Capítulo 3: "Por que não correu?"

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Newt

Estou no mesmo corredor de sempre. A garota está lá. Longe demais para que eu consiga tocá-la, mas perto o suficiente para que eu veja a manchinha azul em seu olho.

Começo o ciclo infinito de tentar correr até ela, sem conseguir alcançá-la. Faço isso pelo que parece ser uma eternidade, até ser atingido pela sensação familiar de mãos me puxando para ainda mais longe dela. Continuo a lutar, tentando chegar até a garota.

Espero que os guardas apareçam e a levem na direção oposta, como havia ocorrido no meu sonho acordado, mas eles não vêm. Ao invés disso, ela continua parada me olhando ser levado embora.

- Você devia ter corrido. Por que não correu? - dessa vez, ela sussurra ao invés de gritar - Eu não consigo ir, Newt. Eu não posso. Não ainda.

Lágrimas se acumulam nos meus olhos. Tudo que eu quero é ir até ela e abraçá-la. Se ela não pode ir, então eu não vou.

Continuo a lutar contra a força que me puxa pra trás, até que ela some. Finalmente livre, tento ir até a garota, mas meu corpo não obedece e permaneço parado a alguns passos dela.

A garota então indica o corredor, apontando para as portas, como se me pedisse para prestar atenção ao local. Uma pontada de familiaridade me atinge, mas não sei que lugar esse corredor me lembra.

- Você precisa se lembrar - ela sussurra - Se lembre, Newt. Se lembre de mim.

Abro os olhos tranquilamente, mesmo que o sonho tenha se interrompido de maneira abrupta. Por alguns segundos, encaro o teto ao meu redor e tento raciocinar.

Os sonhos com a garota no corredor começaram em algum momento dentro da Clareira. Ninguém sabia que eu os tinha porque parecia estranho demais comentar.

Quando Tereza apareceu na Caixa e eu percebi que tínhamos recebido a primeira e única garota da nossa Clareira, por alguns segundos pensei que pudesse ser ela, a minha garota. Mas essa esperança logo se esvaiu assim que vi seu rosto. Eu podia não saber quem a garota era, mas conhecia o seu rosto muito bem.

Por anos, tudo o que eu sonhava era com nós dois em pontos opostos do corredor e então uma força me afastando para longe. Ela nunca havia dito nada. Até que, nas duas últimas noites, eu descobri que precisávamos correr para algum lugar mas ela não conseguia ir. E, se ela não podia ir, aparentemente eu não iria também. Por quê?

Abaixo de mim, ouvi os meninos começarem a acordar e isso afastou meu pensamento dos sonhos. Aos poucos, levantamos e nos preparamos para o que quer que viesse a seguir. O medo e o receio da noite anterior haviam se dissipado ligeiramente, depois das horas de sono que tanto precisávamos.

Apenas Thomas parecia tão preocupado quanto antes. Me aproximei dele, que estava sentado em sua cama, e me sentei ao seu lado.

- E aí, cara? - perguntei - Não conseguiu dormir?

Thomas estava com os braços apoiados nas pernas, as mãos cruzadas encostadas na testa.

- Tem algo de errado - ele disse após um tempo.

- Como assim?

- Ontem a noite, eu... - Tommy parecia ter dificuldade em encontrar as palavras para o que quer que fosse que ele queria dizer - Escuta, eu dei uma olhada por aí e, eu não sei exatamente o que eu vi, mas as coisas não são o que parecem ser.

- Do que você tá falando, cara? - perguntou Caçarola se aproximando.

- Deu uma olhada como? - foi a vez de Winston questionar - A porta tá trancada.

The Maze Runner: Love Trials [1]Onde histórias criam vida. Descubra agora