Capítulo 18

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Anna

Odeio a sensação de acordar após um pesadelo, é como estar beira de um penhasco prestes a cair a qualquer momento, o peito aperta e me falta ar. O pior é que não são sonhos aleatórios, tudo tem a ver com aquilo que passei, as lembranças que insistem em aparecer na minha mente.

É isso que acontece quando mentimos para nós mesmos e passamos o tempo todo tentando ocultar sentimentos. Os terapeutas dizem que é preciso viver a dor, só assim seremos capazes de curá-las, mas no meu caso, esse processo de reviver a dor é demais para mim. Eu escolhi a fuga como caminho, e isso tem complicado as coisas, e meu inconsciente encontra no momento que estou dormindo a sua catarse.

Rolo para lá e para cá na cama por algum tempo, a esperança é de conseguir dormir novamente, mas estou acelerada e ao mesmo tempo com medo de pegar no sono e o sonho se repetir. É tudo tão louco, que é dolorido relembrar.

Nele, eu estava de volta ao passado, naquela noite fatídica em que tudo aconteceu. As cenas se passam em minha mente como um borrão, nada é exatamente claro e plausível, só consigo lembrar de alguns detalhes da situação. Mais precisamente, antes de ser dopada por Robbie, e depois, quando acordei já na cama com ele dormindo do meu lado.

Nem nos sonhos sou capaz de relembrar o que ocorreu de fato. Mas pensando bem, talvez isso seja uma bênção, pois não sei se aguentaria encarar os detalhes. Minha mente institivamente bloqueou toda a ação, e no fundo, agradeço por isso.

Desisto de tentar dormir novamente, me levanto e caminho até a janela e observo que a neblina ainda é espessa, ainda não amanheceu completamente. Vou até o banheiro e faço minha higiene matinal, coloco uma roupa apropriada para malhar e decido descer para fazer um café.

Saio do quarto com cuidado, não quero atrapalhar o sono do meu guarda-costas, pois se ele souber que estou acordada com certeza irá se levantar, para ficar sempre à postos e não há necessidade alguma do cara pular tão cedo da cama só porque não consigo dormir.

Desço as escadas com calma, com o objetivo traçado na mente, ir até a cozinha, preparar um café forte e ir para a esteira gastar algumas calorias. Mas quando chego ao corredor que dá acesso até ela, ouço barulhos vindo da academia.

— Parece que mais alguém também não teve uma boa noite de sono... — Murmuro, enquanto caminho na direção de onde vem o barulho.

Me aproximo do cômodo e paro na porta, me recosto no batente e observo Lion levar seu corpo ao limite enquanto soca o saco de areia. É surreal a força que ele tem e a forma precisa e ágil de cada movimento. Os músculos saltam a cada vez que ele dá um soco, ou um chute. Os sons das pancadas são tão altos por causa da força aplicada, que nem quero imaginar o que pode acontecer com alguém que ouse a incitar a ira desse cara.

Ele foca na ação, e de tão concentrado no que está fazendo, além de usar fones no ouvido, não percebe a minha presença.

Quando finalmente para os movimentos e se senta no tatame é que ele me vê e enxergo nele um pouco de constrangimento de ser pego em um momento tão particular. Lion tenta disfarçar quando pergunto se está tudo bem. Algo que só questiono por questionar mesmo, pois deu para perceber na forma com que ele estava praticamente se punido que o que acabei de ver, não é apenas um treinamento.

— Isso realmente te ajuda? — Questiono e caminho até o saco de pancadas, analisando o objeto e pensando se esse tipo de atividade poderia me ajudar a espantar meus demônios, pois acho que é para isso que Lion o utiliza.

Ele me diz que o ajuda nos momentos de maiores tensões e acabo lhe confessando que não foi por estar com sede que acordei tão cedo, não me abro por completo, mas digo que me sinto culpada por tudo que me aconteceu. Não é preciso falar abertamente sobre os fatos, Lion viu o vídeo, ele sabe de toda história.

NAS GARRAS DO LEÃO - MEU QUERIDO GUARDA-COSTASOnde histórias criam vida. Descubra agora