**Capítulo 56**

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Alguns meses depois...

A notícia de que as gêmeas haviam nascido a seis meses atrás veio contra mim de uma forma surreal.

Eu queria chorar de emoção, e de dor ao mesmo tempo. Dor por não estar lá com a Janaína nesse momento tão especial. De ter que saber agora – depois de tantos meses, que minhas afilhadas haviam finalmente nascido.

E enquanto Janaína falava e falava sobre tudo o que estava rolando lá na favela com a minha ausência, eu só conseguia pensar que eu perderia as fases mais importantes na vida das minhas afilhadas e principalmente na do meu filho.

Isso fez meu peito apertar de tal maneira que torci meu rosto em uma careta.

Janaina parou de falar na hora, e ficou me observando por um tempo em silêncio.

Era sua primeira visita aqui desde que fui presa e disseram que apenas depois de seis alguém poderia vir me ver.

E foi inocente da minha parte ao pensar que o Luan estaria aqui hoje.

Por um momento desejei que ele não fosse dessa vida errada e tivesse a ficha limpa, para poder vir me visitar aos domingos.

Porém, ver a Janaína alegrou um pouco a minha vida, já que passei esses meses em uma cela sozinha. Apenas eu e meu filho crescendo dentro de mim.

Sabia que essa privacidade toda tinha dedo do Luan, já que uma guardinha que sempre me entregava comida, dizia algumas coisas relacionadas ao Luan, como por exemplo: 'Ele sempre vai estar contigo', ou 'ele está fazendo de tudo o que pode por ti aqui dentro'.

Ouvir apenas essas simples frases vinda de uma pessoa paga por ele, me dava um alívio por saber que mesmo eu aqui dentro, ele estava me esperando lá fora e fazendo de tudo para eu ficar de boa aqui dentro da prisão.

Eu estava na penitenciária Nelson Hungria, no Bangu 7. E por mais que eu estivesse em cela separada, conseguia ver o quanto a maioria das mulheres daqui sequer olhavam em minha direção.

Deveriam saber quem é meu marido lá fora.

Isso por parte era bom, porque assim ninguém arranjaria briga atoa comigo, mas por outro lado era estranho, já que todas tinham medo de se aproximarem, e com isso eu mal podia fazer "amizades" aqui dentro na hora do banho de sol, que acontecia todas as manhãs logo após a contagem.

Janaina: Mas enfim amiga... o Luan está fazendo de tudo pra te manter em uma cela privada até o final da sua pena. Assim você vai poder ter mais privacidade com o seu neném assim que ele nascer.

Eu tentei sorrir, mas continuei sem conseguir.

Marina: Agradeça a ele por mim. E diz que eu estou morrendo de saudades.

Ela sorriu fracamente.

Janaína: Acredite ou não, ele disse que começará a mandar cartas para ti toda vez que conseguir, e claro que com o meu nome assinado como se eu tivesse escrito, para nenhum superior usar isso contra você. - ela disse, agora com a voz baixa. - Aos olhos dos outros vai ser como se nós duas tivéssemos um caso, meu amor.

O sorriso brotou em meu rosto de forma espontânea. Janaina deu risada. Mas tanto seu sorriso, quanto o meu desaparecerem após alguns segundos.

Janaína: Você não está presa a nem um ano, e eu já não vejo a hora de você sair. - ela engoliu em seco. - Eu sinto tanto a sua falta, Marina. Uma hora e meia de visita não é nada. Queria ter mais tempo com você...

Marina: Eu sei, amiga. Eu mais que tudo queria mais tempo contigo, você não tem noção.

O choro se entalou em minha garganta, e eu aguentei firme para não chorar na frente de um monte de pessoas que estavam ao nosso redor.

Uma as guardas passou avisando que faltava apenas cinco minutos para o horário de visita acabar.

Meu coração se apertou e meus olhos marejaram. Janaina fechou os olhos por um momento, e senti que ela estava prestes a chorar também.

Janaina: Eu juro que eu virei todo domingo para te ver, mesmo que por apenas um curto tempo. Trarei as cartas do Luan e tentarei trazer fotos da gêmeas, e de todos nós que estamos morrendo de saudades de você.

Eu sorri para ela. Janaina se levantou e eu também. E então eu puxei ela para um abraço apertado. Uma de suas mãos foi parar em minha barriga, onde ela acariciou levemente.

Janaina: E eu prometo a você que assim que sua filha ou filho nascer... eu vou cuidar dele com o maior amor do mundo até você sair deste lugar de uma vez.

Eu balancei minha cabeça concordando e assim que deu a hora dela ir embora, eu não aguentei continuar me segurando, e então eu chorei. Chorei na frente de todos como uma criança indefesa.

Eu só queria sair deste lugar o mais rápido possível.

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