Capítulo 19

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O calor aumentou quando ela imaginou Kara a despindo e a vestindo. Seus pensamentos a queimaram quando elas se desviaram para uma vivida e languida encenação dela despindo-a novamente... E, para piorar, Kara se aproximava ainda mais.

— Então... P-por quanto tempo eu fiquei inconsciente?

Kara olhou para o relógio antes de fitá-la novamente, seus olhos perdendo a frieza.

— Cinquenta horas e 42 minutos.

— Uau! — exclamou ela, sua voz recuperando a força e a clareza. — É um tempo bom para se recuperar de uma combinação de desidratação e insolação. Que bom que eu sou durona, não?

Os olhos de Kara se exaltaram, intensificando sua vivacidade e beleza.

— Você é mesmo, além de ser uma gota de orvalho indestrutível. E meu bem, graças a Rao por isso.

— E o que você ficou fazendo enquanto eu dormia?

Os lábios de Kara se contorceram, a malícia que ela conhecia e adorava se reacendendo nos olhos dela

— Eu cuidei de você, enviei emissários para meus irmãos, depois cuidei mais um pouco você. E então, oh, eu cuidei de você.

— Você chegou a cuidar de si mesma? Você dormiu?

Kara lançou-lhe um olhar de remorso fingido.

— Não intencionalmente, posso garantir.

Ela agora via a tensão e a exaustão atravessando seu rosto com linhas que não estiveram lá, mesmo em seus piores momentos. Seu coração se apertou mesmo ao demonstrar sua gratidão e admiração.

— Oh, Kara, você é uma protetora incurável. — Lena acariciou o antebraço dela, seus sorrisos se contundindo. E então se sobressaltou. — E o ferimento? Alguém o examinou? Como ele está?

— Ah... Tenho boas e más notícias.

Os olhos de Lena a analisaram fervorosamente. Não. O que quer que fosse não era algo terrível. Além da evidente fadiga, ela parecia estar bem.

— Mande as ruins.

Kara fingiu uma expressão grave.

— Suas suturas eram muito boas.

— No pretérito? — ela gritou. — Você as abriu!

Kara assentiu, erguendo as mãos.

— Mas a boa notícia é que não havia sinal de infecção. Veja. — Ela levantou o braço esquerdo facilmente e sem sinal de desconforto. — Além disso, o povo do oásis recuperou nosso kit médico, então você pode me costurar novamente.

— Pode apostar que eu vou! — Lena estava aliviada. Seus olhos se desprenderam de Kara pela primeira vez, e observaram o quarto. Ela conseguia ver o resto do lugar pela porta aberta atrás dela — Este lugar é incrível.

— É um lugar muito especial — Kara concordou. — Era a habitação do antigo ancião do oásis. Ele morreu há dois anos. As casas dos anciões permanecem inabitadas, como tributo a suas vidas e à liderança. É uma honra podermos ficar aqui durante nossa estadia.

O sorriso dela tremeu novamente.

— Só o melhor para a princesa de krypton.

Kara balançou a cabeça, seus olhos aquecendo-a.

— Não é bem assim. Qualquer sobrevivente que eles resgatem do deserto receberá o mesmo tratamento. Também tenho uma relação com o povo daqui que não tem nada a ver com o fato de eu ser uma princesa. Não tenho certeza se eles consideram a Casa de El como a família real, mas, se consideram, não ligam muito para isso.

— Por que não?

— O oásis e o seu povo estão fora dos limites do mundo do qual eles são independentes. Eles são... Reverenciados pelo resto de Krypton e por toda a região, quase temidos como uma nação mística que sempre existirá fora do tempo e da realidade.

Ela digeriu as informações, a sensação de estar em outro mundo se intensificando.

— Uma nação? Há quantos deles?

— Cerca de trinta mil. E a recusa deles em se juntar ao mundo moderno os torna únicos. A singularidade é um poder que independe de quantidade.

— Não se eles não tiverem os meios modernos de se defender contra intrusos.

O rosto de Kara tornou-se sério.

— Não haverá intrusos. Não sob os cuidados da Casa de El. Não sob os meus cuidados.

Ela acreditava em Kara. Aquela cavaleira cuja honra a impelia a proteger os indefesos contra os agressores do mundo.

De repente, Lena sentiu como se fosse sufocar se não a tivesse, junto ao seu corpo.

Ela ergueu os braços trêmulos.

— E aí, não recebo as boas-vindas ao voltar para a realidade? — A enormidade da demora por pensar que ela perdera a chance de tê-la novamente fazia com que as mãos de Lena tremessem conforme elas percorriam as costas de Kara. Seus dedos acariciavam a vitalidade dela, memorizando cada detalhe tátil, sentindo-a integrar-se às percepções e sentidos dela.

Os lábios dela procuraram hesitantemente os de Kara, sua língua lambendo-os timidamente, ainda não acreditando na realidade daquela experiência, daquela textura e gosto.

Um estrondo ressoou na boca de Lena, atingindo seu coração conforme elevava sua excitação a níveis dolorosos com uma autêntica paixão.

Então, Kara se afastou daqueles braços trêmulos.

Lena não tinha mais forças para trazê-la de volta. E nenhum direito, se ela não queria mais estar ali.

Kara se endireitou, interrompendo aquela conexão. E então se levantou da cama.

Ela parou diante de Lena, seus olhos pesados escurecendo sua expressão pela primeira vez desde... Sempre.

Kara então mergulhou as mãos nos cabelos e suspirou.

— Você pode estar acordada, mas ainda não está totalmente recuperada. Ainda está frágil. — Kara ergueu e soltou os ombros, suspirando novamente. — Precisamos deixar você em forma de novo.

Era por isso que ela tinha se afastado? Ela á queria totalmente recuperada física e mentalmente, antes de considerar alterar o status entre elas?

Não fazia sentido. Mas á deixava ainda mais agradecida, se é que fosse possível.

Lena era um caldeirão de emoções e necessidades fervilhantes naquele momento, e não tinha controle sobre eles. E ela precisava saber se aquilo que sentia derretendo sua resistência era a exaustão, os dias de proximidade inseparável e total dependência, ou se aqueles sentimentos se originavam dela.

Agora que o estresse e o perigo haviam terminado, a atração física e emocional continuaria tão avassaladora? Kara continuaria sendo a mesma mulher que fizera de tudo para mantê-las confiantes? Ela cismara que Kara havia exagerado sua atração por ela por muito motivos. Sobrevivência, compensando aquele início turbulento. E por motivos não muito nobres: alcançar seu objetivo o segredo que salvaria o trono e sua família.

Diversas coisas pairavam como uma nuvem escondendo o sol. A situação de Lena, o papel da Casa de El e o perigo atual deles, as informações que ela descobrira o dever de Kara como guardiã de sua família e de seu povo.

Ela fizera a coisa certa ao se afastar. Lena seguiria os planos de Kara, e recuperaria sua saúde e a clareza. Até descobrir o que era real. Ou até que esse problema esse conjunto de problemas fosse resolvido. Se fosse possível.

Como provocar uma princesa Onde histórias criam vida. Descubra agora