Capítulo 20

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Uma série de erupções reverberou pelos ossos de Lena.

Ela teria instintivamente se escondido se os braços de Kara não estivessem ao redor de seus ombros.

Kara a reconfortou, rindo em seu ouvido.

— Não, isso não é um pelotão de fuzilamento.

Engolindo de volta o coração, ela deixou que Kara as guiasse por meio da multidão, ainda sem saber para onde estava indo.

— Uma saudação a tiros a princesa guardiã de Krypton, então?

O sorriso de Kara se abriu ainda mais.

— É assim que eles anunciam o começo das festividades.

— Com um ataque cardíaco? - Lena perguntou

Kara jogou sua magnífica cabeça para trás e riu.

— A agitação extra é em honra à sua recuperação e sua ilustre presença no jantar desta noite.

Lena sorriu de volta, seu coração acelerado de felicidade e antecipação. Mas, principalmente, pela presença dela

Há três dias ela estava de pé, totalmente recuperada. Mas o que a tranquilizava era a condição do ferimento de Kara. As suturas que ela fizera foram muito eficientes. E permaneceram quase intactas, precisando apenas de alguns ajustes. A cicatrização fora espetacular. Ela não sabia que seres humanos conseguiam se recuperar tão depressa. Lena a provocava dizendo que deveria haver mutantes ou deuses locais na família dela. O que não a surpreenderia.

E, durante a recuperação, elas ficavam na cabana ou no jardim, com o povo do oásis vindo periodicamente para verificar suas necessidades. Lena não quisera sair e conhecer o lugar.

Ela estava com Kara

E sabia agora que os laços de harmonia e suficiência que elas formaram no deserto não foram causados pela crise. Nem pelo isolamento ou o desespero. Tudo se originara por suas próprias escolhas, suas inclinações, seus anseios, criando um circuito fechado entre elas de sinergia e afinidade.

Estar com Kara era suficiente.

Hoje seria a primeira noite em que elas se juntariam no povo do oásis. Lena estava muito agradecida pela hospitalidade deles. Mas, antes, ela se sentira envergonhada, também.

A mulher e as filhas do ancião da aldeia lhe trouxeram um traje excepcionalmente intricado e estonteantemente vivo para que ela usasse no banquete. Kara ficara ao seu lado traduzindo a felicidade delas pela recuperação de Lena, e elas a comeram com os olhos. Lena quis se juntar a elas e comentar o quão perfeita Kara era. Mas foi só quando os olhos delas se voltaram para Lena cheios de inveja que ela percebeu. Elas deviam pensar que ela e Kara eram... Íntimas. E certamente não era por causa da consideração e do respeito de Kara

Como não era de deixar dúvidas no ar, ela perguntou. A situação delas estava comprometendo-a, uma príncesa em um reino ultraconservador? Agora que Kara não precisava estar ao lado dela o tempo todo, ela não poderia se mudar para outro lugar até que a irmã de Kara chegasse?

Kara respondeu que o povo do oásis seguia regras próprias. Ligados à natureza, eles viviam fora do alcance de normas ou de interesses materiais e não policiavam a moral e a conduta dos outros, deixando a vida tomar seu curso. Mas, mesmo que eles se importassem, ela não ligava para o que o mundo pensava. Kara se importava apenas com o que Lena queria. Ela queria se mudar?

O coração de Lena se acelerou novamente. Kara fora muito intensa e ainda assim indulgente por não dar como certo que ela não queria. E ela não queria. Lena mal conseguia pensar no quão rápido se aproximava o dia que ela teria de se afastar da órbita dela, retornando para uma vida sem Kara

Como provocar uma princesa Onde histórias criam vida. Descubra agora