As Duas Versões de Sasuke - Sasunaru, narusasu.

A Miley Cyrus é a Hannah Montana

Houve tempos melhores, mas Sasuke nunca foi um príncipe encantado. Quer dizer, para Naruto ele era um príncipe encantado kink (bem melhor que os inocentes) com mau humor, às vezes.
Deitado na cama, antes de dormir, havia acabado de postar o penúltimo capítulo de sua fanfic. Primeiro postava no Spirit, depois no Wattpad (a plataforma o ignora há 3 anos, mas desistir não era uma opção) e até no Archive of Our Own (Ele traduzia para o inglês). Meu Deus, o quão desesperado ele estava para postar em três plataformas? 

Naruto tinha leitores, tinha, não tinha, em itálico. Ele escrevia uma fanfic de BTS e não tinha certeza se as pessoas que o liam eram simpáticas ou realmente gostavam da história. Talvez, um pouco dos dois. De qualquer modo, ele encarava a tela do computador, como se o simples fato de postar, fosse gerar comentários automáticos. Bem, no Wattpad é quase imediato, no Spirit leva uma hora, no Archive of Our Own, -pelo menos pra ele - podia sentar, comer, dormir um pouco. Talvez não fosse tão bom no inglês assim.    

E pensar que não era tão bom em algo o lembrava de Sasuke. Perto dele, Naruto se sentia uma agenda de 2019 no começo de 2020, vendida quase de graça, onde poderia ser escrito algumas receitas (que deveriam estar em um livro de receitas, não em uma agenda ultrapassada) ou de uso emergencial para anotar datas ou números de telefone, quando a agenda de 2019 é o papel mais próximo no momento. Ou seja, quando Sasuke deveria e preferia estar com a Sakura, ou quando estivesse tão excitado que tudo bem, se fosse ele.

Se é na raiva que as pessoas soltam a verdade, Sasuke realmente não havia gostado do seu livro. E isso ainda doía mais do que a maioria das grosserias que ele dizia quando estava com raiva. Primeiro porque 1) Merda, como ele se importava com a opinião de Sasuke.

Karin disse que gostou, Sai disse que amou e leu tudo até agora e pediu mais, mas Sasuke… A opinião dele valia mais que a sua própria e não adiantava Sai dizer que a opinião de Naruto deveria ser a mais importante, não era. Bastava agora engolir o choro e tentar mudar.  E segundo porque 2) no ranking de suas prioridades, a escrita ainda estava em primeiro lugar. Ele era ingênuo, mas não ao ponto de colocar um cara no topo. 

Sua escrita era uma escada direto para o seu coração, podia deixá-lo inteiramente triste, feliz ou com raiva. 
Com a cabeça jogada no travesseiro, ele lembrava de memórias que mereciam ser esquecidas. Do começo, quando Sasuke ainda era um perfeito imperfeito. Naruto não sabia o que fazer com textinhos ou contos que escrevia por diversão, queria mostrar as pessoas próximas, mas, aparentemente, nada é tão entediante quanto uma leitura lida por favor, nem mesmo aquele trechinho especial que você acha que é um máximo.

Sasuke tinha tantas qualidade que não precisava agradar Naruto em nada para o manter rastejando em seus pés, nem sequer ler 205 palavrinhas. Era tão curto que Naruto sentiu que podia pedir, dessa vez. Sentado em frente a Sasuke, no ano passado, ele mostrou um texto. 

“Velho
A minha cabeça pulsava, a claridade machucava os meus olhos, ouvi vozes, havia gente ao meu redor. Ele...  Ele acordou. O garoto acordou. Ouvi uma voz feminina dizer, não a conhecia. Paredes brancas, pessoas com jaleco, era o hospital ou o velho teve uma ideia para uma nova brincadeira. O lugar girou, alternando a luz branca em tons de sépia.

Ouvi meu nome. Quanto tempo que não o ouvia. Ele se repetiu. Buzinando em meus ouvidos. Está ouvindo? Uma mulher perguntou. Vamos, reaja, ouvi ela dizer. Estava letárgico, os olhos fechados novamente, ouvindo-os se movimentar sobre mim.

Tia, como ele está? Uma voz preocupada se fez presente, me esforcei para abrir os olhos, sem sucesso. Ele não está respondendo, falou chorosa, ouvi um gemido familiar, baixinho, junto com uma respiração irregular, ainda mais familiar, que me fazia lembrar de um peso no meu corpo, de me sentir sufocado.