Ainda meio cega, ela utilizou seus outros sentidos para desviar da chuva de golpes que o homem desferia. Kara agarrou-o novamente, detendo-o com um sufocante abraço de urso. Não havia tempo para uma apresentação mais formal àqueles punhos tão inesperadamente violentos.
O homem contorceu-se com a ferocidade de um tornado.
— Pare de lutar, seu tolo — esbravejou Kara — Estou aqui para salvar você
Parecia que o homem não conseguia decifrar as palavras que saiam da boca encoberta de Kara. Ou não acreditava nelas. Ele deu um chute excruciante na canela esquerda de Kara e a acertou com o joelho. Kara quase não conseguiu evitar aquele último impacto, maravilhada com a agilidade de William. Aquele sujeito pequeno teria lutado de igual para igual se estivesse com as mãos livres e com mais espaço.
Kara descobriu a boca e jogou-o contra a parede de pedra, com um braço aplicando pressão suficiente na garganta para fazê-lo para de lutar e inclinando seu rosto para que fizessem contato visual.
Um zunido atravessou-a novamente quando aqueles olhos brilhantes encontraram os seus, o corpo que ela aprisionava debatendo-se em pânico
— Não me faça apagá-lo e carregá-lo como um saco de roupas sujas. Não tenho tempo para a sua paranoia. Agora, faça o que eu mandar, se quiser sair daqui vivo
Ela não esperou por consentimento. Porém, um segundo antes de se mover, Kara achou ter visto a hostilidade nos olhos de William se abrandar. Ela arquivou aquela observação para uma análise posterior enquanto o arrastava de volta.
Uma troca de tiros cortou a noite, surpreendendo-a
Os reforços deviam ter chegado. Seu coração se acelerou com a necessidade de juntar-se aos seus amigos. Mas ela não podia. Todos concordaram que a única coisa que importava era a segurança do alvo. Nada nem ninguém mais; era indispensável.
Sentindo o sangue ferver e congelar ao mesmo tempo, Kara virou-se para o homem. Eles teriam de usar a rota de fuga que ela planejara.
O homem já estava à sua frente. Kara pegou um punhal de seu cinto e arrancou as amarras de Dey, e então se abaixou para ajudá-lo a sair pela janela. E o homem surpreendeu-a novamente. Com um simples movimento, ele pulou como um gato sobre a beirada da janela, pegando então impulso para se jogar pela abertura. Em um segundo Kara ouviu o som inconfundível de alguém caindo no chão no lado de fora.
Esse cara era um acrobata? Ou um agente das forças especiais?
Independente do que fosse ele era muito mais do que Kara imaginara. Ela só esperava que aquele teimoso não tivesse fugido, ela demoraria mais do que os três segundos que o sujeito levara para sair dali.
Em dez segundos, Kara mergulhou pela abertura. Ela deixou-se cair de cabeça para baixo, aterrissando com os braços estendidos. Teve a visão invertida da silhueta do homem, aguardando-a. Afinal de contas, Dey era inteligente o suficiente para saber quais eram suas melhores chances.
Kara endireitou-se e correu em direção ao homem, em um movimento contínuo.
— Siga-me.
Sem uma palavra, ele a seguiu.
Eles correram pelas dunas, guiados apenas pela bússola fosforescente de Kara e as luzes das estrelas. Ela não podia usar uma lanterna para voltar para o jipe, e não havia como saber se seus adversários haviam passado por seus amigos.
Eles correram sem saber se os outros estavam em segurança. Kara só teria certeza quando chegasse ao helicóptero a quilômetros de distância e entrasse em uma zona de cobertura onde pudesse se comunicar com eles.
Por hora, ela só pensava em proteger William Dey. Dez minutos depois, ela sentiu-se segura o suficiente para concentrar seus sentidos no homem. William a acompanhava. O ritmo de seus pés dizia que ele corria mais rápido que Kara, para compensar a diferença do tamanho de suas pernas. Além de ágil e um bom lutador, ele estava em ótima forma.
Boas notícias. Ela não queria ter de carregá-lo até o jipe se ele desmaiasse. Mas não havia risco de isso acontecer, William mantinha o ritmo notavelmente, respirando sem dificuldades.
E novamente algo... Inexplicável varreu o corpo de Kara conforme aqueles sons preenchiam a noite, mesmo com seus ouvidos sendo bombardeados pelo vento. A sensação originava-se em algum lugar atrás do peito e aprofundava-se, para baixo.
Ela rangeu os dentes ao se aproximar do jipe de dois lugares, pulando dentro do veículo
— Entre aqui atrás
Sem titubear, William sentou-se atrás dela, colocando as pernas ao redor de sua cintura e pressionando o corpo contra o dela, como se isso fosse algo corriqueiro.
Kara sentiu um arrepio quando ligou o motor. Em instantes, ela manobrava o veículo por entre as dunas, dirigindo com mais violência do que a situação exigia.
Ela dirigia em silêncio, catapultando o carro pelas dunas e caindo em suas depressões, esparramando areia e levando o motor ao limite. A cada solavanco, o homem se comprimia mais contra Kara, como se ambos fossem se fundir.
Sua respiração ficou difícil conforme o calor do corpo do homem era transmitido por cada ponto de contato, encharcando suas costas.
Adrenalina. Era isso. Desconforto. Por ter alguém tão próximo de si, mesmo nessas circunstâncias.
Sim. O que mais poderia ser?
Em minutos, a silhueta do helicóptero Mi-17 surgiu. Era a melhor visão que Kara já tivera. Ela não só conseguira escapar, como também tiraria aquele sujeito das suas costas.
Ela freou desenhando um enorme arco na areia, quase capotando o veículo antes de parar abruptamente no lado do piloto.
Kara soltou as mãos de William de sua cintura e saiu do carro. O homem pulou para fora, novamente com a agilidade de um gato, e esperou por orientações.
Quando sua visão adaptou-se à escuridão, Kara o observou em detalhes. Com seus cabelos pretos agitando-se contra o vento e seus olhos iridescentes, William parecia um elfo lunar, etéreo, sua beleza intocada pelos esforços...
Sua beleza?
—Entre no lado do passageiro e aperte o cinto. — Sua agressividade era direcionada para seus pensamentos e reações insanos. — Vou colocar o carro no compartimento de cargas...
Primeiro, o som de um trovão.
Depois, a compreensão. Era um tiro.
Então, o choque no olhar de William.
Por último, a dor.
Kara fora atingida.......
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Como provocar uma princesa
FanfictionA princesa Kara Zor-El resgatou Lena Luthor, então refém da tribo rival de sua família, carregando-a em seus braços fortes. Porém, logo descobriu que havia muito mais do que imaginava por trás daquela beleza selvagem. Lena guardava uma importante in...