Bateu o portão com o peito acelerado.
Se escorou de costas, tremendo inteira com a mão no peito e os olhos fechados. Pediu a Deus juízo, calma, paciência e maior autocontrole. Lábios secos sob a camada de gloss borrada pelo beijo nada inocente clamavam por goles d'água insuficientes pra refrescar seu corpo. Tava quente, né? Puxou os cabelos pra cima pra abanar o pescoço suado e murmurou contra os próprios impulsos.
Que porra deu cabeça pra sair assim de um papo com Marola? Nem falava da loucura de contrariar um traficante armado na frente do bando dele, mas do porque deu mole pra Marcílio assim, de graça. Se a intenção era provocar por ego, qual sentido desse flerte descarado? Nem perdeu tempo com desculpas, se fez o que fez foi por puro fogo no rabo. Vergonha de assumir o quão atraente ele estava agora com esse ar maduro, experiente. Independente das armas e do posto de bandido de elite? Não, esses itens o coroavam como um puta gostoso.Duvidou da razão. Superou Marcílio e a história dos dois há tanto tempo... Passou na cama de tanto homem, se envolveu com tantas mulheres e nem sombra do malandro na memória, mas bastou pisar no morro pra esse gatilho disparar bem na sua cara. Mexeu com ela, mais precisamente com – entre –, suas pernas. Maldito era ele!
Cobriu o rosto com descrédito e embaraço. Rendendo pra traficante a essa altura da vida? Sem idade e imaturidade pra justificar a falta de noção, ainda por cima. Num aprendeu nada na vida não? Se jogando pro cara só porque ele ficava mó gostoso marrento e debochado? Droga... Dona Dita daria um treco se soubesse da travessura e por isso ela não podia sonhar que deu perdido no Chefão do Cabo. Sorte ter voltado com ela ainda no banho.
Bebeu mais água, segurou o surto e se distraiu pendurando as roupas pra arejar, assobiando Malandro, de Elza Soares, pra tapear qualquer postura estranha provocada pela adrenalina. Só chamou mais atenção.
— Quê que tu aprontou, hein?
— Que foi?
— Eu que pergunto. – estranhou o sobressalto. – O que tu arranjou?
— Tô só botando as roupa no sol, po. Vai que pega mofo esse monte de coisa cara porque tá no armário com essas velharia...
— Sei, mofo, coisa cara, velharia... E se coloca roupa no varal nervosa, é?
— Eu tô nervosa?
— Me diz você. Terceira vez que tu sacode esse casaco aí, parece até que vai cair os braço. Aprontasse foi?
― Aí, aí, mãe Dita, o que daria pra aprontar nessa casa além de faxina? – desbaratinou – ou melhor dizendo, tentou.
Dita terminou de estender a toalha molhada e, ainda corrigindo a forma como a neta pendurou um dos vestidos, sorriu.
— Tu sabe que do banheiro dá pra ouvir o portão batendo, num sabe, Ellinha? - merda, esqueceu!
Derrubou uma de suas jaquetas favoritas no susto. Engoliu seco e contemplou a desconfiança de dona Dita. A quem essa menina achava enganar? Tensa como nunca, ouviu pela milésima vez que “enquanto vinha com a farinha, sua avó repetia um prato de pirão” pedindo ao céu intervenção divina e num é que veio?
Batidas nas placas de ferro anunciando gente no portão. Era o danado do almoço lhe salvando da enrascada. Colocaria a euforia na conta dessa surpresa, um alívio que só durou até imagina-la pedindo todos os detalhes de sua visita à padaria. Puta merda, e se a entregadora abrisse a boca?
Até parece que Marola deixaria essa brecha.
Tatiana se esforçou tanta pra parecer natural em suas negativas sobre ter visto algo diferente que ganharia uma vaga de figuração no Projac. O patrão deixou bem claro que uma desconfiança sequer da velha e todos os presentes virariam estatística e de lá da mesa ele dava nota à essa atuação canastrona, mas convincente. Desviou as vistas porque vai que a coroa virava curiosa e sacava tudo? Ela sempre foi ótima pra pegar detalhe e ele nunca gostou de queimar Ellinha.
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A Teoria do Corre
RomanceKrystal largou tudo e todos no Morro do Cabo pra trilhar uma carreira brilhante como artista plástica no exterior. Retornando após 10 anos com o desejo de montar uma escola de artes na comunidade, ela precisa buscar a permissão da facção local, um p...