A Teoria Da Nóia

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Pra quem vivia sob a filosofia do hoje, Marola pensava demais no futuro.

As reformas nos sobrados invadidos por ele para servirem de hotel de baixo custo aos voluntários e demais turistas enfim acabaram. Nada de grandioso ou profundo, apenas garantir que os quartos não caíssem sobre ninguém pra que toda essa galera brisada atraída pelo Krystais pudesse descansar tranquilo entre a pose de nobel da paz e a ressaca pós baile.

Mototáxi na frente, banheiros privados, uma fiação capaz de suportar o tanto de celular carregando e modeladores capilares sem dar curto e um bom vapor gerenciando a parada pra facilitar um acesso discreto às drogas para essa galera ainda estão retraída e sem jeito de interromper o voluntariado para saber onde buscar o melhor pó da Zona Norte. Fichas básicas pra saber quem entra e sai sem comprometesse ninguém, apenas pra ter controle sem incomodar Krystiellen toda vez. Preço justo, boas saídas de emergência mais para fuga em caso de invasão policial que para acidentes e todos os prédios distantes um dos outros para não centralizar os ganhos ou eventuais perdas.

A intuição marcou esse negócio como lucrativo logo de cara e acertou mais uma vez. No horário do almoço os moradores já apontavam sobre a lotação das ruas e, nos bares e na padaria, se indicava os tais locais de pouso. Se o fluxo aumentasse, capaz da quadra da Folia ficar pequena pro tanto de público e não poupou esforços e dinheiro pro baile fazer jus à expectativa do povo e fidelizar essa clientela. Se fosse tão bom de conta quanto de achismo, recuperaria o investimento no primeiro dia.

Ellinha era tão visionária quanto ele, né? E ainda duvidou quando ela se propôs a movimentar o Cabo. Esboçou um riso tranquilo por pensar no quanto a maldita melhorava sua vida mesmo indiretamente. Suspirou encantado, ainda bem humorado pelo tom mais calmo e apaixonado dela ao fim do telefonema e pra melhorar os ares catou o binóculo pra espiar dali da quadra como andava o dia da maldita e, porra, que mulher bonita, que aura explendida, que sorriso lindo! Pena perder a paz ao desviar poucos graus e bater a vista nas fuças do jornalista. Esse otário ainda tava lá? Sim e cercando a mulher dos outros com algum papo ruim.

Pra sorte do arrombado, não queria profanar a sagrada escola de Krystiellen com sangue, caso contrário Marola adoraria usar a cabeça dele como alvo num teste de alcance do fuzil.

— Por quê que eu não matei esse filho da puta logo, hein? – porque tal como quando Zé Pequeno perseguiu Mané Galinha, daria uma merda do caralho.

Gracinha riu nervosa ao se escorar na mureta com seu cigarro e uma Skol de 600ml pra afogar as mágoas de chifrudo dele. Sério que trabalhava pra um maluco que perdia tempo escoltando rotina de mulher às vistas de todos?

— Pra quem não quer dar saber a ninguém, tu disfarça mal pra caralho, sabia? 

— Agora fodeu!? – pendurou a mira no pescoço. – Posso nem mais cuidar da favela?

— Krystiellen mudou de vulgo agora? Conheço tua fuça, porra. Tava aí vigiando o corre da minha e viu o cara lá doido pra te dar nos corno, aí tá com esse bico maior que o meu. Se tu num tem culhão de aguentar a mina solta, devia fechar o negócio.

— Solta, solta... Fosse papo de cama só eu tava menos puto, Gracinha. Esse otário tá de maldade pra cima de Ellinha, eu tô sentindo.

— Aí, eu odeio quando tu fica com essas noia porque eu tô ficando impressionada junto. Aqui, ó, tô toda arrepiada...

— Pra tu ver... – calou-se tentando entender o que de errado havia no visual de Graça.

Roupa de piriguete, confere. Argolas do tamanho de um bambolê, confere. Tamanco da Melissa, confere. Para-FAL na cintura, confere. Batom vermelho e pirulito na boca, confere. Cabelo... Onde estavam os apliques gigantescos dela?

A Teoria do CorreOnde histórias criam vida. Descubra agora