Ketchup, Maionese e Mostarda parte 2

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No domingo, seus tios e Karin se arrumaram para passar o dia no apartamento de Naruto. Eles disseram que viriam buscá-lo na hora do jantar e que ele teria até essa hora para terminar de empacotar tudo o que faltava e então se mudaria de vez para o apartamento dos pais. 
 
Foi uma longa tarde. Preparou o próprio almoço, voltou a mudança. Sentia-se feliz e sozinho. A casa quieta demais lhe dava uma sensação estranha. Ele não costumava ficar sozinho, Karin sempre estava com ele. Naruto se concentrou em terminar logo a mudança para que seus pais viessem o buscar e então todos iriam sair para jantar. 
 
O silêncio o lembrava de Sasuke. O problema é que as músicas também. Depois de colocar sua playlist de música no volume mais alto, percebeu que não tinha muita escolha a não ser pensar nele. A letra não importava muito, na verdade. Seu cérebro era especialista em mudar qualquer contexto para que a música fosse parecida com sua triste vida amorosa. 
 
As vezes, a letra era boa. E quando não falava sobre amores não correspondidos, mas de um amor que não machucava, ele lembrava de Sai. E isso rendeu a tarde toda. Ele não sabia que tinha tantas coisas pequenininhas que ocupavam tanto espaço. 
 
Relacionamentos deveriam ser bons. Sua mãe estava certa: como você é tratado é mais importante do que como se sente. Sasuke podia fazê-lo ver estrelinhas com um sorriso, mas insistia em o magoar. Então não importava o quanto Naruto estava apaixonado, o quanto o amava, ou o quanto se empenhava para que eles ficassem juntos. Sasuke não valia a pena. Toda a energia gasta com ele voltava em forma de mau humor, palavras grosseiras e indiferença. 
 
A música estava alta, enquanto ele guardava suas roupas em duas malas grandes de viagem. Perto das 18 horas, ele terminou de guardar tudo e estava tomando banho, quando ouviu um barulho, onde julgava ser o corredor da casa. 
 
Seu coração bateu forte, ele saiu pingando o banheiro todo para desligar a música no celular. Achou que fosse coisa de sua cabeça, então ouviu a porta abrir, era a do seu quarto. Ouviu o girar da maçaneta. Naruto prendeu a respiração. Seu instinto foi gritar:
 
- Tia? - Silêncio. - Karin? Mãe? - Ninguém respondeu. Tinha alguém do lado de fora, tinha, sim senhor. Os espíritos vieram buscá-lo, ou um psicopata louco, ou a casa estava sendo roubada. Seu coração já batia mais rápido do que se corresse uma maratona. Bizarro isso, seu corpo estava o deixando pronto para fugir ou lutar, como um animal. - Tia? Mãe?
 
Estava congelado, tentando ouvir qualquer ruído do lado de fora. Ele ia mandar mensagem no grupo da família, avisá-los e daí ligaria para a polícia, pois se a família fosse avisada, eles já viriam e ligariam para a polícia também. Teriam mais pessoas informadas para ajudá-lo. Leu essa dica em um blog, nunca imaginou que precisaria de verdade. 
 
Abriu o Whatsapp e havia uma mensagem de Sasuke. Ok, ele também servia, estava online, iria ajudar. Abriu o chat do ex e se deparou com uma foto, a foto da porta do banheiro, tirada de dentro do seu quarto. Naruto precisou de um tempo para entender, Sasuke era o seu psicopata. Seu medo se transformou em raiva, ele se enrolou na toalha e escancarou a porta.
 
- Que porra você está fazendo? - Ele gritou. Sasuke soltou uma risadinha, estava sentado na sua cama, olhando para ele.
 
- Eu não esperava te encontrar no banho, não era para te assustar, mas aí eu não resisti. - Naruto soltou a respiração, cobriu o rosto, estava ofegante.
 
- Meu corpo está mole de tão tenso que eu estou! - Gritou, Sasuke apenas riu. Por que ele não o levava a sério, quando gritava? Ele estava com raiva mesmo. - Eu molhei o banheiro todo! Eu ia ligar para a polícia!
 
- Desculpe… - Sorriu. 
 
- Como, merda, você entrou aqui? 
 
- A chave debaixo do patinho… 
 
- E você não pensou em me ligar? Preferia entrar aqui como um psicopata? 
 
- Eu vi que o carro não estava na garagem, a janela do quarto da sua prima estava apagada e o chip que eu instalei no seu celular apontava que você estava aqui. 
 
- Você instalou um chip no meu celular? - Naruto não sabia que conseguia gritar tão alto. Sasuke não riu dessa vez, baixou a cabeça e murmurou:
 
- Foi uma piada. 
 
- Tratando-se de você, não parece uma piada. - Naruto amarrou a toalha com força na cintura e foi até uma das malas no chão, tirou uma calça jeans, uma camiseta e uma cueca. Sasuke ficou esperando e daí ele voltou marchando para o banheiro. 
 
- Ei! - Sasuke chamou, Naruto olhou para ele. Sasuke se levantou. Inconscientemente, Naruto segurou a própria toalha, pensando que Sasuke poderia puxá-la, ou sei lá. O garoto não disse nada, ele só não queria que Naruto voltasse ao banheiro, queria que ficasse com ele. Ele se aproximou, a mão tocando na bochecha do garoto que o encarou com as sobrancelhas franzidas. - Eu queria falar com você. -  Ele se aproximou um pouco mais e Naruto precisou levantar a cabeça para continuar o encarando, o que Sasuke sempre achou uma gracinha: Naruto era mais baixo. 
 
- Tem shampoo no meu cabelo, Sasuke. - E bateu a porta. É, não foi uma boa ideia. Agora Naruto estava estressado e não ouviria com carinho o que ele tinha a dizer. Sasuke ouviu o barulho do chuveiro e olhou ao redor. Nunca tinha estado no quarto de Naruto e, na primeira vez, viu apenas caixas, malas, poucas coisas em estantes. Foi assustador. 
 
Abriu o guarda-roupa e estava vazio. Gavetas vazias, cabides sem nada. Na prateleira, em cima de uma mesa de estudos vazia, tinha apenas os livros do colégio. Karin iria usá-los ano que vem, Naruto era muito cuidadoso e um nerdzinho, seria como ter o livro do professor. Havia uma caixa escrita “doar”, Sasuke abriu. Eram brinquedos velhos, carrinhos Hot Wheels, dois Max Steel, uma caixa menor e transparente com pecinhas de Lego. O coração de Sasuke apertou um pouco, o chaveirinho de cereja estava lá também. Ele fechou a caixa, não queria que Naruto soubesse que ele viu. 
 
Há mais de um ano, Sasuke lembra que Naruto roubou uma camiseta dele. Disse que queria dormir com ela, cheirando. Deve ter jogado fora. Era só um chaveirinho, não podia deixá-lo em uma gaveta qualquer? Precisava se desfazer? Estava apagando Sasuke de sua vida.
 
Tinha um caderninho em cima da cama, ao lado do computador. Sasuke pegou e folheou. Nas primeiras páginas haviam só rabiscos e nomes próprios. Depois mais rabiscos e frases soltas como “Meu trabalho é procurar no mundo real e ver os problemas. Criar os problemas e durante o enredo, resolvê-los.” Sasuke encarava aquilo em dúvida, até lembrar que ah, Naruto ainda está naquela de querer ser escritor. E então sorriu. 
 
O resto da página só dizia: David Baldacci. 
 
E mais rabiscos.
 
Em uma página havia escrito: 
 
“Emma Marinho
 Emma Salvatore?
 Emma Lima 
 Emma Fidetos????” 
 
“Emma Salvatore
 
Olhos castanhos e cabelo loiro. Magra. 
 
Tímida, engraçada, dócil, protetora, meiga, carinhosa, doce, ingênua, virgem.
Age roboticamente. 
Alegrinha demais.”
 
“Jackson Duarte
 
Negro, malhado, 1.85.
 
Engraçado, cuidadoso, gentil, excêntrico, antissocial, manipulador
 
Mandão, possessivo, muda de humor muito rápido, imprevisível, agressivo, garoto problema, difícil de lidar, grosso, invasivo, controlador, insensível, indiferente” Sasuke travou no indiferente e releu do início. Naruto filho de uma putinha. 
 
“Jackson é apaixonado por Emma. 
Emma ensina Blue a se maquiar. 
Todo mundo sabe que a Blue é louca por Jackson. 
Emma tem medo que Blue a odeie. 
Blue a odeia. 
Blue a imita. 
Blue pinta o cabelo de loiro? 
Blue passa a usar tiara.
Os amigos riem, eles percebem que ela está imitando a Emma. 
Jackson é burro demais para entender.”
 
Naruto abriu a porta, ele estava vestido, arrumado para sair. Jeans e camiseta. 
 
- O que é isso? - Sasuke apontou para a página. Naruto se aproximou e leu as duas primeiras linhas. Precisou se concentrar em não corar, não deixar óbvio para que o tom “o que é isso” não ficasse mais alto e grosseiro. Sua inspiração para o livro(Sasuke) poderia ficar irritada ao perceber que foi retratada de uma maneira tão hostil. 
 
- Eu escrevo sentenças, é um roteirinho, para me ajudar a criar o roteiro de verdade... são os objetivos que eu tenho que cumprir em uma cena. Enquanto eu sigo o roteiro, eu crio contexto para que as futuras páginas tenham um impacto maior. Aqui… - apontou para uma sentença - Jackson é apaixonado por Emma, Blue gosta de Jackson. Você precisa saber disso antes, para que a cena que a Emma ensina a Blue a se maquiar tenha peso. E a cena que os amigos percebem que a Blue está imitando a Emma, só fará sentido, se em algum momento eu citar que os amigos sabem que a Blue é apaixonada por Jackson e, por isso, está imitando a Emma, precisa ser abordado para gerar expectativa… - Naruto diz. Parou por um instante e daí perguntou: - Por que você está aqui? - Sasuke está um pouco atordoado, pensando no “indiferente” escrito na página. Um pouco ofendido. 
 
- Eu… Eu queria falar com você. - Naruto o encarou.
 
- Não é para você mexer nas minhas coisas. - Naruto estendeu a mão e Sasuke devolveu o caderninho.  
 
- Você está se mudando? 
 
- É o que parece. 
 
- Você vai ficar me tratando assim? 
 
- Ah, estou sendo grosso? - Naruto ironizou. 
 
- Eu só quero conversar. Se continuar, eu vou embora.
 
- Eu não te chamei. Na verdade, eu nem abri a porta. - Naruto o encarou, Sasuke o encarou de volta. O garoto sentou na cama ao lado de Sasuke, de frente para ele, cruzou os braços. - Fale. 
 
- Hm, quero que pense no que eu vou te dizer, ok? - Naruto deu de ombros. 


















As Duas Versões de Sasuke - Sasunaru, narusasu.Onde histórias criam vida. Descubra agora