Lion
Pulo da cama bem cedo como sempre, nem mesmo a calmaria do interior é capaz de desligar a minha mente agitada. Ainda mais que tive acesso aos arquivos sobre Robbie e os acontecimentos da noite passada com a senhorita Miller, tudo me deixou extremamente agitado e já era madrugada quando consegui tirar um cochilo.
Achei que meu maior inimigo nessa missão seria conviver com a jovem atriz, uma vez que faz anos que não trabalho direto com o cliente, mas a missão se tornou mais chocante do que imaginei. Meus alertas estão todos ligados e algo me diz que preciso muito ficar atento e de olho em tudo e com anos de experiência, aprendi a ouvir minha intuição, ela raramente falha.
Vou até a cozinha externa da cabana e preparo um café forte para ajudar a despertar e mandar o cansaço para longe, bebo o liquido fumegante olhando para as montanhas. A beleza desse local é surreal, o silêncio, a natureza tudo é um conjunto maravilhoso.
Estou a espera dos funcionários que Jason contratou para cuidar da manutenção da cabana durante esse mês, uma equipe pequena, uma diarista, um jardineiro e uma cozinheira. Porém, faço questão de inspecionar cada um deles. Sou um cara que preza a prevenção, saber quem circulará na casa é essencial, e há algumas regras e cuidados que preciso alertar essas pessoas.
Além de Anna Miller ser uma pessoa famosa e precisar de discrição, ainda temos esse agravante de que é melhor que os repórteres não saibam onde ela está, pois então deixaria de fazer sentido ela sair de Los Angeles, sei que Jason já deve ter cuidado desses detalhes, mas não custa nada checar.
***
Após conversar pessoalmente com cada um dos servidores, fiquei mais aliviado. Jason teve o cuidado de enviar pessoas de meia idade, o que é tranquilizante, pois tendem a ser menos deslumbrados que os jovens. Para falar bem a verdade, eles sabem que Anna é uma atriz, mas ao que parece, não são o tipo de público dos filmes que ela fez até agora.
Aproveito que a casa está mais movimentada, oriento o jardineiro a ficar de olho ao redor, para evitar que algum estranho se aproxime, enquanto a diarista e a cozinheira cuidam dos serviços necessários dentro da cabana. Só assim me sinto à vontade para sair um pouco e cumprir o que disse a Justin ontem à noite, fazer uma varredura no local. Enquanto percorro pela vizinhança não utilizo o drone, apesar de haver poucas casas na região, é indelicado sobrevoar residências, além de crime por invasão de privacidade. O local é bastante calmo, pelo que dá para perceber, as pessoas utilizam essas casas mais para férias ou finais de semana, o que pode justificar o fato de cruzar com pouquíssimas pessoas durante a caminhada.
Sobrevoo a parte de trás da casa e assim como previ, a área é bastante preservada e mata fechada, o que ocupa uma grande extensão até se perder de vista, acredito eu que vá até as montanhas. E também assim como já havia percebido, não há estradas o que dificultaria bastante a aproximação de alguém por esse lado. O que me deixa mais calmo, uma vez que a via de entrada e saída da cabana é apenas pelo lado principal.
A verificação me toma um pouco mais de uma hora e algumas milhas de distância, na volta, aproveito para colocar os fones de ouvido e correr um pouco antes de voltar para casa. Coloco uma playlist para tocar e Shots, do Imagine Dragons é a primeira canção, o que é bom, pois a música agitada ajuda a acelerar a corrida.
Corro por mais meia hora e então decido voltar, apesar de não ser um exercício tão pesado quanto estou acostumado, foi o suficiente para me fazer suar e liberar um pouco de endorfina e já me sinto um pouco melhor, a falta de descanso já não incomoda mais.
Apesar do curto circuito que fiz, foi o suficiente para suar a camisa. A retiro e jogo sobre o ombro e continuo o percurso caminhando até a entrada principal da cabana, como ainda é muito cedo, acredito que a senhorita Miller ainda está dormindo e não me preocupo em colocar a camiseta novamente. Na minha cabeça a intenção é clara, vou entrar e ir diretamente para o banho, colocar uma roupa apresentável e ligar para Justin e Jason. Porém, muito seguro de si, eu sequer cogitei o fator surpresa, e foi isso que me trouxe ao centro da sala principal, de frente para Anna e uma convidada que nem sei quem é.
— Eu... Me desculpem, achei que estaria sozinha e dormindo ainda. — Me adianto em me justificar enquanto as duas me encaram. A mais velha me olha de cima a baixo com um olhar embasbacado, enquanto a outra me encara com um sorrisinho de canto de boca, e nem sequer disfarça quando encara meu abdome.
— Uau, quem diria hein, querido guarda-costas, que debaixo daquele terno teríamos tudo isso! — Diz em tom de deboche e apontando a mão na minha direção. Sei que está me provocando, mas o ato me intimida, me apresso em colocar a camiseta em frente ao corpo.
— Me desculpem mesmo, jamais seria indelicado dessa forma.
— Que besteira, querido. — é a vez da mulher mais velha, — mulher essa que eu ainda não sei quem é falar. — Pode ter certeza que esse seu descuido fez a vida de duas mulheres mais feliz hoje não é querida? — Ela se vira para Anna e dá uma piscadinha, recebendo um sorriso de volta. — Muito prazer, eu sou Júlia, a mãe do Jason. — Completa me estendendo a mão.
Não gostaria de ver meu rosto nesse momento, pois com certeza estou vermelho como um pimentão. O calor que estou sentindo em minhas bochechas com certeza é rubor. Meu Deus, eu, um homem feito, ruborizado.
— O prazer é todo meu, senhora Brown. — Digo pegando sua mão estendida.
— Sem essa de senhora Brown, assim como disse para Anna há pouco, não sou uma mulher de formalidades. Meu filho já deve ter alertado vocês sobre mim.
Sim, lembro bem dele dizer que a mãe era um pouco entrona, mas a verdade é que a mulher na minha frente, é mais jovem do que imaginei, uma senhora bonita e com sorriso fácil, que exala simpatia.
— A grande verdade é que eu quem devia me desculpar por estar aqui tão cedo, mas confesso que não me aguentava mais de curiosidade para conhecer os convidados do Jas, ver essa casa sendo utilizada me deixa muito feliz, pois me parte o coração ver todo esse luxo usado poucas vezes no ano. E queria conhecer essa menina — continua se virando na direção de Anna. — Que é tão querida pelo meu filho. — Ela sorri para a atriz, que baixa os olhos, é a vez de ela ficar ruborizada com a atenção recebida.
Posso não conhecer a senhorita Miller muito bem, mas já trabalhei para outras pessoas do meio artístico e o que vi durante anos de experiência é que, são solitários, amizades verdadeiras e carinho gratuito são quase nulos, tudo é um grande jogo de interesse. Talvez seja por isso que ela se sinta envergonhada diante de uma demonstração quase maternal.
— Já disse e vou repetir, é um prazer te receber aqui e te conhecer, senho... — é Anna quem faz as honras, mas para assim que a mulher coloca as mãos nos quadris. O que a faz sorrir. — Como eu ia dizendo, é um prazer imenso te receber aqui Julia, apesar da casa ser mais sua do que minha. Quanto ao horário, também não há problemas, acordei mais cedo do que de costume, acho que o ar do campo fez bem para meu descanso.
— Isso com toda certeza, querida. Ellijay é um lugar maravilhoso, você vai amar conhecer toda a cidade. Aqui todos somos amigos e não se preocupe, já avisei a todos que não quero grandes alardes, nem fanatismo.
— Não precisava se incomodar com isso. Eu compreendo, faz parte do meu trabalho lidar com as pessoas.
— Eu sei que sim, mas Jason me disse que tem passado por grande estresse, mas aqui não será assim, vou garantir que tenha dias felizes na cidade.
— Obrigada...
— Bom, se as duas me dão licença, eu vou subir e tomar um banho e ficar mais apresentável. — Interrompo-as, louco para sair dessa situação, mesmo que o foco não seja mais em mim.
— Oh, claro! Fique à vontade, querido. Anna e eu vamos conversar um pouco mais e logo vou embora. Mas antes de ir, quero convidá-los para um churrasco que faremos em casa no sábado, o tempo estará bom e será ao ar livre e é uma ótima oportunidade de conhecer novas pessoas.
— Eu estou à disposição da senhorita Miller. — Digo e olho para Anna. — O que ela decidir, estarei de acordo.
— Certo, vamos decidir não é Anna?
— Claro... — Responde um pouco incerta.
— Com licença. — Me despeço e saio apressado em direção às escadas, quando subo alguns degraus, olho para baixo e percebo Anna me encarando, ao invés de se sentir envergonhada por ter sido pega espiando, ela sorri levemente e ergue a sobrancelha desafiadora, como se fosse alguém que soubesse de um grande segredo. Desvio o olhar e corro para meu quarto, só um banho gelado para acalmar esse calor e constrangimento que estou sentindo.
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NAS GARRAS DO LEÃO - MEU QUERIDO GUARDA-COSTAS
RomanceNAS GARRAS DO LEÃO - MEU QUERIDO GUARDA-COSTAS [Capa e sinopse temporárias] Após um incidente traumático, a vida da atriz Anna Muller muda completamente, a menina doce que cresceu diante das câmeras se transforma em poucos meses na "garota problema"...