Capítulo 6

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Quem era ela?

Lena abriu a boca para perguntar, quando um daqueles dedos que ela apostava que poderiam dobrar o aço pousou em sua face. A delicadeza de seu toque quase pulverizou seu já precário autocontrole. Lágrimas formaram-se atrás dos olhos dela. Lena as engoliu quietas.

Foi Kara que fez a pergunta:

— Você não estava exagerando quando disse que já havia tratado ferimentos de bala antes. Quem é você?

Suas mãos se interromperam antes de iniciar o procedimento.
O recente contato fez ela ficar muito surpresa

— Seus país devem ser aplaudidos, acho que nunca vi alguém com tamanha beleza e delicadeza

Lena lançou-lhe um olhar furioso.

— Eu não sou delicada!

— Oh, você é sim, incrivelmente. — O sorriso de Kara era pura indulgência.

Lena estreitou os olhos.

— Como está seu queixo?

Algo quente e prazeroso retumbou de dentro do peito de Kara, reverberando nos ossos dela como uma linha de baixo feita de desejo, não de sons.

— Meu queixo sempre se lembrará do encontro com seu punho. Mas guarde as garras. A delicadeza não equivale à fragilidade no seu caso, mas sim à elegância, sensualidade, e á mais pura desenvoltura. É isso que você é. Um exterior de ouro maciço, recheado de puro deleite ao redor de um âmago de aço.

— Tem certeza de que não bateu a cabeça? Ou você é sempre assim, tão poética? - lena perguntou

— Sou exatamente o oposto. As mulheres dizem que sou sovina com as palavras. Jamais digo o que não preciso. O que não esteja sentindo. Não é por acaso que fui escolhida para as leis, e não para a diplomacia - Kara falou

— Então, dentre a multidão de mulheres que passou por sua vida, eu fui á única que, depois de uma missão de resgate, despertou a poeta dentro de você?

— Perfeitamente.

De repente Kara virou-se e deitou de costas, pousando a cabeça no colo de Lena

— Aqui é o único lugar aonde vou me deitar.

Lena engoliu em seco, encarando aqueles olhos de ponta cabeça e reprimindo a ânsia de acariciar-lhe o rosto, de enterrar os dedos naquela cabeleira espalhada sob seu colo e, inacreditavelmente, de inclinar-se e beijar aquela testa antes, de começar e espetá-la com agulhas e cortá-la com o bisturi.

Antes que Lena sucumbisse a algum desses anseios ridículos. Kara pôs a bandeja que Lena preparara no chão e virou-se de lado para dar-lhe melhor visibilidade do ferimento.

Lena quase engasgou quando Kara olhou por cima do ombro e murmurou:

— Esta é a melhor posição para entregar-lhe os instrumentos.

Lena balançou a cabeça e pigarreou, esperando expulsar qualquer distração.

E voltou a examinar o ferimento.

Kara olhou para o enigma em forma de mulher que salvara. E que, em troca, estava salvando-a

Kara segurava a lanterna para Lena. E enquanto Lena injetava-lhe um anestésico local, Kara a examinava. Ela era muito mais que linda. Única. Mágica. Lena pigarreou novamente, o que Kara percebera que ela fazia quando tentava se recompor. E Kara tinha certeza de que isso não tinha nada a ver com a parte médica da situação.

— Ok. A bala passou sem atingir seus músculos. Ela acertou a ponta de sua escapula, raspando em três costelas. Nenhum tendão ou nervo foi rompido. Há uma lesão muscular no ponto de entrada da bala, e ao sair pela frente ela causou um ferimento de um centímetro na sua pele. Mas o sangramento é o pior, já que muitas artérias estão fora de alcance. Vou ter de ampliar e aprofundar o ferimento para alcançar e cauterizá-las, e para uma futura drenagem. Vou colocar suturas profundas para reparar os tecidos mais lesionados, e deixarei o ferimento aberto para drenagem. Vou suturá-lo depois, quando o inchaço diminuir, para que não haja nenhuma infecção.

Cada minuto trazia novas sensações. Não eram apenas sensações físicas por sentir suas coxas firmes e quentes sobre a cabeça, ou por respirar sua essência sensual e intoxicante. Kara nunca sentira tamanha sinergia, mesmo trabalhando com sua irmã ou seus amigos. Kara nunca deixara ninguém responsável por nada enquanto estivesse por perto, menos ainda por seu próprio bem-estar físico. Kara nunca desejara uma mulher tão intensamente, muito menos enquanto respeitava e dependia das capacidades dela, querendo mimá-la e protegê-la com a própria vida.

Isso era real ou tudo estava sendo amplificado pelas circunstâncias, combinado com a perda de sangue, a sobrevivência e a gratidão?

Isso era real. Pelo jeito que o olhar e as mãos de Lena a acariciavam, como se pedissem desculpas pela necessidade de machucá-la, pelo jeito que seus lábios tremiam a cada leve indicação de desconforto de Kara, ela sabia.

Era real para Lena também.

Não importava quem elas eram, ou como e quando se conheceram. O tempo que haviam passado juntas como o de uma vida e os eventos e sentimentos que compartilharam significavam que elas podiam pular a maioria das etapas de desenvolvimento da atração.

Lena terminou os procedimentos e Kara se sentou, ajudando-a a envolver seu torso com bandagens. Quando Lena começou a se afastar, Kara não pôde suportar. Sua mão prendeu-se no cabelo dela, tentando aproximá-la. Ela tentou se afastar.

Após um longo instante, Kara retirou a mão, sussurrando:

— Você está com medo de mim?

— Não. — O alívio a inundou ao ouvir a negativa veemente. Então Lena sorriu timidamente, elevando sua beleza a níveis estratosféricos. — O que pode ser a coisa mais estúpida que eu já senti, considerando que estou no meio do nada com uma brutamonte, em uma terra onde não conheço ninguém. Mas, enfim não estou com medo de você. Nem por um segundo. É exatamente o oposto.

Kara estava certa. Lena sentia o mesmo por ela.

Outra ânsia desconhecida a dominou: o desejo de provocá-la.

— Isso é mentira. Você teve tanto medo de mim por alguns segundos que você quase me deixou permanentemente incapacitada!

— Isso foi antes de ver o seu rosto, ouvir a sua voz. Antes disso você era... Uma grandalhona camuflada que viera me reivindicar.

— Você está certa sobre a parte da reivindicação. — Kara passou um braço ao redor da cintura de Lena, trazendo-a para si. — Então, vai-me dizer onde aprendeu a realizar cirurgias?

— Na faculdade de medicina, onde mais?

— Quer dizer que você é médica?

— Até onde eu sei, é o que se forma em uma faculdade de medicina.

— Então tudo o que eu achava que sabia sobre você era falso, do seu gênero até sua profissão. Tem mais alguma surpresa?

Um sorriso estremeceu em seus lábios pálidos.

— E por que haveria?

A ânsia de capturar seus lábios e trazê-los de volta à vida cresceu dentro de si, quase o levando à ação.

— Por nada, ya shafeyati.

— O que isso quer dizer?

— Minha salvadora. Em árabe, eu conheço outras línguas também

- eu também conheço outras línguas - Lena implicou - como Kryptoniano

- sério? Então me diga algo

- El Mayarah - Lena falou enquanto encara aquela imensidão azul

- juntos somos mais fortes...

- sim, juntos somos mais fortes...

Ela repetiu a palavra, e sua voz, mesmo quando ela tentou disfarçar, penetrou em Kara como um afrodisíaco intravenoso, parecendo afagar-lhe o interior, fundindo-se em cada célula.

Como provocar uma princesa Onde histórias criam vida. Descubra agora