estava morto, eu tinha matado o meu próprio sensei e era uma aberração da natureza.

MUNDO SHINOBI - As histórias não contadas - 1º TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora