Capítulo 10

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Anna

"Esse cara é um monstro sem escrúpulos!"

Estou sentada no topo das escadas que dá acesso aos quartos da cabana em silêncio, sei que é errado ouvir conversas alheias, mas desde que cheguei aqui, sinto que algo não está certo. Que Jason não me mandou para cá apenas pelas ameaças descabidas do meu pai.

A inspeção minuciosa do guarda-costas em uma cabana no meio da nada foi o sinal definitivo que precisava para que eu entrasse em estado de alerta. Afinal, o que me passaram é que seria apenas uma viagem para me afastar de polêmica.

Portanto, não me sinto culpada de estar escutando a conversa de Lion com seu amigo escondida, é da minha vida que estamos falando.

Monstro, é exatamente isso que Robbie é, mas confesso que achei que isso era caso encerrado, que seria uma marca profunda que levaria pelo resto da vida, um fantasma que me perturbaria. Mas não que ele fosse realmente tentar se reaproximar depois de tudo que ele fez.

Massageio minhas têmporas e fecho meus olhos, tentando assimilar toda essa loucura que virou minha vida nos últimos meses. De como passei de uma pessoa alegre, que amava o que fazia, para apenas uma casca, alguém que não consegue ter fé no futuro.

Abro os olhos e observo o guarda-costas lá embaixo, sentado na poltrona totalmente compenetrado na tela de seu celular. Queria saber qual tipo de informações ele recebeu a respeito daquele idiota para deixa-lo tão chocado, mas presumo que deve ser grave devido ao seu tom de raiva quando disse que Robbie era um monstro sem escrúpulos.

Após um tempo observando-o e sentindo minha mente girar e o peito apertar diante dessas novas informações, decido me levantar lentamente e ir para o quarto. Abro a porta do luxuoso cômodo que meu agente mandou preparar para mim e caminho até a larga janela de vidro com vistas para a montanha.

A tarde está começando a ir embora para dar lugar a noite, tudo lá fora é tão lindo e sereno, a paisagem montanhosa transmite paz, mas como tudo dentro de mim está um caos, só consigo sentir vontade de chorar.

As lembranças do passado me invadem sem pedir licença, trazendo à tona momentos que eu sempre quis esquecer, mas que eu sabia que voltariam para me assombrar quando eu menos esperasse.

— Não Robbie. — O alertei mais uma vez naquela noite. — Já conversamos sobre isso e não estou preparada para o próximo passo.

— Pelo amor de Deus, Anna. Você já tem vinte e dois anos! — Exclamou já alterado, era sempre assim que ele agia quando ouvia um não às suas investidas.

Comecei a namorar Robbie alguns meses após a filmagem do terceiro filme da saga que participamos juntos, até então, tudo era especulações, os fãs enlouqueciam com a possibilidade do casal das telas se tornar real. E sinceramente, não sei em qual momento comecei o ver com outros olhos. Mas naquela época, ele era todo galanteador e educado com as pessoas que nos rodeavam.

Comigo se mostrava gentil e educado. Sempre preocupado com meu bem estar nos sets de filmagens. Um verdadeiro lorde. E eu fui me encantando pouco a pouco. Lembro do nosso primeiro beijo, em um dia que ele foi me deixar em casa após as filmagens, de como foi mágico e me senti como se tivesse flutuando, daquele dia em diante, oficializar o namoro foi quase como algo natural.

Logo começamos a sair juntos e ser vistos em público, as especulações ficavam cada vez mais fortes, até que um dia, em uma entrevista Robbie resolveu "oficializar" nossa relação. Foi nessa mesma entrevista que ele disse ao repórter que estava apaixonado, e que eu era a sua estrela da sorte, dai para frente, os tabloides começaram a se referir a mim como "Lucky star", e é por isso que odeio essa referência.

Com o passar do tempo, Robbie que era um cavalheiro, passou a se tornar um grosso, e o principal motivos das nossas brigas era por eu não querer manter relações sexuais com ele.

— E dai que tenho essa idade, só não me sinto pronta! — Argumentei novamente, essa conversa era como um looping eterno em nossos encontros, já estava no meu limite e várias vezes tentei terminar com ele.

O que se transformava em outro problema, pois assim que as palavras sobre o fim da relação saiam da minha boca, Robbie ficava transtornado, me abraçava, chorava e implorava para que não o deixasse, que faria de tudo para respeitar minha decisão, que me entendia e eu, no fim, cedia a ele.

Hoje consigo enxergar que os sinais estavam por todas as partes, ele era um cara abusivo, que queria que as coisas fossem apenas do seu jeito e no fim das contas, fez o que quis.

— Eu sou um homem e homens tem necessidades. Se não for com você, terei que procurar outra que me dê o que preciso.

Olhei para ele chocada com sua declaração, como alguém que me jurava amor, que fazia questão de dizer aos quatro cantos o quanto eu era importante para ele, falava tão facilmente em estar com outro alguém?

— Isso é absurdo, Rob! Você está me chantageando, querendo me convencer a fazer algo que não quero, que não me sinto pronta! — Eu já estava prestes a chorar.

— Você é minha namorada, Anna! — Bradou um pouco mais alto que o normal e caminhou até mim, me segurando pelo braço com força e me puxando para frente do enorme espelho do quarto. — Olhe para nós dois querida, somos o casal perfeito: ricos, bonitos e famosos. Temos o mundo aos nossos pés, não jogue tudo fora para preservar uma virgindade idiota, estamos em Hollywood, baby. Ser virgem nessa indústria é antiquado.

— Me solta, você está me machucando. — Gritei com ele, tentando me desvencilhar de suas mãos, o que só fez com que ele segurasse com mais força ainda.

— Escuta uma coisa, Anna. — Ele começou a dizer, segurando ainda mais forte meu braço e colocando seu rosto bem próximo ao meu, o rosto totalmente transtornado, eu não sabia na época, mas Robbie já estava metido em coisas pesadas, já usava drogas, o que acentuava ainda mais seu comportamento agressivo. — Você é minha mulher e mais cedo ou mais tarde eu vou conseguir o que eu quero, por bem, ou por mal. — E então ele me soltou, me empurrando contra o espelho com força o que me levou ao chão.

Robbie foi embora e eu fiquei sentada naquele canto do quarto por horas, meu braço todo vermelho por causa de seu apertão, a cabeça doendo pelo impacto contra o espelho e sua ameaça rondando na minha mente, foi a primeira vez que ele me agrediu e infelizmente, não foi a última.

Eu não sabia naquela época, mas o pior ainda estava por vir e que ele cumpriria sua ameaça a qualquer custo...

***

Sinto meu corpo estremecer diante das lembranças, o pânico se instaurando, como se todos aqueles pensamentos fossem reais novamente, passo a mão em volta do meu corpo, puxando longas respirações, tentando evitar a todo custo a crise, mas é inútil.

Tudo que venho escondendo e tentando evitar todos esses meses, me atropelam como uma bola de neve, me permitir pensar no que passei é como uma avalanche que não pode ser contida, sinto meu corpo lentamente ceder, o grito preso na garganta por meses finalmente é liberto, me sento no chão e as lágrimas invadem, tudo ao redor é um borrão, me sinto como em um buraco negro, onde até respirar é difícil.

De repente, no meio de todo caos, escuto um estrondo, a porta do quarto sendo arrombada e quando dou por mim, Lion está no quarto, ele corre até onde estou e se na minha frente.

Fixo meus olhos sobre ele, que não diz nada de imediato, não aproxima e nem me toca, mas de alguma forma, a presença dele ali me faz sentir um pouco mais protegida...


NAS GARRAS DO LEÃO - MEU QUERIDO GUARDA-COSTASOnde histórias criam vida. Descubra agora