**Capítulo 39**

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Dias depois...

O povo de fora, olha e acha que a vida de quem trabalha em hospital público é fácil, que nem da trabalho direito, mas estão totalmente errados nisso.

Ainda mais quando se trata de um posto de saúde em uma favela do Rio de Janeiro. Uma das várias áreas esquecidas pelo governo, que querendo ou não, se não fosse a pequena verba que o comando liberasse pra cá, estaria tudo acabado.

Aqui dentro é cirurgia de um lado, parto de outro, tudo uma bagunça, mas tanto eu, como os outros funcionários daqui, tentávamos fazer de tudo pra ficar no controle aqui dentro, pra não dar nenhuma merda.

E só quem passa por isso quase todos os dias, sabe a luta que é assim que cada paciente entra por aquelas portas num dia que está super lotado aqui, principalmente dias após tiroteios.

Isso desgasta qualquer um!

E assim que eu saí daquele posto, eu respirei fundo, fechando meus olhos por um momento.

Sai andando em direção a minha casa, no caminho inteiro pensando nas coisas que tinha rolado hoje lá dentro do posto.

Duas pessoas morreram nessa noite, e por mais que eu esteja nesse ramo a anos, por parte já me "acostumei", mas sempre fica um clima esquisito lá dentro.

E por agora, só estava querendo paz, mas acho que Deus olhou pra minha cara, e deu risada.

O outro estava lá, parado em cima da moto na frente da minha casa, mexendo no celular.

Respirei bem fundo outra vez, andando mais devagar, até parar em sua frente.

Marina: Tá fazendo o que aqui em? - perguntei baixo, cruzando os braços.

L2: Vim falar contigo. - guardou o celular no bolso, levantando o olhar pra mim.

Marina: Será que não tem como adiar essa conversa pra outro dia? Eu tô tão cansada, Luan. - fiz uma careta.

L2: Tudo bem, pô. Posso vir aqui mais tarde?

Fechei meus olhos, e fiquei pensando por um tempo, até que balancei a cabeça concordando.

Passei por ele sem nem dar mais ideia e entrei em casa, percebendo que ele não tinha tirado mais os olhos de mim.

O cara tinha um sorrisinho no rosto todo bobo, e eu revirei os olhos fechando a porta. Mas assim que tranquei, foi espontâneo soltar um sorriso de lado também.

Que ódio!

******

Tarde da noite e eu já até tinha esquecido do Luan. Estava deitada no sofá comendo pizza, assistindo a novela das nove que passava.

Tinha passado o dia inteiro dormindo, e assim que acordei, só liguei pra Jana pra saber como é que ela estava, e as crianças.

Ficamos fofocando por alguns minutos, mas logo ela teve que sair, e desde então, só estou deitada nesse sofá.

Me levantei apenas pra receber a pizza e já era. Estava em uma preguiça danada hoje.

E quando finalmente estava quase pegando em um sono, ouvi buzina de moto lá fora.

Me levantei bolada, bufando e nem querendo atender, mas pra não ser mal educada, eu abri aquela porta, e lá estava ele, parado na frente do meu portão, já fora da moto, me olhando com a maior cara de sonso.

Peguei as chaves em cima do criado mudo, e desci até lá abrindo o portão. Assim que ele entrou, estendeu a mão, com uma rosa vermelha.

Olhei pra rosa, levantando o olhar pro rosto dele, toda confusa, e ele sorria todo cheio de vergonha.

Segurei meu sorrisinho no último, sentindo meu coração acelerar, e peguei a rosa de sua mão.

Entramos na minha casa, e eu só pedi pra ele ir adiantando o que queria me falar.

L2: Primeiro eu só quero dizer que...eu sei que você tá saindo com outro aí. - me olhou, fazendo uma careta, e eu suspirei. - E tá tudo bem, pô. Não vou te impedir de seguir tua vida. Comigo não vai rolar aquela parada de mulher de bandido, sempre mulher de bandido. Relaxa!

Estreitei meus olhos, olhando ele de cima a baixo, tentando ver algum rastro de ironia ou sacarmo. Não era possível, não.

Caralho, o que fizeram com o Luan? Tá nem parecendo aquele obsessivo descontrolado que vivia comigo.

Marina: Você tá bem, Luan? - me aproximei dele devagar.

L2: Eu tô de boa, carai. Fica suave! - deu uma risada baixa. - Só tô fazendo o que você me pediu. Pra tentar mudar e pá. Tô tentando, pô.

Não pude evitar o sorriso ao ouvir aquilo, e na mesma hora eu abaixei minha cabeça, sorrindo igual a uma bobona.

L2: Mas aí, não vim aqui falar contigo sobre essa parada. - coçou a nuca, tirando um pendrive do bolso. - Aqui dentro tem as imagens do quartinho que fiquei lá na Bolívia. Como eu acabei dormindo aonde estava o carregamento de drogas, tinha camera lá dentro.

Ele se aproximou mais de mim, colocando o pendrive na minha mão, logo olhando nos meus olhos.

L2: Eu não sei o que tem aí nessas filmagens. Não consegui ver, então só peço que tu veja sozinha, e depois de tudo, você deixa a palavra final sobre nós dois. Pode ser?

Fiquei por maior tempo olhando bem no fundo dos olhos dele, sentindo uma sensação tão estranha, mas ao mesmo tempo boa. Não consegui entender, então deixei isso de lado, apenas balançando a cabeça pra ele.

Luan deu um beijo em minha testa, logo em seguida ficando todo sem jeito.

L2: Te amo pra caralho, garota.

Ele me deu as costas, abrindo a porta e saindo dali de casa, depois de dar uma piscadinha pra mim.

Mordi meu lábio inferior, contendo meu sorriso outra vez.

Marina: Também te amo, Luan... - falei bem baixinho, só pra mim ali dentro.

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