Uma surpresa parte 2

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O apartamento estava muito abafado, quando eles visitaram de noite, mas daí eles abriram a varanda e acenderam as luzes e Naruto teve uma sensação muito boa de nostalgia. O sofá em formato de L, a mesinha de centro, a TV que seu pai e ele costumavam assistir filmes de super heróis. 
 
Uma antiga rotina que ganhava um novo significado, após deixar de ser rotina. Quem diria que ele sentiria falta da varanda(que ventava muito mais que na casa dos tios), ou as cortinas, ou o móvel estranho da sala com uns enfeites de elefante.  
 
Seu quarto estava igual como ele deixou. Karin entrou mais rápido que ele e se jogou na cama, então se arrependeu e começou a tossir. Naruto abriu logo a janela e, com um pouco de ansiedade, passou o dedo em sua antiga mesa de estudos, seu dedo ficou cheio de poeira. 
 
- Puta merda, eu não pensei direito sobre isso. - Karin se levantou da cama. Era uma cama de casal com um lençol azul escuro. - Há quanto tempo você não vem aqui? 
 
- 3 anos. - E tudo que pensou foi: Há três anos, conheci Sasuke nos transporte. Em alguns meses, eu me tornei dele. Dois anos em que Sasuke era… 
 
- Vai dar trabalho para limpar. - ...o seu tudo. Se ele não tivesse se mudado para morar com Karin, não iria de transporte para o colégio e, apesar de saber da existência de Sasuke, nunca teria falado com ele. Não teria tido uma brecha para se falarem. Uau, essa realidade paralela em que eles não se conheciam parecia tão… 
 
- Você vai me ajudar. - ...Incrível. O Naruto de 15 anos, sem a influência que Sasuke teve nele, era tão feliz. Não pensava tanto. Não procurava significado em tudo. Não se via como um fardo que precisava ser varrido da face terra. Ele só era ele. E, naquela época, ser ele era bom. - Não vai?
 
- E eu tenho opção? - Naruto ficou encarando o guarda roupa, enquanto sua prima esperava por uma resposta. Imagina… puft, simples assim: Nunca ter ido para a escola de transporte. Ou mais simples ainda: Ele e Sasuke poderiam ir com transportes diferentes, mas claro… eles moravam na mesma rua. Os transportes de colégio sempre fazem um trajeto com alunos que moram perto, mas sei lá, era só dar um jeitinho e jamais Naruto teria o conhecido. 
 
E essa ideia continuou em sua cabeça. Naruto poderia ser um ano mais novo, estudar na turma de Karin. Ou ser de outro colégio, ou ser hétero! Ser hétero seria perfeito. Ah, ou Naruto poderia simplesmente ter uma saúde mental estável e ter estabelecido limites desde o início, mas isso já seria muito mais complicado do que somente ser hétero. Ser hétero era a melhor opção.
 
Karin estava olhando para ele, esperando ele dizer alguma coisa. O garoto se encostou na mesinha de estudos e continuou: Poderia ter nascido em outra cidade. Naruto poderia ter ido morar no Líbano com os pais. Ele poderia morar em outro bairro, talvez um mais perto do colégio e que ele pudesse ir a pé. 
 
O que seria diferente? Imagina só acordar na mente do Naruto que nunca conheceu o Sasuke naquela maldita van, em uma estúpida terça feira. Ele suspirou no quarto empoeirado. O Naruto que morava nesse apartamento era outro completamente diferente. Essa versão dele agora o deixava envergonhado. Tudo o que ele queria era voltar no tempo e nunca ter falado com Sasuke, não valeu a pena e, como se não bastasse o que passou nesses dois anos, seu peito doía, porque, apesar de ter sido uma merda, Naruto o amava. 
 
- Primo? - Ela o acordou de seu transe. - Está tudo bem? - Naruto assentiu.  
 
Ou ele poderia ter conhecido Sasuke, que seja. Mas imagina se tivesse sido só uma vez. Se Naruto nunca tivesse deixado o sentimento crescer. Se ele tivesse sido cuidadoso e percebido que Sasuke era muito raso e que não dava para mergulhar. Imagina não estar quebrado em pedacinhos agora. 
 
Naruto procurou o anel no dedo e se deu conta que o anel não estava lá. Claro. Sasuke jogou seu anel e caiu debaixo da cama. Ele bufou, andou até a janela e a fechou novamente. O ar abafado e o cheiro de guardado voltaram com força. 
 
Os tios chamaram e eles voltaram para a sala. A mãe de Karin estava fechando a geladeira, quando eles voltaram, o que Naruto achou muito estranho. Havia uma caixa com produtos de limpeza na pia da cozinha e uma sacola bem grande com dois novos jogos de cama. 
 
Seu tio já estava chamando o elevador para irem. Karin e Naruto ficaram um ao lado do outro, enquanto a mãe (e tia) conferia a dispensa. Depois, os três saíram. 
 
Pelo o resto da noite, Naruto apenas deitou na cama e imaginou como seria amanhã. 
 
Bem, o amanhã não foi tão ruim. Ele ficou ansioso à toa, Sasuke não estava no transporte. Foi um alívio. Ele faltou.
 
No intervalo, Sakura veio até ele e o abraçou. Naruto ficou todo emotivo e Sai todo curioso. Mas Naruto não explicou nada. Não foi só um abraço, Sakura passou o intervalo com ele. Sentou no círculo que estava o Sai, Hinata e Lee. Durante o intervalo inteiro, ela e Naruto ficaram de mãos dadas. Depois, se despediram, ela indo para a turma A e ele para a turma B. 
 
O nome de Sasuke não foi dito. Somente de noite, quando Naruto perguntou o porquê de Sasuke ter faltado. Ela disse que não sabia, disse que perguntou, mas Sasuke a ignorou. Naruto não entendeu nada. Não tinha sentido ele a ignorar, então ela explicou: Se o Sasuke está chateado com alguma coisa, ele ignora.
 
Foi estranho saber que ele fazia isso com ela também, pelo menos isso eles tinham em comum. No dia seguinte, Sasuke estava no transporte. Vê-lo lhe deu um calafrio. Sentou tão rápido ao lado de Karin que não deu tempo de ver a carinha triste que Sasuke fez por Naruto não ter sentado do seu lado. O transporte parou na escola e Naruto voou para fora. Esbarrou em dois alunos para se esquivar e sair mais depressa. Não queria dar nenhuma oportunidade para Sasuke falar com ele. 
 
Karin percebeu. Como poderia não ter percebido? Naruto foi muito indiscreto. A prima olhou para Sasuke em pé na van, o garoto esperando as crianças abrirem caminho, ela com o caminho livre, mas estática encarando-o. Sasuke ficou quieto e quando as crianças permitiram, ele desceu da van. Naruto já estava longe.
 
O costume do casal de vir buscá-lo na sala para passar o intervalo, mexeu um pouco com a cabeça dele, quando eles não vieram na terça feira. Aconteceu poucas vezes, mas era tão atencioso. Naruto saiu para o intervalo e ninguém o esperava na porta. Ele parou por um momento, avaliando as opções que tinha: Se esconder em algum lugar, ou se aproximar dos amigos.
 
Ele não queria ser visto sozinho por esses dias, mesmo que preferisse estar sozinho. Então escolheu os amigos. Havia um hall que unia os corredores das turmas A e B, onde ficava um bebedor. Sai e os amigos estavam em um banco em forma de L que rodeava esse hall. Naruto foi até eles. 
 
Muita gente costumava ficar aqui, alguns no chão no celular, outros em rodas em pé. O grupo de Sasuke estava próximo a sala de aula. Naruto o viu, ele estava o mesmo de sempre, encostado na parede, abraçado com Sakura, os três amigos fechando uma rodinha. Naruto se apressou para chegar logo perto de Sai e poder se sentar, sair do campo de visão deles. 
 
Sai estava com a perna cruzada formando um 4, aberto, rindo de alguma piada. Quando Naruto se aproximou, ele descruzou as pernas, abriu um pouco os braços, chamando Naruto para o colo dele, que se sentou e se encaixou. 
 
Naruto estava muito dócil desde ontem. Sai sabia que tinha algo de errado, mas preferiu não perguntar. Uma hora, Naruto diria alguma coisa. O assunto na rodinha continuou e Naruto sentiu a necessidade de sair do colo de Sai, Lee ficava se esticando para conversar olhando para o amigo e isso deveria ser inconveniente. Deslizou para o banco e ficou grudadinho, perna com perna, braço com braço. Sasuke nunca permitiria isso, ele ficaria incomodado. Pensando nisso, Naruto se afastou um pouco. 
 
O garoto dobrou as pernas e se encostou na parede. Lee falava sem parar, a rodinha estava concentrada no que ele dizia e Naruto só pensava: Se eu ficar em pé, consigo ver o Sasuke. Ele está tão perto. Eu posso ir no bebedor e olhar rapidinho e depois eu volto pra cá. 
 
Naruto balançava as pernas, como se fizesse borboletinha, apesar delas estarem cruzadas. A mão de Sai estava solta no banco, Naruto pegou para ele, guardou entre as mãos e deixou em seu colo. Entrelaçou os dedos com uma mão, cobriu com a outra. Separou as mãos, entrelaçou os dedos com a outra mão e cobriu com a outra. 
 
Lee tagarelando sem parar, o grupo prestando atenção. 
 
A mão de Sai era grande e macia, Naruto ficou pensando se ele passava hidratante, enquanto alisava sua palma, depois os lados e na parte de cima. Alisava com o indicador, levinho e observando os detalhes. Os dedos eram finos e compridos, as unhas curtinhas cortadas regularmente, os pelinhos clarinhos nas falanges, as veias fofinhas e boas de esmagar. Ele brincou de correr o dedo por cima de uma veia esverdeada e esmagar levemente, depois entrelaçou os dedos de novo, olhou ao redor. Naruto estava em um mundo a parte. 
 
Lee falava e falava, ele estava falando sobre… estava falando sobre… Naruto se esforçou para entender, mas não conseguia manter o interesse e a voz de Lee era silenciada de sua cabeça. Se tornava barulho como os outros ruídos do colégio. Levou a mão de Sai até a boca e deu um beijinho. Tinha cheiro de sabonete líquido, Naruto cheirou, manteve a mão dele na altura de sua boca, enquanto respirava com a mão de Sai pressionada em seus lábios. Um beijinho, dois beijinhos, três beijinhos, quatro beijinhos… 
 
- Ô, Sai, presta atenção! - Lee reclamou. Sai voltou a olhar para o amigo, disperso. Naruto estava o distraindo. 
 
- Estou te ouvindo, pode falar. 
 
- Ah, é? E eu disse o que? - cinco beijinhos, seis beijinhos, sete beijinhos…
 
- Sai!
 
- Hm? - Sai não conseguia se concentrar com Naruto dando beijinhos em sua mão. O silêncio acordou Naruto, que olhou para o grupo de amigos e deu de cara com Lee o encarando de cara feia e braços cruzados. Não apenas Lee, mas Hinata(sorrindo), Neji(indiferente), Tenten(rindo) e Sai todo coradinho, apaixonadinho. 
 
- Ah, desculpe! - Lee não conseguia falar, se Sai não estivesse ouvindo e Naruto estava atrapalhando. Ele não tinha percebido, foi sem querer, soltou a mão rapidamente, constrangido. Ficou vermelho e voltou a olhar para frente, até que Sai pegou sua mão e levou para o colo dele. Isso o tranquilizou um pouco, não foi um incômodo. Sai estava sorrindo bobo, enquanto Lee voltava a falar. Foi tão estranho. Sai era sempre bem humorado assim?
 
O grupo continuou conversando, até que a tia da recepção do colégio surgiu no corredor. Uma mulher que um dia foi apaixonada pela profissão de coordenadora, mas que hoje era estressada em tempo integral, ela era gordinha, usava um uniforme azul marinho. Não dava para ver a cabeça dela, apenas o corpo, pois ela carregava uma cesta de palha entrelaçada, daquelas bem bonitas usadas para surpresas de dia dos namorados e coisas assim. Só que aquela era imensa e extravagante. Gritava para todo mundo ouvir: sou um presente caro. 
 
Até porque, dentro dela não tinha só chocolates, eram caixas de presentes. Embalagens. Havia uma sacola da Saraiva com um formatinho de livro, outra era um porta lápis com canetinhas brilhantes em uma plástico transparente. Também tinha uma caixinha de Lindt Lindor e um globo de neve que tocava música. Várias outras embalagens comuns de presente e uma pelúcia de raposa. O laço da cesta, puta merda, era uma bandeira LGBT. Era o tipo de coisa que fazia as pessoas olharem. 
 
Naruto olhou também, como a maioria, e quando a mulher parou e deixou a cesta em um banquinho, ela respirou fundo, olhou em volta procurando alguém e todos os olhares que ela cruzava tinha uma esperança vazia de ser chamado por ela e ganhar a cesta. Ela viu Naruto e, com esforço, pegou a cesta no colo de novo e veio até ele. Naruto arregalou os olhos, olhou para Sai, sorriu, mas parecia desacreditado do tipo “hãããã?? Você ficou louco?”, só que Sai negou, balançando a cabeça. Não era presente dele. A cesta custava mais de 500 reais tranquilamente sem nem saber o que tinha nas sacolas e caixinhas de presentes.
 
O garoto teve um calafrio. Se não era presente de Sai…
 
Quando a coordenadora parou na frente dele esperando que ele pegasse, Naruto foi mal educado ao ponto de quase arrancar o cartãozinho amarrado no laço de arco-íris. Só quando leu a mensagem curtinha, que foi capaz de segurar a cesta, em choque. A mente em tilt, o rosto travado, não acreditava no que tinha lido. 
 
O grupo de Sai estava no hall da turma B, Sasuke no corredor da turma A, a essa distância eles se fuzilaram. Naruto demorou alguns segundos até cair a ficha, então colocou a cesta no chão e pôs-se a correr. O estranho para Sai, foi que Naruto não virou no corredor, não foi para a turma A em direção a Sasuke. Ele foi para as escadas que davam ao pátio. 
 
A coordenadora ficou sem entender, os outros alunos também. Hinata foi a primeira a se aproximar e olhar o cartão, Sai foi o segundo, puxando da mão dela com certo desespero. A mensagem dizia: 
 
“Mamãe e papai estão aqui fora”
 

As Duas Versões de Sasuke - Sasunaru, narusasu.Onde histórias criam vida. Descubra agora