Capítulo 18

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Kara ignorava a dor e sufocava a exaustão.

Ela precisava aguentar até levar Lena ao oásis.

Os homens que voltaram com ela se ofereceram para tomar conta de Lena, dos dois.

Mas ela não poderia. Não permitiria. Ela precisava ser a única a salvá-la. Como prometera.

Kara pedira para que alguns deles voltassem pelo rastro dela e de Lena para recuperarem os equipamentos que ela abandonara, antes que a tempestade de areia os atingisse. Principalmente os suprimentos médicos. Kara permitira que aqueles que permaneceram o ajudassem a colocar Lena sob o cavalo, abrigada nos braços dela como estivera durante os descansos da penosa jornada.

A cavalgada de volta ao oásis demorou mais. Muito mais. Cada instante parecia se expandir, recusando-se a ser substituído pelo próximo, prolongando a provação de Kara

A cada passo que se afastara dela, Kara ficara mais fora de si. Kara se forçara a focar no caminho para o oásis. Mas a visão de Lena enrolada em cobertores e abrigada na barricada de uma duna ficara marcada em seu cérebro. Ela começara a perder a sanidade, sabendo que a proteção dos cobertores se transformaria e a sufocaria quando a paisagem ártica do deserto se transformasse em um inferno escaldante. Ela rezara para que a mensagem que ela deixara na areia não fosse apagada pelo vento implacável, que Lena tivesse ouvido a súplica que Kara fizera antes de partir para que acordasse logo, lesse a mensagem e usasse os cobertores como abrigo, com a armação da tenda que ela deixara.

Mas a mensagem havia sido apagada. E Lena tinha se descoberto, mas não utilizara as cobertas como refúgio contra o sol. Depois de cinco dias de provações além dos limites humanos, fora um milagre ela ter aguentado tanto. O único motivo que ela tinha era salvá-la.

Kara a segurou com mais força, seu coração enfraquecendo-se novamente ao imaginá-la acordando sozinha e sem explicações do desaparecimento dela

Foram os cálculos errados dela que os deixaram nesta situação. O terreno mudara drasticamente da última vez que ela estivera ali, e, por temer a letalidade da areia movediça, além da distância que as separava do oásis, ela fizera um caminho muito maior por precaução. Kara se livrara dos suprimentos tarde demais, quando a exaustão irreversível já tomava conta delas

Kara chegara ao oásis em completo esgotamento. Percebera seu estado nas expressões horrorizadas daqueles quem correram ao seu socorro. O horror deles aumentou quando perceberam que Kara estava sangrando. Em sua corrida louca, ela abrira os pontos.

Kara deixara que o povo do oásis fizesse curativo e a vestisse com roupas apropriadas, engolindo bebidas revigorantes apenas porque sabia que não seria bom para Lena se ela não se cuidasse. Em questão de segundos, Kara subiu no cavalo mais poderoso e irrompeu do oásis com os melhores cavaleiros atrás de si.

Demorou mais de uma eternidade até que ela voltasse para Lena

Kara gemeu. Mesmo à beira da morte, sua Lena era a essência da compostura e da graça. E da perspicácia. Uma risada escapou dela conforme as palavras de Lena ecoavam dentro dela novamente. Kara repetiu as últimas palavras antes que Lena se entregasse ao esquecimento em seus braços.

Você é a coisa mais maravilhosa que já me aconteceu...

Ela pode ter dito aquelas palavras por ter sido salva. Mas Kara as respondera do fundo do coração.

Depois de uma hora interminável, Kara parou bruscamente o cavalo na frente da cabana que fora preparada para ela

Ela deixou os outros carregarem Lena apenas para amarrar o cavalo. Então a tomou, como se temesse que ela evaporasse.

Como provocar uma princesa Onde histórias criam vida. Descubra agora