Romana Braga, nome polêmico.
Jornalista de renome internacional, talvez a mais famosa e premiada da Latina América, colecionava prêmios na área investigativa. Popular entre o povo carioca, conquistou alguns mandatos na Câmara Municipal e na ALERJ, se elegendo sempre com o mesmo discurso de combate ao crime, ao descaso da máquina pública e corrupção de seu programa na TV ou colunas nos veículos impressos e digitais.
Conhecida como a “Tim Lopes de Saia”, era vista como uma das maiores inimigas das facções locais. Desafeto pessoal de Julius e pedra no sapato de Tartaruga, seguia firme na luta contra o crime organizado apesar dos boatos a atrelarem a alguns dos mais perigosos milicianos do Rio. Com as investigações sobre seu suposto envolvimento com a Poderosos 7, gangue de policiais e ex-agentes mais famosa em ascensão, arquivadas por falta de provas, se transformava em vítima perseguida aos olhos da opinião pública e em sortuda aos olhos de pessoas como Marola.
As mãos de Romana estavam tão sujas de sangue inocente quanto as deles, pô. Julius a odiava desde muito antes de entrar pro corre graças à propagação de uma notícia falsa atrelando seu melhor amigo, Jorge, a um caso de roubo seguido de violência sexual. Quando a "ânsia de justiça" dela em sequer conferir as informações corretas do suspeito culminaram no linchamento e morte do lavador de carros, a retratação mal feita e omissa já não servia pra nada além de força essa imagem de coitada. Com as costas quentes demais pra ser arrolada no inquérito sobre essa desgraça, seu maior incômodo com o caso foi a queda na audiência causada pelo boicote da TdC à seu programa. Qualquer um que fosse pego assistindo essa mulher seria punido independente de quem fosse, então porque caralhos Marcílio se mantinha atento a ela na segunda feira?
Talvez porque a consulta à placa da tal moto de sábado, encontrada abandonada com o pneu furado por um de seus tiros numa das saídas do Morro colocava Romana Guedes Braga como proprietária do veículo, coincidência demais. Não ver notícias sobre o ocorrido no obtuário mais sensacionalista da hora do almoço levantou a dúvida: o que ela tava tramando? Se fosse ela em pessoa sendo atacada, esse seria o destaque do mês e motivo pra mais um prêmio sobre a bravura da jornalista, então a quem ela protegia? Os olhos fixos na televisão em volume quase negativo pra vizinho algum ouvir o chefe descumprindo regras mais rígida apesar de tosca dos domínios da TdC. O bico injuriado e sujo de espuma cervejeira se estalou tedioso ao notar a testemunha por trás da arma trêmula próxima à sua nuca.
— Eu tô tentando pensar e esse 7.62 colado na minha nuca não tá ajudando, Gracinha. – colocou essa em sua lista de distrações fúteis, pra variar.
Apreensiva, Maria permaneceu na postura de combate por medo de quão maiores poderiam ser as preocupações dele para transformar os protocolos em detalhes.
— Tu sabe que eu tenho uma ordem expressa pra atirar na tua cabeça só de tu tá vendo essa merda, né? – justificou a automática reação a esse absurdo e ele sorriu convencido.
— E também sei que se tu tivesse coragem de apertar esse gatilho, não tinha nem deixado eu ouvir teus tamanco batendo no chão pra dar tempo d'eu mudar de canal. – confrontou coçando a nuca agoniada. – Agora senta aí, toma uma cerveja e para de bancar a soldado do Julius que eu não tô bom pra brincadeira hoje não. – amistoso apesar de grosseiro, apontou sua tulipa pro litrão de Heineken sobre a mesa de centro.
Ainda trêmula com o quão maluco esse idiota se prestava a ser, Gracinha encheu o copo dele e então se esbaldou com a garrafa, recuperando o fôlego. Pra não perder o casco, jogou a tampinha na cabeça oca de Marcílio.
— Cadê o respeito, Maria da Graça? – cobrou como líder, transtornando-a mais ainda.
— Enfia no cu o teu respeito, cadê tu o respeito pelo protocolo? Pra alguém que diz que num gosta de brincar com a sorte, tu tá vacilando muito pro meu gosto. Podia ser outra pessoa, sabia?
![](https://img.wattpad.com/cover/290210198-288-k532356.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Teoria do Corre
RomanceKrystal largou tudo e todos no Morro do Cabo pra trilhar uma carreira brilhante como artista plástica no exterior. Retornando após 10 anos com o desejo de montar uma escola de artes na comunidade, ela precisa buscar a permissão da facção local, um p...