A Teoria Da Família

1.5K 220 161
                                    

Quando bateu na porta de dona Fátima e na boca sem encontrar Marola em nenhum dos dois, Maria da Graça foi logo atrás da kitnet que ele usava de motel.

Será possível que ele teve a ousadia de levar a exímia Krystiellen, artista magnânima capa da Vogue pra aquele muquifo imundo? Porra, pagava nem um motel pra gata? Por isso ela o abandonou sem nem olhar pra trás, porra! Seguiu indignada até substituir a decepção pela surpresa: quando abriu a porta e viu um monte de cabelo loiro e liso esparramado em cima do colchão mais podre que os usados no presídio em seu tempo de cadeia.

Deu algum caô com o tal plano super bem articulado que ele jurava ter passado despercebido, foi? A fofoca ficava pra depois que a patricinha vazasse sem ouvir nada comprometedor. Duas batidas na janela pra acordar logo as bela adormecida.

— Serviço de quarto passando pra avisar que já são oito da manhã, madame.

— Qual que é, Gracinha?

— Qual que é o cacete, Marola, faz favor de acordar a sua amiga aí. – bateu palmas pra acordar a menina. – Levanta, Branca de Neve, o conto de primeira fama do pó acabou. Põe tua roupa e desce antes que o pai da princesa venha buscar. – dispensou sem paciência pra reclamação de ninguém.

Acenou pra menina sair na direção de algum ponto moto-táxi que a levasse embora da favela. Bateu a porta, iniciou a “reunião de urgência”. Entregou a garrafa térmica e um pão dormido com mortadela por saber que o homem não funcionava sem o café, um cuidado que nem a mãe dele andava tendo mais por saber da incapacidade dele em reconhecer a gentileza.

— Cuidar de Tória tá te deixando com jeito de mãe, sabia? Coisa chata!

— Sabe o que é chato, viado? Tu usar minha bonequinha africana nos teus plano de comer mulher e ainda por cima me comer a mulher errada. Cadê a Krystiellen, Marcílio?

— Krystiellen... Tu acha mêmo' que eu ia arrastar Krystiellen pra esse muquifo, Gracinha? Aliás, nem me fala dessa mina não que chega me dá gastura. – afogou as mãos no pão duro.

— Ah, agora tudo faz sentido. Tu levou um fora dela e descontou no infeliz que caiu no baile de perdido?

— Fofoca corre esse morro igual moto-táxi, né?

— Ah, viado. Tu jura que eu num ia ficar sabendo? Acordei de manhã cedo pra levar Tória pra casa e me deram logo a notícia pra eu vim falar contigo. Estragou o velório legal dessa vez, hein.

— Num era tu que queria que eu mostrasse serviço? Estourei logo a cabeça do infeliz e espero que a FeJ entenda o recado.

— Serviço, FeJ, recado... Até parece que tu descarregou o AK na cara do infeliz depois de arrancar o olho e ainda fazer comer só pra mostrar pro Julius o quanto tu consegue ser ruim. Fala aí, toda essa raiva foi só pra descontar que a mina num te quis?

— Não me quis? Meu ódio foi que justo quando ela finalmente assumiu que me queria deu merda. – raivoso, puxou os cabelos enquanto bufava. – Porra, eu tava na cara do gol, Gracinha. Mó desenrolo pra quando dar certo os cara avisar que pegou o homem. Puta que me pariu, Maria da Graça, puta que me pariu.

— Aí restou pro coitado burro demais pra achar que ninguém ia achar ele entre os guerreiro?

— Do jeito que eu tava ontem, eu fazia merda até com inocente, imagina com alemão.

— Eu reparei no tanto de sangue que só faltou escorrer do meu telefone, mas deixa eu ver se eu entendi. Tu mandou um cara pra vala porque ele atrapalhou tua foda com a Krystiellen?

— Não. Eu mandei um alemão pra vala porque ele foi burro pra vir vender no meu baile e ainda deu mole de ser pego bem na hora que eu ia foder com a Krystiellen.

A Teoria do CorreOnde histórias criam vida. Descubra agora