Por uma aparente eternidade, o horror congelou-a. Então o telefone de Kara tocou.
Kara se contorceu, olhando para baixo como se não estivesse entendendo de onde vinha aquele som.
Lena se soltou e subiu correndo as escadas. Lena queria continuar correndo, para longe de si mesma.
Então ela precisou parar, deixando-se cair no último assento do jato. Ela implorou para a primeira pessoa que veio lhe oferecer os serviços que a deixassem sozinha. Ela não queria nada.
Lena queria apenas que a dor lhe consumisse.
E durante o voo para o lar que já esquecera um lar para quem já se tornara uma sem-teto, ela se permitiu.
— Lena! Você conseguiu!
Ela se escorou contra a porta que acabara de fechar.
— Lex.
Lena se virou, e ali estava ele, indo na sua direção com os olhos cheios de lágrimas, para abraçá-la com toda a força.
Ela se estremeceu, sua mente exausta incapaz de perceber a realidade de sua presença, ali, tão cedo. Como...?
Ela deve ter expressado seu espanto. Ele se afastou seus olhos ávidos pela irmã, tão parecidos com os dela.
— Como você conseguiu? Ray me disse que você estava tentando me libertar, mas eu nem me permiti ter esperanças de que você conseguiria.
Ela quase disse: "eu vendi minha alma para o diabo para libertar você". Mas aquilo não estava certo. Ela entregara a alma para o diabo por livre e espontânea vontade. E não pedira nada em troca. A liberdade de Lex não fora o preço da sua alma, só apenas mais um fio de uma intrincada e indetectável rede de manipulação.
Ainda assim, vê-lo ali, livre, valia qualquer coisa.
Porém, Lena não conseguia suportar mais nenhum tormento ou contato, mesmo com o irmão que sempre fora praticamente uma extensão física dela. Cada nervo de seu corpo estava exposto.
Ela se afastou, encolhendo os ombros.
— Não importa o que eu fiz. O que importa é que você esta livre, e inocentado.
— Como você pode dizer isso? Preciso saber se você se meteu em problemas por minha causa.
— O importante é que você está livre, e pode continuar com sua vida.
— Oh, Rao, você fez algo terrível, não fez? — Ele segurou os ombros dela, a agitação fazendo seu delgado corpo tremer. — O que quer tenha feito, desfaça. Voltarei para a prisão, e cumprirei o resto de minha sentença.
— Não se preocupe Lex. Vou cuidar de tudo.
Mas a mentira devia estar evidente no rosto dela. As lágrimas de Lex fluíram por suas faces trêmulas.
— Por favor, Lena, desfaça o que fez. Não vale a pena.
— Claro que vale. Você é meu irmão, meu gêmeo. E o mais importante: você é inocente.
— Mas eu não sou.
Lena achara que tinha esgotado seu estoque de perplexidade, que tudo o que restava dentro de si era um oceano de pesar e agonia.
Ela encarou Lex, a negação ainda tentando repelir a verdade. As próximas palavras de Lex terminaram a luta.
— E-eu cometi todos os crimes pelos quais fui sentenciado. Descobri as contas que eu invadi quando Eve me pediu para consertar seu computador. Ela era uma boa amiga, e eu inventei tudo aquilo sobre nós para que você tivesse uma história na qual acreditar e simpatizar. Eu desviei milhões, e vendi dezenas de segredos vitais. Fiz muito mais do que as coisas que eles descobriram. Mas eu não podia admitir isso a você. Em parte por vergonha, em parte pela necessidade de tê-la ao meu lado me ajudando a sair deste pesadelo. Eu temia que se você soubesse que eu merecia pagar por tudo o que fiz; seu senso de honra a impediria de tentar. Mas eu não me importo mais. Vou voltar para a prisão, para que não pague mais pela liberdade que eu não mereço. Só espero que um dia você possa me perdoar.
Lena apenas o encarou. Aquilo era muito para ela suportar.
Era tudo uma mentira.
A mulher e o homem que ela amara mais do que a própria vida usaram e exploraram seu amor incondicional por eles.
Ela se soltou das mãos suplicantes de Lex.
Ele chorou enquanto Lena cambaleou para longe. Antes de chegar ao seu quarto para se esconder do mundo para sempre, ela voltou-se para ele, entorpecida:
— Só não se meta mais em problemas. Não há mais nada em mim para que eu possa ajudá-lo. E o que eu paguei está para sempre perdido.
O coração, a alma, a fé, a vontade de amar.
Tudo se fora.
Parecia que ela era mais complacente do que pensava.
Ao amanhecer, Lena já estava de pé, crepitando com uma necessidade irrefreável de confrontar Kara.
Ela pensou que preferiria morrer a fazer isso. Mas seus sonhos foram repletos de reproduções fiéis de quando estavam juntos. A contradição entre o que ela vivera e as palavras que ouvira eram impressionantes; ela sabia que algo estava errado. Não estivera em condições de perceber isso no dia anterior, tão exausta, tão chocada, tão cheia de notícias ruins, tão inseguras, tão qualquer coisa quando sua mente não estava funcionando muito bem.
Agora Lena era ela mesma novamente. Mais ou menos. E ela iria resolver tudo isso, iria fazer a pergunta que não pudera fazer antes.
Por que Kara dissera aquelas coisas?
Ela acreditava que Kara tinha uma explicação perfeita, e que ainda era a mulher que ela amava, a memória de quem enriqueceria sua vida mesmo se Lena jamais a visse novamente. Era muito melhor do que acreditar que Kara não tinha nenhuma razão além da mais óbvia, e era o monstro que ela não conseguiria viver acreditando que ela era.
Então Lena ligou para ela. Por seis horas seguidas. O telefone dela estava desligado.
Enlouquecendo de frustração, ela voltou ao trabalho. Outras pessoas poderiam se beneficiar de toda essa energia.
Ela estava indo automaticamente para a sala dos médicos quando, ao se aproximar, sentiu... Algo.
Lena balançou a cabeça. Pare de sonhar, Lutessa. O que "aquilo" estaria fazendo aqui?
Ela endireitou os ombros, aprontando-se para enfrentar a tempestade de perguntas sobre sua ausência de um mês.
A... Premonição se intensificava a cada passo. A atração tornou-se irresistível. Ela sabia que se sentiria a pessoa mais estúpida da galáxia quando visse que tudo era coisa da sua cabeça, mas não se importava. Ela correu.
Lena irrompeu na sala.
E ali estava ela.
Kara.
Ela não imaginara nada. Ela a sentira.
O que significava que seu instinto era infalível.
O que significava que ela poderia finalmente ter de volta a mulher que amava.
Kara sempre parecera incrível. Mas ali, cercada por coisas mundanas e pessoas do dia a dia, parecia inequivocamente divina. A potência do orgulho ancestral e do poder que emanavam dela á permeava.
Kara esperou que ela entrasse e tivesse consciência dela ali antes de levantar-se lentamente.
Ela imaginou-se correndo, jogando-o contra a mesa e perdendo a cabeça. Uma mente que transbordava de imagens e sensações, de vontade de arrancar suas roupas enquanto as mãos mágicas de Kara arrancavam as dela, antes de erguê-la e colocá-la sobre si, e então...
Lena foi seduzida pelo poder da fantasia. Parecia que Kara a transmitia diretamente para seu cérebro.
Mas eram os olhos de Kara que a paralisavam. Os de um tigre. Crepitando com uma abrasadora... Raiva? Dor? Ambas?
Uma coisa era inconfundível. Um lancinante desafio.
JAQUEJOR MUITO OBG PELOS COMENTÁRIOS, EU SIMPLESMENTE AMO DEMAIS!!!
TENSO GALERA, TENSO........ SÓ QUERO AVISAR Q O PRÓXIMO CAPÍTULO JÁ VAI SER O ÚLTIMO....
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Como provocar uma princesa
FanfictionA princesa Kara Zor-El resgatou Lena Luthor, então refém da tribo rival de sua família, carregando-a em seus braços fortes. Porém, logo descobriu que havia muito mais do que imaginava por trás daquela beleza selvagem. Lena guardava uma importante in...