Hannah
Segunda-feira de manhã minha cabeça está a ponto de explodir. Todos os ruídos da casa estão me irritando. Desde o som do despertador, até o barulho do secador da Rebecca. Os sinais de ressaca estão estampados na minha cara, e eu não tive paciência para me maquiar.
Da cozinha, Rebecca está me encarando atentamente enquanto monta seu prato de café da manhã, posso até imaginar as milhares de hipóteses que podem estar rondando sua cabeça. Mas sei que nenhuma delas chega perto de desvendar o que realmente aconteceu. Damon era o meu segredo, e eu não dividi a nossa história com mais ninguém.
Apertei os dedos em volta da minha xícara de café, trocando os canais da televisão em busca de algo interessante, mas não há nada de bom hoje.
— Tá legal, o que aconteceu? — Rebecca perguntou, arrancando o controle da minha mão. — Você está quase arrancando os botões do controle, nós precisamos dele, caso você não saiba.
— Dá pra mudar de canal pelos botões de televisão.
— Ah, sim, e eu vou te fazer levantar com um chute na bunda toda vez que eu quiser mudar de canal — ela rosnou, deixando sua xícara de lado. — Você está péssima, Hannah. Fale o que aconteceu ou eu não vou te deixar em paz.
— O que aconteceu foi uma festa em pleno domingo, na droga dessa casa. Domingo. Pensei que nosso combinado fosse apenas sexta ou sábado. Eu não gosto de ter que suportar o James em pleno domingo.
— Eu estou escutando — James gritou direto da cozinha, vi ele inclinar o rosto e mandar um beijo para mim.
— Sim, é pra escutar, seu idiota. Você não tem casa? — resmunguei, arremessando uma almofada em sua direção, mas nem chegou perto de acertá-lo. — Eu odeio ele Beck, e odeio desconhecidos nessa casa.
— Certo, foi mal. Nada de festas no domingo — ela suspirou, e parecia se sentir culpada por quebrar o nosso acordo. — O Will fez aquele biquinho e eu não soube dizer não.
— Se não sabe lidar com o biquinho dele, então aprenda a lidar com esse semblante aqui. — eu disse, apontando para o meu rosto mal humorado.
— Ah, qual é? O que eu posso fazer pra te deixar menos mal humorada, hein? — Beck perguntou, enchendo meu rosto de beijinhos.
Parte de mim se acalmou. Droga, eu preciso mesmo de carinho. E de um abraço, e de conselhos. Preciso de alguém para desabafar e me entender. Mas, como? Escondi essa merda por anos, não posso simplesmente jogar em Beck a história inteira e pedir ajuda.
Além disso, é meio... Bizarro. É, eu sei. Tenho consciência. Minha mãe casou com Gregg quando eu tinha 10 anos. Damon tinha 14 e morava com sua mãe no Canadá. 4 anos depois sua mãe morreu, e ele foi morar com Gregg. Fui o seu porto seguro, e ele foi o meu.
— Acho que você poderia me emprestar o seu carro no final da tarde — sugeri. — Preciso resolver algumas coisas.
— Pode ficar com ele o dia inteiro — Beck disse, me entregando as chaves. — Vou dormir na casa do Will hoje.
Agradeci, pegando as chaves. Fiquei aliviada por Beck não perguntar aonde eu iria, seria difícil explicar a minha motivação para dirigir até Nova Hampshire. Logo eu, que odeio dirigir. E ela sabe que a única pessoa que conheço por lá é Damon, que se mudou no começo do ano para cuidar dos hotéis da família.
Saí de casa sem me despedir dos garotos, porque isso implicaria em falar com James, e preciso poupar minha energia para mais tarde.
Cheguei na Hayward quase meia hora antes da minha aula de Filosofia Contemporânea. Max estava na porta, segurando dois copos de chocolate quente e esperando por mim. Será que os caras falaram que eu perguntei por ele ontem?
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Duas verdades, uma mentira
RomanceHannah e James vivem em pé de guerra desde a adolescência, depois de um desentendimento que a fez acreditar que o único propósito dele era humilha-la. Entre brigas, provocações e xingamentos, os dois tentam a todo custo ignorar as sensações que um d...