Capítulo 23

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Happy valentine's day, galera!!
Antes de começarem esse capítulo, quero deixar um aviso de gatilho, de violênci@ e estuprø, portanto, leiam com consciência. E comentem muito, pq é o que me motiva a continuar aqui na plataforma. E tá faltando comentário aqui, viu?!

Lion
As horas passam e as pessoas começam a deixar o bar, Lisa e seu parceiro foram e voltaram algumas vezes para a pista de dança, enquanto Anna e eu ficamos sentados na cabine os observando.
— Vocês estavam maravilhosos dançando! — Comenta Anna bem animada, quando eles retornam à mesa mais uma vez para recuperar o fôlego.
— Sinto muito você precisar se privar disso, amiga. — Lisa diz com pesar.
— Não esquente comigo, eu me diverti em ver vocês se divertindo. Estou bem, na verdade essa noite toda está muito gostosa. — A encaro e vejo que, apesar da sinceridade em suas palavras, sinto que por causa do meu cuidado, ela não está tendo a experiência completa. A culpa me consome e como a pista nesse momento está mais vazia, arrisco.
— Você quer dançar?
— Está tudo bem Lion. Não se preocupe com isso. — Sorri, o que me amolece e me dá coragem para o passo a seguir.
— Vamos. — Digo me levantando e estendendo a mão para ela, que me encara com curiosidade.
— Está me chamando para dançar? — Meneio a cabeça confirmando a fazendo virar o pescoço e me olhar com desconfiança. — E você ao menos sabe dançar?
— Claro que não. Mas você me ensina, vamos!
Anna segura minha mão estendida e a ajudo a sair da cabine, o contato suave de nossas peles me causa uma sensação estranha, algo que não sei explicar, mas que não passa despercebido. Porém, jogo esse pensamento para longe rapidamente, como tenho feito com todos os outros que a envolvem.
Caminhamos até a pista de dança e assim que paramos no meio dela me arrependo da minha atitude impetuosa.
— Eu realmente não sei dançar. — Anna sorri e balança a cabeça.
— Vamos lá, vou te ensinar. Primeiro segura minha mão assim. — Apoia sua mão direita na minha esquerda. — A outra, você contorna minha cintura assim.
— Ei, eu não sei dançar, mas sei como as pessoas se posicionam para uma dança engraçadinha. — Provoco me fazendo de ofendido, o que a leva a sorrir ainda mais.
— Certo. Então agora vem a coisa difícil, olhe para nossos pés. — Instrui. — Basta movimentá-los para os lados, um de cada vez e dois passos para cada lado. Vamos começar pelo pé direito.
— Okay.
— Dois pra lá, dois pra cá. Dois pra lá, dois pra cá. Viu? Já está dançando.
— É mais fácil do que imaginei, eu dou conta. — Comento orgulhoso.
— Tenho certeza que sim.
A musica muda para uma mais lenta, e agradeço mentalmente por isso, afinal de contas, contar passos de um lado para o outro com uma música agitada nos envergonharia diante dos outros dançarinos.
— Eu amo essa música. — Anna comenta e presto atenção para identificar qual é. O músico que está no palco nesse momento canta I'll Try do Alan Jackson.
— Eu também gosto, mas fazia um bom tempo que não a ouvia.
— Nem eu, lembro de ouvir muito quando era mais jovem.
— Anna, você ainda é jovem. E esse tipo de música não é comum para as pessoas da sua geração.
— Sei que não, mas conheci Alan em um programa de TV há alguns anos, sua apresentação me encantou e desde então, virei fã. Acho que sou um desses casos de alma velha.
— Provavelmente.
Continuamos nos movendo da forma que ela me ensinou e acabo pegando o ritmo, estou focado na dança, é como se tudo ao redor não existisse ou importasse mais. Respiro fundo aproveitando o momento de bem estar, coisa rara em minha vida, estou sempre em alerta, ansioso e nervoso.
Em um certo momento, Anna recosta sua cabeça em meu peito e fico sem reação, sinto o pulso acelerar e é como se as batidas do meu coração ecoassem em meus ouvidos. Quero afastá-la para fugir dessa sensação, mas ao mesmo tempo, tenho vontade de puxá-la para mais perto e abraçar seu corpo pequeno, mas não faço nem um dos movimentos, apenas permaneço me movimentando de um lado para o outro, enquanto ela balbucia baixinho uma parte da música apoiada em mim.

"So I'm not scared
It's worth a chance to me
Take my hand let's face eternity
Well I can't tell you I'll never change
But I can swear that in every way"

Antes da música acabar, por um breve momento fecho os olhos e nessa pequena fração de segundos permito me entregar às emoções e me imaginar em um cenário diferente da minha vida. Onde não seria cheio de traumas do passado e a guerra não faria parte da minha história. Que eu seria apenas um homem da minha idade vivendo normalmente, me apaixonando, me casando com uma bela garota e tendo um final feliz. Mas então a canção se encerra e sou jogado novamente para a realidade que em nada se parece com o que acabei de imaginar.
— Obrigada pela dança, Lion. — Anna me agradece sorrindo.
— Ao seu dispor, senhorita Miller.
Seguro sua mão e caminhamos novamente de volta para onde estávamos sentados.

***

— Foi bom estar em um lugar onde não me reconheceram. — Anna pontua assim que deixamos Lisa em sua casa. Dirijo pelas ruas da cidade que estão praticamente desertas, já passa da meia noite e as pessoas já devem estar em casa.
— É bom que tenha se divertido.
— Sim. Em Los Angeles é praticamente impossível não ser abordada por alguém a todo momento, e não apenas pelos fãs. Mas pelas pessoas do meio que insistem em fazer mídia. As amizades do pop rendem notícias. — Dá de ombros, mas vejo um lampejo de tristeza atravessar seu rosto. — Podemos não voltar para casa ainda?
— Mas onde podemos ir a uma hora dessas? A cidade está totalmente vazia.
— Só andar pela noite, sem destino certo. Não estou com sono ainda, tenho certeza que vou demorar a dormir ao chegar em casa, ainda acelerada pela agitação da noite, só quero mais um tempo para relaxar.
— Tudo bem. — Aceito seu pedido, afinal de contas também não estou com sono e assim como Anna, sair e dirigir sem destino certo também me ajuda a relaxar.
Ligo o som do carro e Dying In LA do Panic At Disco ecoa nos altos falantes, fazendo com que Anna solte uma risada amarga.
— Seria cômico, se não fosse trágico.
— Vou mudar de música.
— Não, pode deixar. — Diz e se recosta na janela do carro e olha para fora reflexiva enquanto Brendon Urie solta a voz, deixando bem claro que a cidade dos sonhos na verdade é bastante cruel.

Every face along the boulevard
is a dreamer just like you
You looked at death in a tarot card
and you saw what you had to do

But nobody knows you now
when you're dying in La

Dirijo pela noite, Anna continua em silêncio e pensativa, a alegria de minutos atrás parece ter desaparecido e quero me chutar por ter ligado o som do carro. Me lembro de quando estive estudando o mapa da cidade, de um lugar no alto de uma colina, de onde é possível observar toda Ellijay de cima e decido a levar pra lá.
Uma fina garoa começa a cair enquanto subimos a serra, pondero se devo voltar, mas como a estrada é boa e bem sinalizada continuo. Assim que chego, estaciono o carro em um local de onde é possível ver as luzes lá embaixo.
— É lindo aqui. — Anna finalmente diz algo.
— Havia visto apenas por fotos enquanto pesquisava sobre a região, mas ao vivo é muito melhor. — Ajusto o aquecedor do carro, pois na altitude a temperatura diminui, Anna coloca as mãos em frente ao vapor para se esquentar.
Ela se recosta no banco e fica olhando para a cidade lá embaixo enquanto a chuva fina começa a cair, me recosto também no meu banco e ficamos em um silêncio confortável por algum tempo.
— Eu sinto como se tivesse morrido aquela noite em Los Angeles e ninguém foi capaz de me ver. — Solta e sei que está fazendo uma alusão a letra da música que ouvimos há pouco. Continuo em silêncio, sei exatamente ao dia a que se refere, portanto espero pacientemente caso ela queira falar algo mais, ou não.
— Lembra quando me disse que eu não sou culpada de nada que me aconteceu? — Pergunta ainda olhando para frente.
— Sim...
— Você foi a primeira pessoa a me dizer isso, Lion. Não é incrível como todo esse tempo ninguém teve a sensibilidade de me confortar de me fazer entender que o culpado era Robbie? — Sinto um caroço se formar em minha garganta. Há um mundo de palavras que quero dizer para confortá-la, mas sinto que nesse momento, tudo que Anna precisa é falar.
— Lembro pouco daquela noite, as memórias que tenho é de não querer ir naquele evento, mas precisava porque era de um patrocinador. Minha relação com Robbie estava totalmente desgastada já, mas nossas equipes insistiam que era bom sermos vistos juntos para a promoção da saga. — Anna para por um instante e respira fundo. — Ele vinha se mostrando cada vez mais sem limites, era agressivo com as palavras e abusivo, querendo me forçar a fazer o que não queria. Ele costumava dizer que eu estava o testando, o levando ao limite. Mas na verdade eu não fazia nada para provoca-lo, com o tempo passei a ter medo dele e ficava sempre calada diante de seus surtos, a única coisa que não queria era ir para a cama com ele e isso o enfurecia.
Ela passa a mão pelo rosto e limpa uma lágrima que escorre de seu olho, continuo calado e paralisado, segurando com os punhos cerrados o volante do carro.
— Eu já sabia que ele estava usando entorpecentes, sempre insistia para que eu experimentasse também, mas sempre negava. Nem álcool eu consumia naquela época. Mas naquela noite, depois que todos se foram, ele me drogou. Colocou uma substância no meu copo de suco e bebi na inocência. Depois disso, tudo é um borrão na minha mente, até que acordei na cama com ele sobre mim, dentro de mim. — Ela estremece. — Ainda me lembro da sensação de dor, do desespero que senti, do medo.  Fiquei paralisada, não tive reação, não tentei revidar, nem o forçar a sair de cima de mim, apenas fiquei ali parada e deixei que ele terminasse tudo.
"Você é maravilhosa, querida!"
— Foi o que ele disse assim que terminou. Não respondi , ele estava tão chapado que virou para o lado e logo dormiu, enquanto eu continuei lá deitada, inerte por um bom tempo sem saber o que fazer, sem forças para levantar. Após nem sei quanto tempo, consegui ir até o banheiro, eu estava sangrando. Eu era virgem, Lion.
Puta que pariu! Sinto todo meu corpo vibrar de ódio, continuo com o olhar fixo em um ponto especifico à minha frente para não me exceder e assustar Anna. Mas meus pensamentos nesse momento são todos homicidas. A vontade de pegar aquele desgraçado e socar até a morte é imensa.
Nesse instante é inevitável me lembrar de Olivia, de como passou pelo mesmo após ser sequestrada pelas tropas inimigas, da sua fragilidade, de como morreu após ser violentada de todas as formas. Virgem, o cara teve coragem de estuprar a namorada virgem enquanto ela estava dopada.
— Me lavei, procurei minhas roupas pelo quarto e me vesti o mais rápido que pude, chamei um táxi e fui para casa. Naquela noite não avisei ninguém sobre o ocorrido, não tinha coragem de me encarar diante do espelho, quem dirá contar para alguém. Tomei uma quantidade excessiva de remédios para dormir e capotei, no outro dia, a diarista da casa me encontrou desacordada e ligou para a emergência. Tive que fazer lavagem estomacal. Quando acordei Jason estava lá, apenas ele se preocupou comigo realmente. Quis saber o motivo para que eu tomasse tantos medicamentos, questionou se eu queria me matar. E então contei toda a verdade para ele.
Anna dá mais uma pausa para respirar e continua.
— Fiz todos os exames, a polícia foi acionada, meus advogados também. Denunciamos Robbie, e assim que ele foi intimado a comparecer na delegacia, mentiu no depoimento, dizendo que eu consenti com tudo, as filmagens mostravam ele me ajudando a sair do bar, era como se eu estivesse apenas bêbada, mas não. Eu estava dopada, os exames toxicológicos provaram isso. Foi humilhante estar diante dele e o ver negar tudo. E o resto você já sabe, seu pai mexeu os pauzinhos e ele continua livre. Enquanto eu, estou quebrada por dentro.
Ela termina de falar, a voz que já estava embargada se transforma em um soluço seguido de lágrimas que agora, ela não se preocupa em esconder. Meu corpo continua vibrando de ódio, mas puxo longas respirações para me controlar, afinal, Robbie é um assunto para se resolver depois, nesse momento apenas Anna importa.
Olho para ela e sinto meu coração apertar diante da cena ao meu lado, Anna chora como uma criança perdida, com as mãos abraçando o próprio corpo e o olhar perdido.
— Anna, eu vou me aproximar de você agora, tudo bem? — Peço, atraindo sua atenção para mim. Aviso antes o que vou fazer, é necessário deixar a uma mulher que já foi abusada bem claro suas intenções, por mais que o impulso seja ampará-la, tem que comunicar, para não a assustar ainda mais.
Ele me encara, com os olhos vidrados e marejados, tenta respirar e consente com um aceno de cabeça.
A puxo para mim, envolvendo meus braços em torno dela, a segurando firme o que faz com que seu choro se intensifique.
— Vai ficar tudo bem, querida. Vai ficar tudo bem. — Digo baixinho em seu ouvido para acalmá-la e para me autoconvencer que essa merda toda vai passar.
Fecho meus olhos e inspiro o perfume de seus cabelos, totalmente ciente de que, atravessamos uma linha tênue hoje.
Linha essa que jamais deveria ser atravessada já que sou seu segurança. Mas há coisas na vida, que nos foge ao controle.
Justin estava certo. Eu não devia ter aceitado esse trabalho. Mas agora, já é tarde demais para voltar atrás.

NAS GARRAS DO LEÃO - MEU QUERIDO GUARDA-COSTASOnde histórias criam vida. Descubra agora