Capítulo 9

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Lion

Observo a senhorita Miller passar por mim, carregando duas malas pesadas com um pouco de dificuldade, mas com a postura ereta, orgulhosa de seu feito. Se eu fosse um cara de sorrisos, com certeza abriria um nesse momento, em que ela tenta não perder a compostura enquanto puxa suas bagagens escada acima.

Tenho que confessar que sua atitude me surpreendeu um pouco, ainda mais depois do que ela me disse mais cedo, mas assim como Jason havia me alertado, desconfio que ela realmente seja uma menina boa.

Cruzo meus braços e recosto no carro enquanto continuo observando sua luta. Não ouso ajuda-la, não acho que gostaria disso e de repente, quero que se sinta orgulhosa de sua ação, nem sei porque estou tendo esse tipo de pensamento, mas acho que talvez, lá no fundo eu saiba que depois de tudo que passou, qualquer ato de coragem tem um valor maior.

E estou certo nos meus pensamentos, pois assim que ela alcança o topo das escadas olha para baixo onde estou e ergue o rosto, vitoriosa. Achei que essa missão seria difícil, mas talvez, devido a esse humor ácido e a sede pelos desafios da atriz em questão, os dias serão no mínimo, interessantes.

***

Enquanto Anna se instala em seu quarto, faço uma varredura completa no local, a cabana — se é que podemos chamar essa casa dessa forma — é maior do que imaginei, com três quartos com suíte, sala de estar com lareira, sala de jogos, uma cozinha bem equipada, tudo extremamente luxuoso. Mas a parte mais bonita do local é a parte de trás, que possui uma área aberta com vista para as montanhas, com lareira externa, churrasqueira e uma jacuzzi imensa.

— Nunca que isso pode ser chamado de cabana!

— Não mesmo. Jason havia me dito que era confortável, mas não imaginei que o cara tinha uma verdadeira mansão no meio do nada. — Anna diz enquanto atravessa as portas de vidro que dão acesso ao lado de fora.

— Para quem gosta de sossego é um ótimo investimento. — Completo.

Ela se vira, recostando-se na mesa de madeira rústica, coloca as mãos para trás, em suas laterais firmando o corpo sobre elas.

— Eu odeio esse sossego, todo esse silêncio é mais gritante que se houvesse uma banda de rock tocando. Jas acha que vir pra cá poderá me ajudar, mas eu acho que não. Sei bem o que ele pretende, quer me fazer enfrentar meus demônios. Mas temo que seja tarde, estou quebrada demais para que possa consertar. Você sabe o que é isso, Lion? — meu nome estala em sua língua, mais uma vez da mesma forma com que foi mais cedo, com desdém. Anna Miller está tão ferida, que usa artifícios como descaso, deboche para se proteger. — Sabe como é estar tão destroçada a ponto de só querer que essa vida acabe logo?

Ela me encara, austera, com uma expressão dura no rosto, mas seu olhar é vazio e distante.

Sua postura é para me desafiar, no intuito deixar bem claro suas dores e insatisfação de estar aqui. Mas, sinto também, um pouco de vergonha em sua face, talvez por eu saber do que aconteceu com ela.

— Nada do que aconteceu foi culpa da senhorita, imagino a dor que sente, mas o único culpado é quem lhe infringiu essa dor.

Ela solta uma gargalhada sombria.

— Você não sabe de nada, não sabe o que é estar na minha pele e odeio o Jason por ter te contando o que aconteceu naquela noite. Ele me traiu!

— Ele não fez por mal, o intuito dele é apenas te proteger contra o senhor Thomas.

Ela me encara por alguns instantes em silêncio, como se analisando a situação.

— Eu queria entender essa preocupação exorbitante e repentina do Jason, tudo bem que o Robbie voltou para a cidade e houve aquela situação no bar, mas fora isso, ele nunca havia me procurado antes. Sumiu do mapa por meses. Acho que meu agente está preocupado à toa. A não ser que... — Ela para de falar e me encara. — A não ser que tenha algo mais sério acontecendo e vocês estejam escondendo de mim na intenção de me poupar. — Além de tudo, a garota é astuta.

NAS GARRAS DO LEÃO - MEU QUERIDO GUARDA-COSTASOnde histórias criam vida. Descubra agora