**Capítulo 54**

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Eu estava sentada em uma cadeira de madeira, com as mãos algemadas apoiadas em meu colo, enquanto observava seriamente o juiz em minha frente, com apenas alguns metros nos separando.

Eu dividia meu olhar entre ele e o júri que ali estava. Todos calados observando minhas advogadas em minha defesa e o promotor de justiça averiguando tudo com cautela.

Mas agora, era um silêncio absoluto. O júri já tinha dado sua resposta ao juiz, e todos esperávamos saber qual seria meu destino dali em diante.

Minhas mãos tremiam um pouco, e eu mal sequer chegava a piscar. Minhas advogadas a mesma coisa.

- O júri considera a réu... culpada. - o juíz declarou, batendo seu martelo, e deixando claro que não havia mais outra opção.

Escutei ao longe a Janaína gritar em negação. Seu choro era alto e todos ali poderiam ouvir sem dificuldade alguma. O juiz mandou todos ficarem em silêncio, então Janaína abafou o choro, prestando a atenção no que ele continuou dizendo.

- Sua pena será de 3 anos, sete meses e  quinze dias pelo homicídio culposo do delegado Osvaldo Marinho da Silva.

Ouve um pouco de alívio naquele momento. Seria apenas três anos e alguns meses. Eu iria sobreviver e não perderia tanto tempo com meu filho.

Porém, Janaína voltou a chorar alto. Minhas advogadas negavam com a cabeça pelo resultado péssimo para elas.

Mas para mim isso já estava ótimo. Matei uma pessoa e agora estou pagando do modo mais "leve" que há.

Três anos. Apenas três anos.

Os policiais vieram até mim, agarrando meus braços e me levantaram para sair de lá. Passei pela Janaína e assim que vi ela chorando desesperada, eu só desejei poder abraça-lá e mentir dizendo que tudo ficaria bem no final.

Marina: Eu amo você, Jana. E por favor, cuida do meu filho quando ele tiver que sair... - pedi com a voz alta, recebendo un empurrão dos policiais. - Diz para o Luan que eu o amo. Muito. E que se ele não quiser, não precisa esperar por mim...

Me doeu dizer aquilo. Muito. Mas eu tinha que aceitar que eu ficaria três anos fora – que mesmo sendo um tempo curto em comparação ao que eu poderia ter pego, muita coisa poderia mudar lá fora. O Luan poderia mudar.

E não seria eu ser a maluca a ficar no caminho de sua vida.

Mas se ele me esperasse, tentaria de tudo para tentar ter realmente Nosso Recomeço.

Apesar de tudo, mereciamos isso.

Quando avistei Yumi, eu dei um sorriso fraco por ver que ela não conseguiu fazer eu pegar pena por homicídio qualificado – quando há intenção de matar, e não ter pego mais de 20 anos de cadeia.

Seria apenas três, pagando por homicídio culposo – quando não há intenção de matar.

Isso ficou bem claro quando a gravação daquele dia foi mostrado no julgamento.

Yumi sorria na hora, vitoriosa, mas o vídeo deixava claro que eu não sabia o que estava fazendo. O delegado atirou em mim, e eu atirei para me defender sem a intenção de matar. Com isso, ganhando a pena mínima.

Isso havia arrancado um peso das minhas costas, que agora eu até conseguia respirar sem dificuldade.

Passei quase 10 anos com medo de descobrirem desse assassinato, e agora quando já haviam descoberto e eu estava finalmente pagando, tudo parecia outro mundo.

Eu não era a mesma Marina de 10 anos atrás, boba, frágil e imatura que não suportaria pagar pelo erro que cometeu.

Agora eu tinha a noção de lidar com isso e saber que o que eu cometi foi errado e que isso era apenas a consequência de um erro meu.

Nada mais.

Daqui a pouco eu já estaria livre novamente, sem a intenção de relembrar meu passado outra vez.

Mas até lá, eu tentaria fazer se tudo pelo meu filho, e pela minha família que me aguardaria lá fora.

Eu aguentaria tudo por eles. Apenas por eles.

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