A Teoria de Como Se Expressar

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Nem todo corre envolvia tráfico, armas e sangue derramado.

Ellinha sempre correu pelo certo e se dependesse dela mais gente seguiria seu exemplo.

Andando pra cima e pra baixo por mais de duas semanas atrás de papelada, permissões e ajuda, estava longe de dar por terminado seu serviço. Veja, a reforma no piso e na administração sequer chegou na metade apesar da lista curta de mudanças. Não parava de surgir serviço como agora que uma das telhas velhas da quadra caiu durante a pintura pra marcar o lugar como uma escola para eventuais operações policiais aéreas. Se a folha de zinco acertasse sua cabeça, doeria menos que precisar desse cuidado.

— Manda trocar, dona? – o responsável da obra perguntou e ela ergueu o ombro enquanto inclinava a cabeça.

— Se tiver risco de cair na cabeça de mais gente, faz o orçamento aí! - mandou torcendo pra não ficar tão caro.

Riqueza não a permitia esbanjar.

Independente da boa intenção, foi criada por uma avó muito pão dura que lhe ensinou a sempre desconfiar de estabilidade. Desde que chegou ao Brasil, sua renda estava mais focada nos investimentos, nos aluguéis de salas comerciais no Centro ou mesmo em propagandas aleatórias no Instagram, pouca coisa relacionada a seu foco artístico. Tão longe de passar aperto quanto de conseguir manter tanta coisa à longo prazo, entendeu precisar fazer seu nome no circuito estadual pois se quisesse convites para exposições teria que ser bem mais do que a Krystal famosa lá fora. Teria que dar um jeito de se lançar sem abrir mão do projeto. Perderia financeiramente? Talvez, porém só de olhar para a fila de pessoas buscando por informações, vagas e fichas de inscrição sentiu orgulho.

Tudo começava a se movimentar com a benção de Deus e, como não podia deixar de citar, da Tropa também muito interessada nos rendimentos que o entra e sai dos contatos dela poderiam oferecer. Mais obras bem em frente ao projeto se tratavam de hotéis de baixo custo gerenciados pelo tráfico, segundo os boatos e tudo se devia às promessas de grande público feitas por ela, que agiria temia decepcionar o dono dos prédios reformados. Melhor botar a cabeça pra funcionar se ainda quisesse a benção de Marcílio, ultimamente tão sumido.

A queda de Farofa mexeu com os ânimos do Imperador e se ainda quisesse ter sua patente no dedo e a cabeça no pescoço, Marola precisava mostrar serviço, gerar renda, segurar a bronca e manter tudo em ordem feito um gerente de empresa tentando provar pro dono merecer seu cargo – isso também dizia respeito ao projetinho fisga-gringo de Krystiellen.

Ela tremeu quando o viu chegar batendo o portão com ódio, conferindo se os trabalhadores dela e os da obra em frente ao projeto foram almoçar. Nada de flerte e nem joguinhos, desde o baile ele tava de cara virada pensando nisso dela achar um atraso de vida se pegar com ele, mas não veio falar deles em si com esse ódio todo.

— Cadê minhas ficha? As parada que tu ficou de entregar? – chegou cobrando firme.

Sobressaltada, Krystiellen estranhou a rigidez e o tempo curto pra ser tão cobrada.

— Eu ainda tô recolhendo essas coisas, achei que fosse melhor te entregar tudo pronto.

— Deixa que eu digo o que é melhor ou não pra eu saber.

— Nossa, que patada gratuita...

— Ih, Krystiellen, enche meu saco não, já é? Foca aqui que é melhor pra nós dois. Cadê, já tem data pra começar? Planejamento de abertura, essas parada?  – rude, a assustou.

— Isso é uma conferência ou tu virou meu chefe e eu não tô sabendo?

— Tu tá na minha favela, garota. Aqui, eu mando em todo mundo, até em você. – cortou suas revoltas. – Se tu quer mesmo continuar aqui com essa parada, melhor nunca mais se esquecer disso.

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