Quem toma banho premium às duas e pouca da manhã?
Fechou a porta do banheiro antes que incensasse a casa com suas essências perfumadas e levantasse suspeitas. Precavida, jogaria a culpa em seu pavor de cheirar à solvente caso precisasse justificar o porquê usou seu melhor combo sabonete-hidratante-perfume pra supostamente dormir.
Penteou os cílios alongados, deu batidinhas de blush coral, caprichou no gloss rosado. Escolheu entre as lingeries mais nova uma vermelha, como ele mais amava. Riu ao notar nela lacinhos, esperou que Michelle estivesse certa sobre isso dar sorte. O que suas amigas diriam quando descobrissem que rompeu de novo suas promessas de se afastar dele e tava ali preparadíssima para uma noite quente sabe-se lá onde? Como ele disse, ninguém mais precisava saber.
Na última conferida no espelho, percebeu por pouco não sair seminua de casa tamanho o nervoso. Catou um tubinho preto com um recorte triangular em cada lado do quadril e escolheu um salto meia-pata bonito porque nem para um encontro corriqueiro e mal arranjado abria mão de estar maravilhosa.
O relógio marcava cinco minutos pra hora marcada enquanto o coração batia cada segundo mais acelerado. Ainda sobre o sigilo, passou no quarto da avó e já no corredor ouviu os roncos altos e pesados de mãe Dita. Pra ter certeza que ela não acordaria, ligou a televisão no Arte1 e programou para desligar em 10 minutos para abafar o barulho do portão. Quando saiu, Marola já esperava mais abaixo numa Falcon de placa dublê, o veículo mais correto e discreto pra sair do morro sem chamar mais atenção que ter uma "capa da Vogue" na garupa.
Se justo a polícia estragasse sua noite, sua lista de crimes aumentaria pra caralho hoje.
Capacetes de viseira fumê pra preservar a segurança e as identidades, o único detalhe diferente para quando varavam o trânsito tranquilo da madrugada com os cabelos ao vento. Pra matar a saudade, ele fez questão de pegar um trecho menos monitorado. Velocidade alta, ziguezague bem executado e ela, apesar de enferrujada, continuava uma ótima mochilinha. Cedeu ao impulso de empinar, e não é que a maldita lembrava direitinho de tampar a placa? Bons velhos tempos e a mulher melhor ainda.
Krystal era outra agora, entretanto. Mais pesada, temeu cair. Mais cagona, bateu nas coxas dele pra cobrar limites. A chamaria de estraga prazeres se ela não recompensasse a obediência alisando sua virilha e arranhando suas costas. Atenção entre conferir as blitz no Waze, cortar caminho pra evitar quaisquer giroflex visto à distância e apalpar as coxas da garupa mais gostosa. Mãos grandes e firmes sacudindo a carne mole e pelo remexer dela no banco, acertou o ponto certo.
Respeitou o sinal fechado por instinto, fez bem. No cruzamento corriam racha, caso seguisse teriam colidido. Livramento daqueles pra começar a noite, hein. Viciado em adrenalina, ele até toparia uma corridinha se não tivesse tanta pressa pra cruzar a linha da calcinha de Krystiellen.
Foguenta, aproveitou cada um dos sessenta segundos parados para desbravar Marcílio sob a camisa, por sobre a calça, pelos braços nus, o pescoço sensível arrepiado pela deliciosa mistura dela com a brisa fria. Requebrou com a desculpa de se reencaixar no assento, uma amostra de seus planos. Viseira aberta pra ela receber seu olhar cafajeste pelo retrovisor. O deslizar dos dedos grossos pelo interno da coxa, rumo à debaixo da saia quase motivaram uma punheta. O sinal verde os impediu de aparecerem na TV procurados por atentado violento ao pudor.
Tantas aventuras tornaram maior um caminho até então curto. Por que não foram logo pra um dos motéis espalhados pela Avenida Brasil? Até parece que Marola levaria Krystiellen pra qualquer espelunca de beira de estrada. Sua Ellinha não, Ellinha merecia o melhor e o excelente, o bom já nem prestava e essa estima vinha antes da carreira internacional, da fama e das capas de revista. Talvez ela nem lembrasse, mas fez questão de levá-la onde costumavam ir nas ocasiões mais especiais ou quando o ferrado Marcílio estourava a boa num fim de semana de alto movimento ou num roubo de nível mais alto. Achou mais significativo e efetivo do que enfrentar o medo de acabarem pegos se fosse se amostrar indo pros lados da Zona Sul atrás dos lençóis de linho e seda onde ela de fato merecia se deitar.
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A Teoria do Corre
RomanceKrystal largou tudo e todos no Morro do Cabo pra trilhar uma carreira brilhante como artista plástica no exterior. Retornando após 10 anos com o desejo de montar uma escola de artes na comunidade, ela precisa buscar a permissão da facção local, um p...