Capítulo 13

751 158 9
                                    

Lena não disse nada. Então se aproximou de kara e deu um tapinha no próprio colo.

— Você deveria deitar-se de novo. É óbvio que bateu a cabeça e tudo o que você disse é fruto de um cérebro danificado.

— Você acha então que ele não é danificado por natureza?

— Claro, como é esperado de sua linhagem. Mas, quando alguém sugere uma caminhada no "meio do nada mais hostil do planeta", é hora de uma intervenção médica.

— Na verdade, é uma caminhada de apenas 80 quilômetros. É á distância até o oásis pra onde estávamos indo antes deste pequeno contratempo.

Kara estremeceu ao ver a esperança surgir em seu rosto ultra expressivo sendo então rearranjado na imagem do alívio, para depois ser reprimido.

— Por que não disse antes? Isso não é longe.

— Isso equivale a duas maratonas. No deserto. Com as temperaturas chegando aos 48°C ao meio-dia e aos -6°C durante a noite. E isso se nós fizermos um trajeto em linha reta até o nosso destino, o que não seria o caso. Não com o mar de areia movediça pelo caminho.

Lena encarou-a desafiadoramente.

— Se você está tentando me assustar, pode parar. Não vim para Krypton direto de uma sala de exames com ar-condicionado em um hospital cinco estrelas, mas da sala de emergência frenética e sem recursos de um hospital-escola na África. Aguentei o desconforto durante todos os meus anos de trabalho e já encarei o perigo e o desespero algumas vezes, por escolha própria.

Kara pausou para admirá-la por alguns instantes antes de dizer:

— Só estou tentando prepará-la. Garanto que passaremos por isso da maneira mais eficiente possível, mas preciso que você esteja a par dos fatos. Até agora, passamos pela parte fácil. Daqui em diante encararemos o deserto.

Kara pôde ver o ímpeto e a determinação de Lena vacilarem, dando espaço para a incerteza e o medo.

Mas o lado bom de um desafio é que ele mantém a pessoa focada. Talvez kara devesse intensificá-la, mantendo todas as faculdades dela ocupadas na situação e nela

— Enfim, é bom saber que eu não vou ter de lidar com uma frágil donzela.

— Contanto que eu não tenha de lidar com uma princesa frágil!

Ali estava ela. Ricocheteando de volta. Kara então riu, balançado a cabeça.

Elas estavam nos destroços de um helicóptero caríssimo e do que poderia ser outro planeta, tamanha a desolação da área. Kara iria enfrentar a barbaridade do deserto em sua frágil condição para garantir a segurança de Lena. Lena parecia desejar que kara e sua família desaparecessem da face da Terra.

Ainda assim, kara nunca apreciara tanto alguma coisa, nunca esperara tão ansiosamente por algo.

Até mesmo a resposta que conseguiu arrancar de lena era um ponto contra ela.

Não que kara deixaria isso ou qualquer outra coisa ficar no seu caminho.

Kara sempre conseguia o que queria.

E ela nunca soubera que poderia querer algo tanto assim.

Tudo o que lena sabia, sentia e era precisava ser de Kara. Seria dela

Kara virou a cabeça e o olhar de Lena deixou transparecer involuntariamente admiração e sensualidade através do cabelo que lhe caía sobre os ombros.

O prazer acelerou seus batimentos.

— Agora que estamos combinados, que tal guardar a sua inimizade até sairmos vivos dessa?

— Você só está sendo gentil comigo porque precisa de mim. A cicatrização inicial de um ferimento desse calibre leva de quatro a dez dias.

Kara sabia disso. E sabia também que lena precisava provocá-la para manter-se animada. Kara não se importava.

— E você precisa de mim. Não vai encontrar ninguém para pedir uma carona até o oásis mais perto. Então, que tal ser gentil comigo!

Os olhos de Lena queimaram de vexame e resignação antes de ela pigarrear.

— Ok, ok. Admito que a necessidade seja mútua.

— Em todas as formas. Mesmo que você esteja muito zangada agora para admitir.

— Oh, cale a boca.

Ninguém sabe a quão mágica e avassaladora a noite pode ser até vivenciá-la no deserto.

O problema é que ela também é absolutamente petrificante e estranha.

Lena sabia que elas estavam no meio do nada. Porém, antes de sair do helicóptero, aquilo era apenas um conceito, uma figura de linguagem. Agora aquilo era real. E impactara cada sentido e inundara cada percepção sua. Ela finalmente pôde apreciar aquilo.

E que sorte apreciá-la de onde estava.

Kara pousara a 18 metros do topo de uma daquelas dunas homéricas de que ela falara. Dali Lena conseguia uma visão quase ilimitada dos tempestuosos oceanos de areia que pareciam fervilhar com uma energia misteriosa, emitindo uma coloração indefinível própria e uma iluminação sombria. Nos limites de sua visão, havia a demarcação precisa de uma cúpula infinitamente profunda cravejada de estrelas, estilhaços vivos da criação.

Sob a luz omnidirecional, cada ondulação íngreme criava sombras que pareciam se metamorfosear em formas, entidades. Algumas pareciam encará-la de volta, outras pareciam acenar, e algumas ainda pareciam rastejar para mais perto. Isso a fez entender por que as fábulas do Oriente Médio são tão vividas e, algumas vezes, macabras. Ela sentia com um gênio ou algo pior fosse se materializar ali a qual momento.

Mas ela já havia encontrado seu gênio.

Kara estava retirando os destroços da parte detrás do helicóptero para chegar até os suprimentos para a jornada até o oásis.

Lena estremeceu novamente, desta vez batendo os dentes, tanto pelo crescente medo quanto pelo frio de gelar a espinha, intensificado pelo vento.

Embora Kara estivesse fazendo barulho cortando o metal retorcido com as lâminas que encontrara na cabine e o uivo do vento tivesse aumentado, ela parecia tê-la ouvido.

Kara tomou-lhe o rosto entre as frias, grandes e rústicas mãos e franziu o cenho.

— Você está congelando. Volte para a cabine.

— Sim, estou com frio, mas não congelando. E você que está seminua

A última palavra dela perdeu-se devido ao seu bater de dentes.

Kara ficou ainda mais sério.

— Precisamos estabelecer algumas regras básicas. Quando eu disser algo, você obedecerá. Sou sua comandante aqui.

Lena pôs as mãos na cintura.

— Não estamos no exército, e eu não sou um de seus soldados.

— Eu sou nativa daqui. E sou a líder desta expedição. Achei que tínhamos concordado que teríamos responsabilidades iguais.

— Nós temos. Em nossas áreas específicas. É você a cavaleira do deserto, certo?

Kara a encarou, fingindo estar afrontada, com uma das mãos sobre o peito.

— Por quê? Não sou a melhor escolha para o papel?

— Com certeza você é. — Com um "o"maiúsculo, ela completou mentalmente. — Mas chegamos à conclusão de que as aparências podem enganar.

— Achei que eu tivesse estabelecido que elas não pudessem.

— Então você é o que parece ser. Mas poderia ser um protótipo e essa ainda seria a minha área. Sou eu a qualificada para julgar quem de nós corre o risco de ter hipotermia. E, até você vestir roupas térmicas como eu, essa é você. E, agora que você já bancou o Incrível Hulk e rasgou os destroços em busca dos suprimentos, volte para a cabine. Vou pegar as coisas de que precisamos.

Como provocar uma princesa Onde histórias criam vida. Descubra agora